Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capitulo 15 - A criatura

Algo na rua chamou a atenção de meu amigo, que olhava pela janela do coche.
- Pare, por favor! – gritou ele.
Holmes saltou do coche e saiu correndo pela rua. Eu o segui e logo avistei o que estávamos perseguindo; novamente era mulher do espelho.
Agora mais próximos a ela, pude vê-la como uma mulher real, trajando um vestido simples azul claro. Sua expressão estava serena e triste e ela apenas caminhava, mesmo observando que corríamos ao encontro dela. Ela virou a esquina e, em segundos, também viramos, mas ela desapareceu.
- Como pode? Aonde ela poderia ter se escondido tão rápido? – surpreendi-me.
Olhei para as casas de luxo no início da rua e acredito que não daria tempo da mulher ter entrado em nenhuma delas sem que a tivéssemos visto.
- Ela parece ser tão real! – disse Holmes, como se estivesse pensando alto.
Estávamos evitando falar a respeito dela, uma vez que a estranha aparição no espelho e o seu desaparecimento dentro da casa assombrada parecia ser algo sobrenatural e incompreensível.
- Holmes, estou começando a aceitar a ideia de que se trata de um fantasma. – confessei.
Meu amigo, com a mão na cintura, olhava fixamente para o chão, como se estivesse com os pensamentos longe dali.
- Meu irmão! – disse ele.
- Seu irmão? – estranhei.
- Preciso ver Mycroft. – respondeu ele com um olhar estranho.
- Não entendi. – fiquei surpreso.
- Não sei explicar, mas preciso ver meu irmão. – disse ele, saindo em direção ao coche.
Holmes pediu ao cocheiro que nos levasse ao clube frequentado por Mycroft. Ele me pareceu tão estranho que achei melhor não fazer perguntas.
Nas proximidades do clube, ouvimos gritos e Holmes pediu para que o cocheiro fosse mais rápido. Logo, homens assustados passaram correndo pela rua. Algo grave estava ocorrendo ali.
Meu amigo pulou do coche em movimento e correu para dentro do clube; só tive tempo de pedir ao cocheiro que nos esperasse e fiz o mesmo.
O salão estava destruído, com mesas e cadeiras caídas, muitas garrafas e copos quebrados e bebida alcoólica derramada por todo o chão.
Próximo à parede lateral, Mycroft usava uma cadeira para tentar se defender de algo que não consegui identificar. Parecia um corpo humano muito alto e esguio, todo coberto por pêlos curtos, com pernas e braços muito finos, unhas gigantescas e face magra de um lobo. A criatura estranha lembrava um urso atacando, indo para cima de Mycroft.
Havia um senhor caído no chão, próximo a eles, com o pescoço e braço todo retalhado e ensanguentado; parecia estar morto.
A criatura fez a cadeira usada por Mycroft voar longe, o acertando em seguida no pescoço com as garras.
Mycroft foi arremessado à parede com violência e o bicho foi para cima dele para mata-lo. Holmes pulou nas costas da criatura, tentado enforcá-la com o braço.
O rosnado do bicho era apavorante. Parecia ser um animal, mas o corpo tinha forma humana. Pude ver os pés e mãos finas e longas, bem parecidos com as de um homem, no entanto,  com garras de urso.
A criatura conseguiu agarrar Holmes pelo seu casaco, jogando-o longe.
Apontei minha arma para a “coisa” e dei três tiros em suas costas. Ela se virou assustadoramente e pude ver seus olhos vermelhos de fera, vindo ameaçadoramente em minha direção. Atirei mais três vezes contra ela e paralisei de medo quando percebi que as balas, apesar de perfurarem o seu corpo, não lhe causaram nenhum dano.
Quando o bicho estava se aproximando para me atacar, Holmes usou seu isqueiro para atear fogo em uma grande toalha que encontrou no bar. Rapidamente, correu até a criatura, lhe cobrindo com o pano em chamas. 
Com a intenção de queimá-lo, meu amigo passou a jogar no bicho, toda bebida alcoólica que encontrou em copos e garrafas que estavam ao seu redor. A criatura rosnava tentando se livrar do fogo. 
Em segundos, o incêndio se alastrou pelo salão, afugentando o bicho que se atirou pela janela de vidro para escapar do local.
Holmes correu ao socorro do irmão, enquanto gritou para que eu cuidasse do outro senhor caído; arrastamos os dois para fora do salão em chamas. Na rua, constatei que o senhor já estava morto.
Holmes sentou-se no chão, acolhendo a cabeça toda ensanguentada de seu irmão em seu colo. O seu olhar desesperado para mim era o mesmo da noite quando Elizabeth morreu em seus braços.


- Você quase nunca aparece aqui. – disse o irmão, com muita dificuldade a Holmes.
- Fique quieto, vou cuidar de você. – respondeu Holmes.
Examinei o ferimento de Mycroft; estava apavorado com a possibilidade da criatura ter lhe cortado a veia jugular, mas, para meu alivio, a veia estava intacta e nitidamente saltada na pele. Ele estava muito gelado devido a perda de sangue.
- Ele vai ficar bem. – tranquilizei meu amigo.
Holmes tirou seu casaco e cobriu o irmão.
Tentei localizar o coche que havia nos trazido, mas ele havia fugido. A criatura não estava mais naquela rua e pessoas começaram a aparecer de todas as direções.
Não demorou a chegar uma carruagem da policia, para a qual pedi ajuda para socorrer Mycroft.
No hospital, pedi ao meu colega médico para que permitisse minha entrada na sala onde Mycroft receberia atendimento. Minha presença junto ao irmão tranquilizou Holmes, que foi obrigado a permanecer no corredor.
Limpamos os ferimentos, que pareciam grandes e profundos arranhões, estancamos o sangue e usamos uma solução para evitar infecção. Meu colega médico pensava estar tratando de um caso de ataque de urso.
Deixei Mycroft descansando e fui ao corredor. Holmes estava sentando no chão, com os braços ao redor dos joelhos e o queixo apoiado neles.
- A temperatura dele já se normalizou. Os arranhões foram feios, mas em breve serão apenas cicatrizes. – confortei-o.
- Posso vê-lo? – pediu-me.
- Sim, mas é melhor que ele não fale muito. O movimento dos músculos na região do pescoço vai lhe causar dor. – avisei.
Entramos no quarