Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capitulo 23 - O colégio


Terminado as explicações à policia, meu amigo e eu seguimos para sua casa esconderijo. O caso estava resolvido e era hora de decidirmos o que faríamos com as crianças.
Enquanto as meninas brincavam na sala, levamos Lana até o escritório.
- Até que enfim vamos poder nos livrar das "criaturas". Vou usar de minha influência para colocar Ivy em um colégio interno. Na idade em que ela está e por já ter um histórico de assaltante de rua, não ira conseguir coisa melhor. Já a trouxinha, vamos entregar para adoção. - sugeriu Holmes.
Lana surpreendeu-se com a frieza de Holmes, mas era óbvio que ele estava apenas nos provocando.
- E acha mesmo que vou permitir uma coisa dessas? Como pode pensar em separar as duas irmãs? - retrucou furiosa.
Já era esperado que Lana quisesse ficar com as meninas; era visível seu apego ao bebê.
Eu fiquei feliz por "minhas pequenas" estarem em tão boas mãos e Holmes disfarçou um sorriso de contentamento. Agora que Lana tinha duas crianças para cuidar, não teria tanto tempo para lhe perseguir.
Lana levantou-se brava e pronta para se retirar, quando meu amigo, em um tom sério, chamou-lhe a atenção.
- Sente-se Senhora! Se pretende ficar com as meninas, é preciso que saiba de algo muito importante sobre a mais velha.
Lana voltou-se para o sofá emburrada.
Entendi que era preciso contar-lhe toda a verdade sobre Ivy. Lana compreenderia o porquê do comportamento triste e revoltado da menina.
- Lana, o que vamos lhe revelar é algo muito delicado. - tentei, constrangido, começar o assunto.
- A menina sofreu abuso. - interrompeu-me Holmes, com a sua costumeira mania de revelar coisas, sem se importar com choque que causará nas pessoas.
- Sofreu o quê? - assustou-se Lana.
- Exatamente o que senhora entendeu! E o monstro foi o próprio pai. - continuou meu amigo, sem nenhuma delicadeza.
Olhei para ele o recriminando por ser tão rude.
A senhora parecia ter ficado atordoada. Sentei-me ao seu lado e segurei-lhe as mãos.
- Lana, eu sei o quanto é horrível descobrir que isso aconteceu a uma criança. Todos nós teremos que ter muita paciência com Ivy. - disse-lhe, diante de sua expressão de choro.
Holmes levantou-se indiferente e foi até o seu cofre, de onde pegou um de seus saquinhos de diamantes.
- O que vai fazer? - estranhei.
- Eu prometi ao filhote de aye aye que lhe daria uma boa recompensa quando ela não me servisse mais. - lembrou-me.
- Vai dar uma fortuna nas mãos de uma criança? - novamente o repreendi.
- Você e suas deduções brilhantes, Watson. - respondeu-me sem paciência, saindo para sala.
Lana finalmente conseguiu se recuperar do susto.
- Doutor, Ivy parece não gostar de mim. Acho que ela tem ciúmes da irmã. Será que ela me aceitará como mãe? E será que permitirão que eu fique com as meninas, sendo uma viúva?
- Vou conversar com Ivy e tenho certeza que ela aceitará. Quanto a adoção, bem, Holmes e Mycroft conseguem qualquer coisa que quiserem nesta cidade. - tranquilizei-a.
 Após o jantar, antes de levarmos as crianças para a casa de Lana, levei Ivy para um passeio no jardim da mansão.
Foi uma longa conversa com a menina, mas consegui convencê-la a aceitar Lana como sua responsável e a desistir de fugir para viver nas ruas. A menina era muito esperta e sabia que era o melhor para sua irmã mais nova.
Ivy também me entregou os diamantes que havia ganho de  Holmes, pedindo-me que os guardasse. Sua atitude me foi um sinal de que eu finalmente havia conquistado sua confiança e do quanto ela era inteligente, apesar da pouca idade. Uma criança qualquer faria loucuras com toda aquela fortuna.
No dia seguinte, Gregson nos contou que os Senhores Roy e Armim ficaram chocados ao saberem, pelos policiais, sobre a Senhorita Riley e o Senhor Creel, e mais ainda, preocupados com a repercussão negativa em seus negócios. 
Ter o nome de sua empresa ligado a assassinatos, lhes traria sério prejuízo, por isso, ambos iriam passar um tempo na Turquia, com suas famílias, fugindo da imprensa.
Holmes e eu fomos ao necrotério, para saber sobre o corpo da falsa Senhorita Riley. O mesmo ainda estava lá, uma vez que ninguém apareceu para reclamar. A tia já estava condenada e presa.
Meu amigo acabou pagando todos os custos, dando um enterro digno à senhorita, em cujo velório compareceram apenas Holmes, eu e um padre.
O Senhor Creel, mesmo sendo muito rico, também não tinha família, e acabou sendo enterrado como indigente. Nem eu, nem Holmes, nos preocupamos com o enterro do homem que quase cortou a cabeça do meu melhor amigo.
Passados alguns dias, meu amigo e eu visitamos Mycroft, para saber de Alice.

Após relatarmos toda a aventura do caso dos "sem cabeças" a Mycroft, que perdeu a cor na parte em que Holmes quase perdeu a cabeça, o irmão fez questão de nos levar ao convento, onde Alice havia sido aceita.
Holmes e eu achamos divertido reencontrarmos a ex-prostituta como freira.
Alice, vestida de noviça, nos recebeu na recepção do convento, acompanhado por uma madre risonha.
- Senhor Holmes, Doutor Watson e Senhor Mycroft, que bom que vieram! Eu queria muito agradecê-los.
Holmes tomou as mãos da ex-prostituta, beijando-as.
- Somos nós que viemos lhe agradecer. Sua coragem e lealdade nos salvaram de um grande perigo.
- O senhor foi um anjo em minha vida. – disse ela a Holmes.
- Holmes, um anjo! - não pude deixar de exclamar e rir com irônia.
Mycroft também segurou o riso e meu amigo meu olhou convencido, porém, também achando graça no comentário absurdo.
Aproximei-me da jovem noviça, também beijando-lhe a mão.
- Que bom vê-la realizando seu sonho, Alice. Você merece estar aqui e merece ser feliz. Obrigado por nos salvar.
- Vocês também me salvaram Doutor. – agradeceu-me.
A madre se mostrou impressionada por tratarmos Alice com tanto carinho e respeito. Isso certamente contaria pontos para ela lá dentro.
Saímos do convento e seguimos os três para uma missão importante. Lana havia pedido nossa ajuda para matricular Ivy em um renomado colégio para meninas. A Senhora Reece sabia que teria problemas, uma vez não ser a mãe biológica da menina.
Ao chegarmos ao portão, nos deparamos com Lana saindo muito brava, trazendo Grace no colo e Ivy pela mão.
- Velhos prepotentes! Quem eles pensam que são? – resmungava alto ela, sem nos ver.
- O que aconteceu Lana? – se aproximou Holmes.
A Senhora pareceu se acalmar com a nossa presença.
- Recusaram Ivy e menosprezaram o meu sobrenome. – respondeu triste.
- Porque a recusaram? – também fiquei bravo.
- Já estava tudo certo para a matricula quando um senhor invadiu a sala do reitor gritando que o pai de Ivy era um assassino e que ele esta preso, e que ela não é digna de estudar aqui. O reitor me expulsou,  dizendo que neste colégio só estudam meninas de famílias ricas e respeitadas, como se eu não fosse rica e meu sobrenome não fosse respeitado nesta cidade. – reclamou Lana.
- Mas que atrevimento! – concordei.
Ivy olhava para o chão, incomodada com a situação.
- Levante a cabeça menina! E nunca mais a abaixe para quem quer que seja! – disse Holmes à Ivy.
A menina o obedeceu, olhando sério para ele.
- Muito bem! Agora venha. – disse ele, pegando a criança pela mão.
Holmes entrou no colégio levando Ivy consigo, seguido por mim, Mycroft e Lana com o bebê nos braços.
O burburinho começou instantaneamente, com crianças e pais parando para nos observar.
- É Sherlock Holmes! – disse alguém admirado.
- Tem certeza? – perguntou outro surpreso.
- Não acredito! Sherlock Holmes está aqui! – continuou alguém mais admirado ainda.
Os olhares eram de surpresa. O assunto na cidade era o caso resolvido dos "sem cabeças" e na incrível força de Holmes que, mesmo preso, conseguiu matar o assassino.
- Aquele ali é o Doutor Watson! – ouvi todo orgulhoso, alguém cochichando no meio da multidão.
O reitor nos encontrou a caminho do gabinete do colégio.
- Senhor Holmes, é uma surpresa e uma honra recebê-lo. O que faz aqui? – estranhou.
- Estou profundamente descontente! Acabei de ser informado de que minha aprendiz foi recusada! – reclamou meu amigo.
- Sua aprendiz? – gaguejou o reitor, olhando para Ivy.
O velho parecia estar constrangido.
- Mas Senhor Holmes, soubemos por fontes seguras que esta menina já viveu nas ruas e pior, seu pai está preso por assassinato. Ela não esta a altura de frequentar nosso colégio. Não podemos permitir que alguém de nível tão inferior conviva com as senhoritas das melhores famílias de Londres. – argumentou o reitor.
Mycroft resolveu intervir.
- Pois eu lhe digo que esqueça o passado desta criança. Já estou cuidando do caso e, muito em breve, está menina terá o sobrenome Reece. E qualquer ultraje a ela será também uma ofensa particular a família Holmes.
Percebendo que o velho não sabia quem era Mycroft, me dispus a apresentá-lo.
- Caso não conheça, senhor reitor, este é o irmão de Sherlock Holmes, Senhor Mycroft Holmes, importante funcionário do governo e amigo pessoal da Rainha.
O reitor arregalou os olhos e se apressou a cumprimentar o irmão.
- Senhor Mycroft Holmes, é um prazer conhecê-lo. Nós jamais nos atreveríamos a cometer qualquer ofensa à sua família. – bajulou.
- Então vai aceitar nossa afilhada neste colégio? – indaguei em tom severo.
Um senhor de longa barba negra, que parecia ser um professor, intrometeu-se em nossa conversa.
- Isto é inaceitável! Os pais das senhoritas que estudam nesta escola não permitirão que suas filhas convivam com esta miserável.
Meu sangue ferveu e senti uma imensa vontade de quebrar-lhe a cara. 
Holmes foi até ele e o observou atentamente.
Do meio da multidão, surgiu um senhor muito encorpado e, apesar de tê-lo visto somente uma única vez, eu o reconheci. Era o Senhor Dustin, o rico farmacêutico que, há alguns atrás, havia sido acusado do assassinato de uma das garotas do bordel.
- Com licença, cavalheiros, mas o professor Grant está equivocado. Como pai de duas alunas deste colégio, faço questão de que minhas filhas sejam colegas e amigas da afilhada do Senhor Holmes. – disse com prepotência.
As filhas do Senhor Dustin que estavam ao seu lado, sorriram para Ivy.
- Eu agradeço Senhor Dustin. – respondeu-lhe Holmes, que também se lembrou dele.
Um outro senhor também resolveu se pronunciar.
- Bem, se a senhorita se trata de uma Reece, acho que não teremos com o que nos preocupar.
Meu amigo andou ao redor do Professor Grant, que o encarava com desprezo. Notei que Mycroft também observava o senhor com o olhar de investigador.
Holmes puxou do casaco claro do professor, um imperceptível fio muito comprido de cabelo loiro. Meu amigo, no mesmo instante, olhou para uma mulher que estava próxima a eles, a qual, pelas vestes, era enfermeira.
A mulher, de longos cabelos claros, ficou vermelha de vergonha, abaixando a cabeça. Sua atitude foi muita suspeita.
O homem assustou-se e Holmes fixou o olhar na aliança que a mulher usava e voltou seus olhos para a aliança que o professor tinha em seu dedo. Elas não faziam um par.
As pessoas que estavam ali não entenderam o que estava se passando, mas eu e Mycroft entendemos perfeitamente. 
Aquele fio de cabelo no casaco do professor poderia ser uma mera casualidade, se não fosse o olhar amedrontado da enfermeira.
Meu amigo suspeitou que ambos fossem amantes e, se fosse verdade, ainda pesaria contra eles o fato de serem adúlteros, já que ambos eram casados, fato comprovado pelas suas alianças diferentes.
Holmes encarou o professor sorrindo.
- O que será que eu posso descobrir sobre sua vida?
O homem, com expressão de raiva, pareceu compreender o perigo.
- Se os pais concordarem, eu não farei nenhuma objeção. – respondeu, mantendo-se arrogante.
- Eu agradeço. – respondeu-lhe Holmes de forma gentil.
- Há algum pai que seja contra? – gritou o reitor, gaguejando.
Houve apenas um burburinho nos apoiando. Na presença de Holmes, quem se atreveria.
- Então, vamos ao meu gabinete matricular a jovem. – convidou-nos o reitor.
Meu amigo se aproximou dos demais professores e se postou elegantemente com sua bengala frente a eles.

- Não quero que haja nenhum privilegio para a minha aprendiz, muito menos que ela seja tratada de forma diferente de qualquer outra aluna. Mas se eu souber que a maltrataram ou cometeram qualquer injustiça contra ela, lhes garanto cavalheiros, não vão me querer como inimigo. – ameaçou educadamente meu amigo.
Enquanto os professores pareciam constragindos, a cara de apaixonada de Lana era impagável.
Após toda confusão resolvida, aproveitei que estávamos no corredor do colégio para conversar com Ivy, me ajoelhando a sua frente.
- Nunca se esqueça de que você sempre poderá contar comigo! Qualquer coisa, é só me chamar. E se você resolver ser médica quando crescer, por mais difícil que seja, eu estarei ao seu lado. – disse-lhe com carinho.
- Obrigada, tio. – sorriu-me graciosamente, enquanto eu me levantava.
- Boa sorte menina. – disse-lhe Mycroft.
- Obrigada, Senhor. – respondeu-lhe com respeito.
Holmes também se ajoelhou em frente a menina e a olhou sério.
- Qual a primeira coisa que deve fazer neste colégio? – perguntou ele.
- Descobrir onde é o laboratório de química e encontrar um jeito seguro de entrar e sair dele sem ser vista. Devo usá-lo toda vez que precisar "melhorar" o chá de alguém. – respondeu-lhe com segurança.
Eu e Lana nos olhamos não gostando nem um pouco da resposta.
- Muito bem! Faça aquela receita que lhe mostrei em meu laboratório e coloque no chá do tal professor Grant. Onde guardou o canivete que eu lhe deu? - continuou meu amigo.
- No bolso do meu casaco. Vou tê-lo sempre comigo. - disse a menina.
- Excelente.  E qual foi a principal lição que lhe ensinei? – prosseguiu Holmes.
- Jamais cometer um crime sem usar luvas, e fazer tudo com calma e atenção para não deixar pistas, principalmente pegadas. – respondeu confiante.
Mycroft mal conseguia disfarçar a vontade de rir, enquanto eu e Lana nos olhamos assustados.
- Qualquer coisa que você precise, seja o que for, é só chamar o Watson. – levantou-se Holmes sorrindo.
A menina riu. Ela sabia que sempre poderia contar com ele também.
Ao voltarmos para o pátio do colégio, Ivy foi cercada por outras meninas que queriam conhecê-la.
Lana alugou os ouvidos de Mycroft contando-lhe sobre todos os apuros que passou em seu sequestro, principalmente a parte em que Holmes e eu a jogamos de um lado para o outro.
- Fui jogada mais que peteca na praia! – reclamou ela, nos olhando com uma certa raiva.
O irmão nitidamente estava se esforçando para não cair na gargalhada.
Holmes parecia alheio a tudo, observando atentamente uma janela do terceiro andar do colégio.
Tentei ver o que estava lhe prendendo a atenção, mas na janela havia apenas uma estranha névoa que parecia formar o corpo de uma mulher.
Pela tristeza no olhar do meu amigo, ele parecia estar vendo algo mais que eu. 
 

Em uma pequena cidade da Escócia, um forasteiro chega em uma tranquila pousada.
- Quer um quarto? - ofereceu a dona do local, de modo grosseiro.
- Sim, por favor. - respondeu o recém chegado.
- Seu nome, Senhor? - perguntou a senhora.
- Moriarty. Professor Moriarty. - apresentou-se Dudley.


                                                               
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Capitulo 22 - O assassino

Voltei ao coche e segui para a sede da Scontland Yard, onde conversei com Lestrade. Após, fui direto para o esconderijo.
Agradeci a Rod e o dispensei para descansar, pedindo-lhe que voltasse no dia seguinte.
Depois de verificar que as meninas estavam muito bem, guardei os saquinhos de diamantes que haviam ficado comigo no cofre do escritório de Holmes e fui para o meu merecido banho quente.
Holmes e Lana chegaram só na hora do jantar, trazendo algumas malas e, até que enfim, a meiga Senhora Reece estava de volta.
Após ela beijar Grace e Ivy, pude me aproximar para conversar com ela.
- Lana, me perdoe pelo jeito grosseiro que usamos no seu resgate.
- O Doutor é que tem que me perdoar! Passei por momentos de horror e acabei descontando em vocês. E preciso lhe agradecer por ter enfrentado aqueles bandidos para me salvar. – sorriu-me, linda como sempre.
Afastamo-nos das crianças e Holmes foi levar as malas para cima.
- Foi genial sua ideia em usar suas joias como pistas! – elogiei novamente.
- A verdade é que agi no desespero! Eu sabia que eu precisava deixar pistas e só tinha minhas joias. Mas no cativeiro, pensei ter sido idiotice; o colar poderia ser encontrado por qualquer pessoa e de nada me ajudaria. – confessou-me.
- Pois estava errada! Holmes entendeu a sua pista e foi o colar que nos levou até você. – comentei.
- Eu tinha certeza de que vocês fariam de tudo para me encontrar, mas o Doutor não imagina o desespero que senti naquele lugar! – contou-me.
- E você nem imagina o nosso desespero em encontrar você! – suspirei.
- Sherlock ficou desesperado? – perguntou-me apaixonada.
- Mas é claro que ficou. – confessei a ela.
Holmes se aproximou, e pela sua cara não gostou do que ouviu.
- Sherlock Holmes desesperado! Esta palavra não existe em meu vocabulário! – corrigiu-me.
- E irresistível existe? – provoquei ele, com cara de quem viu o que aconteceu na casa de Lana.
Ele apenas me lançou um olhar bravo, mas quis mudar de assunto.
- Já contou ao Watson do porquê a senhora não ter sido assassinada? – disse para Lana.
- O sequestrador, depois de me amarrar e encapuzar, disse que me conhecia, e sabia que era uma cristã, que eu era seguidora da verdadeira igreja e que eu fazia caridade em hospitais. Também disse que ele jamais mataria uma cristã, e que não era a mim que ele queria sequestrar. – contou-me.
Holmes tinha um sorriso no canto dos lábios que eu sabia bem o porquê. Ele tinha razão desde o principio; o motivo dos assassinatos era fanatismo religioso.
- Ele queria pegar Ivy. – conclui, sentindo meu sangue ferver de raiva.
- Sim, ele me contou que a menina que eu acompanhava era uma perdida e que poderia prejudicá-lo, por isso iria matá-la. Quanto a mim, assim que as coisas se acalmassem, um dos bandidos me levaria para longe, onde eu seria sua mulher e prisioneira. E eu que não me atravesse a fugir e voltar; seria morta antes de conseguir chegar a Londres. – continuou Lana.
- Conseguiu ver alguma coisa sobre ele, ou reconheceu a sua voz? – perguntei já sabendo a resposta.
- Não Doutor, ele estava todo de preto com aquela mascara quando descemos do cavalo, na floresta. Só consegui ver os bandidos que estavam lá, e eram os mesmo que estavam no cativeiro. A voz dele, eu nunca tinha ouvido antes. - relatou-me.
- Você terá que ficar aqui Lana, até prendermos este monstro. Agora que você conhece a voz dele, poderá reconhecê-lo. Você está correndo um grande perigo. – adverti minha amiga.
- Ficar escondida com Sherlock me será uma experiência adorável. – brincou Lana.
A criada, mais elegante e mais surda que eu já havia visto em minha vida, nos chamou para o jantar.
Ficamos um bom tempo conversando à mesa, quando pude contar a Holmes que a criada alemã havia sido presa por Lestrade, o qual encontrou os cadáveres do casal Riley. A assassina jurou inocência, mas um perito já teria sido contratado para analisar o testamento forjado por ela.
Já estava tarde e subimos todos ao segundo andar para dormir. No corredor, houve uma pequena reunião.
- Ivy, você pode cuidar de Grace está noite? – pediu Lana.
- É claro que ficarei com a minha irmã. – respondeu a menina.
- Sherlock, eu ficarei com você! – informou Lana.
- Nem pensar Lana! Tem muitos quartos na casa; cada um que escolha o seu e tenham uma boa noite. – não aceitou ele.
- Não podemos deixá-las sozinhas, Holmes. – não concordei.
- É bobagem Watson. Estamos seguros aqui. – confrontou-me.
- Ele conseguiu sequestrar Lana! Não podemos baixar nossa guarda. – argumentei.
- O Doutor está certo. Ele ficará com as crianças e você ficará comigo. – disse Lana para Holmes.
- Nada disso! Eu fico com as crianças e o Watson fica com você. – respondeu-lhe.
- Nada disso digo eu, Holmes. – discordei constrangido.
Ivy quis brincar com meu amigo.
- O Doutor fica com todas nós e você vai dormir com a velha surda lá embaixo. – disse ela rindo para Holmes.
- O Watson vai dormir com a Senhora Reece e sua irmã, e eu vou com a senhorita para a cozinha, onde vou lhe fazer muitos doces. – ameaçou meu amigo.
Os dois se desafiaram no olhar.
- Vamos dormir todos juntos no mesmo quarto! – decidi com autoridade.
- Doutor! – reclamou Lana.
- Já está decidido! As garotas dormirão na cama deste quarto e eu e Holmes colocaremos colchões no chão. E não quero ouvir mais nem um suspiro! – disse com autoridade.
Todos suspiraram.
Não me importei e fui buscar um colchão no quarto ao lado. Holmes me olhou bravo, mas também foi buscar o dele.
Após nos trocarmos para dormir, meu amigo colocou o seu colchão do lado esquerdo da cama, onde Ivy já estava deitada. Só me restou colocar o meu colchão no lado em que Lana havia se deitado. Grace já dormia entre as duas.
Arrumamos os cobertores e apagamos as velas, deixando apenas uma acessa.
- Ivy, meu amor, pode trocar de lugar comigo? – pediu Lana, para ficar perto de Holmes.
As duas, sem saírem da cama, trocaram de lado.
Alguns segundos depois e Lana deve ter incomodado meu amigo de alguma forma.
- Lana, vê se dorme! – reclamou ele.
Da onde eu estava, não dava para eu ver o que Lana estava aprontando, mas foi só mais alguns segundos para ele reclamar novamente.
- Watson, troque de lugar comigo. – ordenou-me.
Olhei por baixo da cama e ele vinha se engatinhando para o meu colchão. Para evitar que ele brigasse com Lana, também fui para o outro colchão passando por debaixo da cama.
- Querem ficar quietos. Vocês vão acordar a Grace! – murmurou Ivy brava.
- E por que você não dormiu ainda, "projeto de coisa nenhuma"? – sussurrou Holmes para a menina.
- Durma você, lombriga de baleia. – retrucou ela.
- Pigméia anã. - continuou ele.
- Vassoura de limpar teia de aranha. – continuou ela.
- Meio quilo de encrenca. – retrucou ele.
- Linguiça atropelada. – retrucou ela.
Segurei o riso para não atrapalhar a troca de elogios entre Holmes e Ivy, que pelo jeito ia durar a noite inteira.
- Filhote de duende. – continuou ele.
- Pirulito de bambu. – continuou ela.
- Miniatura de chefe de gangue. – retrucou ele.
- Vareta de chaminé. – retrucou ela.
- Amostra grátis de bruxa. – retrucou ele.
Não sei até que horas os dois brigaram porque dormi profundamente. Acordei com o dia amanhecendo e, olhando por baixo da cama, vi que Holmes já havia se levantado. Era bem provável que nem tivesse dormido; ele adquiria uma energia fora do comum quando queria resolver um caso.
Troquei-me e corri para a sala de jantar, onde o encontrei com Rod tomando o café da manhã. Havia uma certa impaciência em seu olhar e eu sabia o significado. Ele tinha um plano.
Ele esperou que eu tomasse meu café e, antes que Lana e as meninas acordassem, passou algumas instruções para Rod e foi buscar seu casaco para sair.
- Sabe que vou com você, não é? – o segui até outro quarto, também colocando meu casaco.
- Claro que sei. – respondeu sério.
Saímos da casa escondidos, pulando o muro dos fundos para não levantarmos qualquer suspeita e tomamos uma carruagem após caminharmos algumas ruas.
- Então, aonde vamos? – questionei.
- Em primeiro lugar, a Baker Street. – informou-me.
- Mas você não disse que o apartamento deve estar sendo vigiado pelo assassino? – estranhei.
- Sim, tenho certeza que ele está pagando para bandidos nos vigiar. Mesmo assim, precisamos ir até lá. Se Alice conseguiu chegar a Londres nesta madrugada, já deve estar me procurando no local onde combinamos. – explicou-me.
- Então hoje vamos passar o dia convencendo o clero a aceitar uma prostituta como freira! – deduzi.
- Claro que não, não temos tempo para isso! Ainda está dormindo Watson? – repreendeu-me.
Não entendi mais nada, mas percebendo a ansiedade dele em todo o tempo olhar para o seu relógio, achei melhor não fazer mais perguntas. Ele já havia planejado algo e eu ficaria sabendo mais cedo ou mais tarde.
Chegamos à nossa rua e nem foi preciso procurar por Alice; a carruagem de Holmes estava parada em frente ao prédio.
Mesmo tendo a conhecido no dia anterior, fiquei aliviado por saber que ela havia conseguido chegar em segurança.
Os cavalos estavam visivelmente exaustos.
- Watson, preciso que leve a carruagem para minha casa e troque os cavalos nela. Enquanto isso, levarei Alice à casa de Mycroft e pedirei a ele que resolva o assunto. Lembra-se que eu resolvi um caso de roubo de peças sacras muito valiosas há alguns anos atrás? Espero que o bispo considere o favor que me deve para aceitar “a prima” no convento. – contou-me.
- Vai se encontrar comigo em sua casa, onde estarei lhe esperando com a carruagem pronta? – perguntei, desconfiado de que ele estava me afastando para não me envolver em seu plano.
- Correto, vamos precisar da carruagem para nossa missão. – confirmou-me.
- E posso saber que missão é esta? – insisti em conhecer o seu plano.
- A mesma que estávamos prestes a cumprir antes do sequestro de Lana. Vamos investigar a casa do Senhor Creel. – esclareceu-me, estranhando por eu não saber de algo tão óbvio.
Cumprimentei Alice que descansava dentro da carruagem e aproveitei para lhe perguntar como havia nos encontrado na fuga com Lana. Ela riu da minha dúvida, já que foi apenas seguir os gritos e o barulho dos tiros; quem mais causaria aquela confusão além de mim e Holmes.
Meu amigo a levou no coche de aluguel para a casa de Mycroft. O irmão com certeza, mesmo achando muita graça, moveria a terra e o céu para atender o pedido de Holmes.
Eu segui com a carruagem para trocar os cavalos.
Após uma hora de espera, meu amigo chegou para que partíssemos para a investigação.
- Você já olhou as casas do Senhor Roy, do Senhor Armim e até da falsa Senhorita Riley. Só falta à casa do Senhor Creel. – comentei.
- Errado, falta à casa do Senhor Creel e a do turco. – esclareceu.
- A casa do turco? Mas ele nem vem a Londres! – estranhei.
- Por isso mesmo. – justificou.
- O que espera encontrar? – perguntei.
- Alguma pista que me confirme que o assassino é quem eu penso e, principalmente, o local onde as vitimas foram decapitadas e onde estão as cabeças. – respondeu-me.
Holmes tirou de seu casaco um vidro contendo um liquido e me deu. No ato reconheci o que era.
- O composto que você inventou para identificar manchas de sangue, mesmo em locais onde o sangue foi totalmente limpo. Então você tem usado isso nos porões das casas para encontrar o sangue das vitimas. – raciocinei.
- Nos porões, nos quartos, nos banheiros e nas cozinhas. – completou ele.
Deixamos a carruagem há dois quarteirões e seguimos caminhando até a mansão.
- Ainda é cedo. O Senhor Creel não sai de casa próximo ao horário de almoço? – lembrei-me.
- Vamos entrar mesmo assim. E tome muito cuidado Watson. Estamos sendo seguidos e o assassino logo saberá que estamos aqui. – alertou-me.
Observamos a rua até que foi possível Holmes abrir o portão de grade com seu canivete. Entramos por ele e o deixamos apenas encostado. Senhor Creel perceberia isso ao sair, mas meu amigo parecia tão ansioso em descobrir uma pista que não estava nem se importando com os detalhes.
Seguimos para a lateral da casa onde Holmes arrombou a janela da biblioteca, por onde entramos.
- Fique por aqui e me dê cobertura. – sussurrou-me.
Concordei com a cabeça.
Enquanto Holmes desceu ao porão, eu andei sorrateiramente pela casa. Vi a criada arrumando um quarto e deduzi ser o do Senhor Creel, o qual não encontrei. Entrei nos três outros quartos da casa e usei o composto de meu amigo no chão, procurando manchas de sangue. Holmes havia levado outro vidro com ele.
Fiz o mesmo procedimento na cozinha e nos banheiros e não encontrei nada de suspeito.
Levei um susto quanto dei de costas com Holmes no corredor; pensei que fosse o Senhor Creel. Meu amigo também se assustou.
Voltamos para a biblioteca, onde Holmes passou a analisar os livros na estante.
- Encontrou algo no porão? – murmurei.
- Não. – suspirou pensativo.
- Também não achei nada na casa. A criada está no segundo andar, mas não encontrei o Senhor Creel em lugar algum. O que procura? – perguntei para ajudá-lo.
Após folhear as páginas de uma livro que havia retirado da estante, Holmes sorriu-me com os olhos brilhando.
- Encontrei a pista, Watson. Achei o assassino!
Meu amigo me mostrou o livro, onde se lia na capa “Malleus Maleficarum, de Heinrich Kramer e James Sprenger.
Antes que eu pudesse lhe perguntar qualquer coisa, ouvi um baque muito forte e vi Holmes cair desacordado a minha frente.
O assassino, todo vestido de preto, havia saído de uma passagem secreta ao lado da estante sem que percebêssemos e acertou meu amigo em cheio na cabeça, por trás, com uma marreta.
No susto que levei, ele foi mais rápido ao tirar uma arma de seu casaco. Eu não tive outra escolha a não ser me virar e pular rapidamente a janela, pela qual havíamos entrado.
Consegui pegar minha arma e também atirei contra ele, quando surgiu na janela. Passei pelo portão aberto e ele continuou atrás de mim.
Cheguei à carruagem e sai com ela em disparada. Após algumas ruas, o assassino não estava mais me seguindo.
Eu precisava voltar e salvar meu amigo, mas respirei fundo para me acalmar e resolvi pensar antes de agir por impulso.
O assassino sabia que eu voltaria. Em todos os artigos que escrevi para os jornais sempre declarei minha lealdade incondicional a Holmes. Então, ele estaria me esperando e, se ele conseguisse me matar, sairia livre dos crimes.
Eu precisava, antes de qualquer coisa, avisar a policia que Holmes havia descoberto que o Senhor Creel era o assassino dos "sem cabeças".
Não sei do que se tratava aquele livro que me mostrou, mas se o livro estava na biblioteca do Senhor Creel, só poderia ser ele o assassino.
Entendi porque meu amigo não estava se importando em entrar na casa em um horário não propicio, porque me mandou tomar cuidado e porque não se importou com o portão aberto. Ele já sabia que o dono da casa era o assassino e que estava nos seguindo. 
No tempo em que ficamos procurando pistas, o assassino deveria estar se vestindo para nos atacar.
A sede da policia era muito longe e eu não poderia me demorar tanto. Decidi parar na Baker Street e, através de um bilhete, informar  a descoberta para Lestrade e pedir ajuda, já que Holmes havia sido capturado. 
Subi correndo ao apartamento e escrevi pedindo que a policia fosse rápida em ir para lá. 
Em cima da escrivaninha de Holmes havia um telegrama fechado vindo da América do Norte; era de Irving.
Lembrei-me que meu amigo aguardava a chegada de uma peça chave do mistério. Seria o telegrama? Ele havia pedido a Irving que descobrisse sobre a vida do Senhor Creel na cidade de onde ele veio.
Mesmo não sendo da minha educação abrir correspondência de outros, era necessário saber o que tinha naquele telegrama, então não pensei duas em vezes em lê-lo.
Caro Senhor Holmes, é um prazer poder lhe retribuir toda a ajuda que recebi de sua pessoa e perdoe-me pela demora em lhe responder. Fui até a Massachusetts em busca das informações que me pediu e tive uma certa dificuldade em obtê-las. Só depois de algum tempo, descobri que as respostas estavam na cidade de Salem. Lá, as pessoas me repudiaram quando eu mencionei o sobrenome Creel. Algumas desconfiaram de minha idoneidade e outras me proibiram de pronunciar este nome. Após muito insistir, fui descobrindo aos poucos que este sobrenome pertence a uma família que, em 1692, incitou um covarde julgamento a algumas mulheres que eles consideravam bruxas, o qual terminou com a morte delas, queimadas vivas em uma fogueira. Geração após geração, esta família manteve os hábitos praticados pela inquisição, perseguindo e matando pessoas as quais julgavam serem bruxos. A aversão dos habitantes de Salem pelo Senhor Robert Creel se deve ao fato de, há dez anos atrás, ele ter decapitado uma jovem criada negra em frente à dezenas de  crianças, para lhes ensinar o que deveria ser feito a pessoas que praticavam bruxarias. A pobre jovem não era bruxa, apenas fazia rituais de sua religião afrodescendente. As crianças, hoje jovens, são traumatizados pela cena horrível que presenciaram e seus familiares, na época, exigiriam que o Senhor Creel fosse preso e tivesse punição exemplar. A policia bem que tentou prendê-lo, mas ele, muito rico, desapareceu. Agora, graças a seu telegrama, todos já sabem que ele fugiu para Londres. Espero ter cumprido a missão a mim confiada. Com estimas, Irving.”
Se aquele telegrama tivesse chego às mãos de Holmes antes, ele não teria sido capturado pelo assassino. Mas não havia tempo para lastimas; eu precisava salvar meu amigo e o telegrama serviria para convencer a policia de que meu recado era verdadeiro.
Coloquei mais duas armas em meu casaco e corri para a rua, onde encontrei facilmente o líder dos garotos.
- Wiggins, preciso que corra até a sede da Scontland Yard e entregue este recado e este telegrama a Lestrade ou a Gregson; este dinheiro é para tome um coche. É urgente, Holmes está perigo. – pedi-lhe afobado.
O menino percebeu que o caso era grave.
- É para já! – atendeu-me saindo correndo.
Voltei para a carruagem e sai em disparada para a mansão do Senhor Creel. No caminho, meus pensamentos me atormentavam, temendo pela vida de Holmes nas mãos daquele assassino.
Parei a carruagem em frente à mansão, afinal eu tinha certeza de que estava sendo esperado. E era tão verdade que o portão ainda estava aberto. 
Fui apontando minha arma para todas as direções e entrei novamente pela janela, também deixada propositalmente aberta pelo assassino.
Sem dar as costas para a porta, comecei a jogar todos os livros no chão com o intuito de abrir a passagem secreta. Lembrei-me que na casa do Senhor Armim, a passagem se abriu quando Holmes mexeu em um crucifixo na parede. Movimentei o crucifixo da biblioteca e a passagem por onde havia saído Senhor Creel se abriu.
Novamente entrei em um túnel subterrâneo, após descer por uma escada. Apesar de muito escuro, cheguei até a outra escada e um novo alçapão. Sai na mesma cocheira em que eu e Holmes estivemos quando Lana foi sequestrada. Nenhum sinal do assassino ou de meu amigo. 
Desta vez, haviam três cavalos na cocheira, e um deles era bem parecido com o cavalo que vi, na noite em que o criminoso fugiu na mansão de Holmes.
Pensei em tudo o que meu amigo havia me dito, e o quanto ele suspeitava que os crimes fossem cometidos no porão e que faltava investigar a casa do turco, justamente porque ele nunca a frequentava.
Senhor Creel era vizinho do Senhor Armim e do turco; se a mesma cocheira servia de saída para as passagens secretas na casa dos dois primeiros, então também tinha uma ligação com a casa do turco. 
Examinei atentamente todo o chão, até encontrar outro alçapão. Minha intuição me dizia que eu estava no caminho certo.
Eu havia deixado a passagem secreta aberta e tinha certeza que ela seria encontrada pela policia.
Entrei no túnel e sai em um escritório com decoração típica turca. Fui até os fundos da casa, onde encontrei a escada para o porão. Desci no escuro sem fazer barulho, quando ouvi o choro sufocado de mulher.
Ao me aproximar da porta, notei que havia luz lá dentro e mais alguns passos, pude ver Emanuela, presa por cordas à parede do porão, que mais parecia um calabouço.
Embora com um pano amarrado na boca, ela soluçava por ajuda com o olhar muito assustado.
Escondi-me na parede e, quando fui me virar para apontar minha arma para dentro do porão, senti uma dor profunda na testa e no rosto. O impacto de uma pancada em minha face apagou minha visão e cai perdendo os sentidos.
Acordei com muita dor de cabeça, preso por cordas à parede ao lado de Emanuela. Havia um pano amarrando minha boca e minha visão, ainda atrapalhada, me mostrou o homem que se vestia de preto, agora com o rosto descoberto.
Para meu horror, Holmes estava com os pés e as mãos amarrados em uma mesa de madeira.
- Confesso que eu acreditei na sua mentira quando o senhor disse que estava confiante de que o cocheiro era o assassino. – sorriu Senhor Creel para Holmes.
- Pois saiba que há muito tempo eu já havia descoberto que era você. O assassino só poderia ser um dos três sócios, e o Senhor Roy foi descartado quando me encontrei com ele comprando a nova carruagem; o vendedor me contou que ele era um péssimo condutor e não tinha o menor jeito com cavalos, então não poderia ser ele o assassino, que cavalgava muito bem na noite em que sequestrou a menina.
- Aquela infeliz! Ela viu a carruagem e eu sabia que isso me seria um problema. Foi graças a ela que você foi parar em minha cocheira. Quando a vi com vocês naquele almoço, compreendi o risco que estava correndo, por isso passei a vigiá-los. - confessou o assassino.
- Meus dois suspeitos eram você e o Senhor Armim, mas depois do sequestro, não houve mais dúvida. O Senhor Armim jamais atrairia a criança para ser sequestrada dentro de sua própria casa e foi você quem o induziu a fazer o convite no dia em almoçamos juntos. O senhor se aproveitou disso para armar seu plano de sequestro. – contou Holmes.
- Isso mesmo; eu já havia preparado meu plano para vir escondido a Londres e dar um fim nas feitiçarias da Senhorita Riley. Quando os irmãos Armim combinaram o almoço, eu os incentivei. Era a ocasião perfeita. - revelou o bandido.
- Pensaríamos que você estava em Leeds, nós estaríamos almoçando no salão, enquanto as crianças com certeza estariam brincando na biblioteca, onde havia a passagem secreta. Você entraria e, rapidamente, levaria a menina para matá-la. - conclui meu amigo.
- Muito bem, detetive. Eu também descobri que você costuma fazer suas investigações em “mesas brancas”, fazendo perguntas para os espíritos. Não sabe que a bíblia condena a comunicação com os mortos? Mas como poderia saber? Você não é um cristão, é um bruxo. – disse Senhor Creel, tirando as roupas pretas.
Eu tinha razão, ele colocava roupas sobrepostas para disfarçar-se fisicamente.
- É verdade! Eu sou adepto do espiritismo e induzi todos os que estavam naquela mesa a participar daquela sessão. Eles não sabiam do que se tratava e não sabiam o que estavam fazendo. – mentiu meu amigo, numa tentativa de salvar a mim e a Emanuela.
- Muito digno de sua parte em confessar sua culpa. Eu vou salvar os cristãos de pessoas permissivas como você. – respondeu o assassino.
- Encontrei o seu livro, escrito na época da inquisição por dois monges alemães retardados, que achavam que sabiam como identificar bruxos. Tenho certeza que não há nada naquele livro ridículo que identifique um médico, responsável por salvar vidas, como um bruxo. E não foi Cristo que salvou uma prostituta de um apedrejamento? – insistiu meu amigo.
- Vou pensar no que farei com eles depois. Mas com o senhor, já está decidido. Vamos separar este brilhante cérebro do seu corpo! – revelou o assassino.
Holmes manteve-se calmo diante do psicopata.
- Mas antes de fazer isso, me esclareça duas coisas. A primeira senhora que você matou tinha pele humana embaixo das unhas e marcas de agressão pelo corpo. Se ela estava amarrada, como lutou com você? – perguntou meu amigo.
- Eu lhe dei um golpe na cabeça, quando ela estava entrando na carruagem e, antes que o cocheiro aparecesse, trouxe a carruagem para a cocheira nos fundos das casas. Como a velha bruxa estava desmaiada, achei que não era necessário amarrá-la e a carreguei para cá, onde comecei o meu ritual de sacrifício. No entanto, ela acordou e eu tive um pouco de trabalho para terminar o meu serviço. – confessou.
- Covarde! – insultou-o meu amigo.
- Já o pai do Senhor Heston, aquele praticante de magia demoníaca, eu fingi um encontro casual com ele na saída de um restaurante. Com o propósito de lhe oferecer um excelente negócio, eu o atrai para minha casa, onde o rendi apontando uma arma. Ele achou que se tratava de um sequestro e me ofereceu todo o dinheiro que eu quisesse. Após trazê-lo para cá e amarrá-lo nesta mesa, cortei lhe o pescoço com ele me implorando para não matá-lo. – relatou o psicopata.
- A segunda pergunta, onde estão as cabeças? – continuou Holmes.
O assassino abriu um grande armário que havia ali, onde cada cabeça estava mergulhada em um liquido dentro de um recipiente de vidro. As fisionomias dos rostos estavam deformados e irreconhecíveis.
- As cabeças eu guardo como troféus. Os corpos eu jogo na rua para servirem de exemplo para os hereges. – confessou o assassino.
Do mesmo armário, Senhor Creel retirou uma tábua com diversas facas dispostas em pé, enfiadas pela ponta na madeira.
- Até a sua sócia o Senhor matou! - continuou Holmes.
- A Senhorita Riley já estava marcada para morrer há muito tempo. Desde que eu a conheço, ela usa de bruxarias e trabalhos ciganos. Eu só estava esperando o momento certo, quando eu tivesse um bom álibi. A viagem para Leeds foi a oportunidade perfeita. Eu entrei pela passagem secreta da casa dela e fui até seu quarto. Ela havia acabado de chegar de uma festa e eu a estrangulei antes que tivesse chance de gritar; acho até que já estava morta quando lhe cortei a cabeça. Depois fui para a mansão de Armim, me preparar para pegar a menina. Como meus sócios achavam que eu estava com eles em Leeds, eu não seria suspeito. - continuou Senhor Creel.
Senti um pânico profundo e rezei como nunca para que a polícia chegasse logo, embora eu sabia que, mesmo encontrando as passagens secretas, era bem provável que não pensariam que estávamos no porão.
Enquanto o assassino estava de costas para nós, olhei apavorado para Holmes. A culpa que eu sentia por ter falhado transparecia em meu rosto. 
Ele me olhou serenamente com uma expressão de paz e, somente movimentando os lábios, perguntou-me: “avisou a policia?”.
Eu confirmei com a cabeça e ele me sorriu satisfeito.
Senhor Creel colocou seu faqueiro em uma outra pequena mesa, ao lado da mesa onde estava Holmes.
- Vamos ver qual dessas belezas podemos usar. – disse, escolhendo uma faca.
Holmes olhou tranquilamente para mim e para Emanuela.
- Obrigado Watson! Não é qualquer homem que tem a coragem de enfrentar um psicopata para salvar um amigo! – disse-me sorrindo.
- Eu não chamaria isso de coragem. Foi loucura! – interferiu Senhor Creel.
- Fechem os olhos e não abram de forma alguma. – ordenou meu amigo, com muita calma.
Nem mesmo aquela morte terrível o amedrontava e, por trás de toda aquela frieza, eu sabia que a intenção dele era não aumentar o meu pavor e o de Emanuela.
Senhor Creel pronunciou algumas palavras em francês, julgando meu amigo e o sentenciando a morte. Depois debruçou-se sobre ele com a faca em seu pescoço.
Tremendo incontrolavelmente, eu fechei meus olhos e lágrimas escorreram pelo meu rosto. Percebi que Emanuela virou o rosto para mim, fechando os olhos bem apertados.
- Desculpe-me, a faca não está afiada. Vou cuidar disso. – disse o assassino.
Abri os olhos e vi o Senhor Creel indo em direção a uma engenhoca que parecia ser um afiador de facas. Meu amigo já sangrava, devido a um leve corte no pescoço.
Enquanto o psicopata, de costas para o meu amigo, ligava a máquina, Holmes empurrou seu braço por entre a corda que amarrava seu punho e, esticando a mão, conseguiu pegar uma faca, pela sua ponta, da tábua que estava na mesa ao lado.
Enquanto o Senhor Creel afiava a faca que tinha nas mãos, Holmes, com muita pouca mobilidade, mirou o bandido, como faziam os atiradores de facas nos circos.
- Agora sim, Senhor Holmes! A faca está tão afiada que será uma rápida decapitação. – disse o assassino, virando-se para nós.
Holmes rapidamente atirou a faca com tanta força, que a mesma cravou no peito do assassino. Senhor Creel arregalou os olhos com a expressão de dor profunda.
Senti uma descarga de energia correr por todo o meu corpo e quase desmaiei novamente.
- Desculpe-me, a faca não estava afiada. – sorriu Holmes para o Senhor Creel.
O assassino caiu de joelhos agonizando, despencando em seguida todo o corpo para o chão.
Se o Senhor Creel tivesse lido com atenção os artigos que eu escrevi sobre meu amigo, saberia que Holmes tinha um força descomunal nos dedos, e jamais cometeria o erro de deixar-lhe facas tão próximas. 
Holmes novamente se esticou todo para pegar outra faca na tábua, com a qual fez malabarismo para cortar a corda de seu pulso. Após se libertar, saltou da mesa olhando sem nenhum sentimento para o Senhor Creel que ainda agonizava no chão.
Meu amigo veio em direção a Emanuela e, usando a mesma faca, cortou as cordas que prendiam seus braços.
Emanuela se atirou no pescoço de Holmes, o beijando.
- Comporte-se Emanuela. – repreendeu-a, afastando a garota.
Em seguida, Holmes cortou as cordas que me prendiam e, não conseguindo me controlar, também o abracei.
- Watson, tenha compostura! – reclamou meu amigo, também se esquivando de meu abraço.
Senhor Creel chamou nossa atenção dando seu último gemido de dor, morrendo com os olhos arregalados.
Holmes cobriu o ferimento de seu pescoço com um lenço que pegou de seu bolso e saiu caminhando; sua expressão estava bastante abatida. Já eu e Emanuela o seguimos em estado de euforia por estarmos saindo todos vivos daquele lugar, com exceção do Senhor Creel, é claro.
Enquanto meu amigo caminhava olhando para o chão, eu o olhei com minha costumeira admiração. A natureza foi muito generosa com ele, além da mente genial, Holmes tinha uma força e uma agilidade que as pessoas jamais lhe creditariam. Acredito que somente eu e Mycroft tínhamos a noção do quanto ele era excepcional.
No escritório da casa do turco, meu amigo quebrou o silêncio.
- Bonita decoração. – observou ele, ainda com ar abatido.
Surpreendi-me com seu comentário descabido, depois de tudo o que havíamos passado.
Chegando à cocheira, demos um susto nos policiais que estavam entrando ali, vindo da passagem secreta da casa do assassino.
- Doutor, viemos assim que recebemos o seu recado! Onde vocês estavam? Onde está o assassino? Ele conseguiu fugir? – disse afobado Lestrade.
- Ele está no porão da casa ao lado. Sigam por este túnel. – apontei o alçapão para a casa do turco.
- E não precisa ter pressa, garanto-lhes de que ele não vai fugir. – emendou Holmes.
Os policiais nos olharam sem entender nada.
Nós sabíamos que precisávamos contar toda a história à policia, mas estávamos muito cansados e sem condições psicológicas para fazer naquele momento, então seguimos pela outra passagem para a casa do Senhor Creel, enquanto os policiais seguiram para a casa do turco.
No caminho, Holmes reclamou comigo.
- Eu sabia que você conseguiria encontrar as passagens secretas Watson, mas não sabe como torci para que você não conseguisse! Esta sua mania de arriscar a sua vida para me salvar, me irrita profundamente.
- Ah, sim! E o Senhor Sherlock Holmes faria o quê se fosse eu quem estivesse nas mãos deste assassino? – confrontei-o.
Holmes me olhou sério, mas não pode me responder. Nós dois sabíamos muito bem qual era sua única resposta; ele daria a própria a vida para me salvar. Para não brigarmos novamente pela velha questão “eu posso, mas você não”, ele sabiamente optou por se calar.
Chegamos na carruagem dele, que havia ficado em frente à mansão do assassino, e seguimos para a Baker Street, para nos recuperarmos daquele dia.
Senhora Evelyn estava na janela do apartamento e nos viu descendo da carruagem em frente ao prédio. Ela nos abriu a porta, com certeza para nos perguntar sobre Ivy, mas não houve tempo. Nós entramos sem dar-lhe atenção.
- Preciso comer! – disse Emanuela, ao passar pela porta e ir para a cozinha.
- Preciso beber! - disse eu, entrando em seguida, indo para o bar da sala.
- Preciso me drogar! - disse Holmes entrando por último, indo para o seu quarto.
Senhora Evelyn apenas nos observou sem entender nada.
Após algumas horas de descanso, fomos obrigados a atender Lestrade e Gregson para relatar todo o ocorrido. 
Junto com eles também estava o Senhor Heston, satisfeito por finalmente termos descoberto o assassino de seu pai e por saber que o psicopata estava morto, graças a Holmes.
Emanuela também nos contou que havia sido sequestrada durante aquela madrugada, quando estava trabalhando no bordel. Ela recebeu um recado, através de um jovem, de que Holmes estava a esperando em frente a White House, dentro de um coche. 
Quando foi até o coche, Senhor Creel conseguiu agarrá-la para dentro, colocando uma faca em seu pescoço.
Ele a prendeu naquele porão e só retornou depois de horas, carregando Holmes desacordado no ombro. Após amarrá-lo à mesa, o assassino ficou de tocaia com uma marreta, como se estivesse esperando por alguém. 
Senhor Creel conseguiu me acertar em cheio na cabeça e Holmes acordou enquanto o assassino me amarrava desmaiado à parede.
Após esclarecermos como chegamos até o assassino, Lestrade nos informou que os policiais seguiriam investigando o caso para encontrar e prender os bandidos que Senhor Creel havia contratado para nos vigiar e ajudar-lhe no sequestro.
O inspetor também nos deu uma péssima notícia; Dudley havia conseguido fugir da prisão.

Capitulo 23 - O colegio

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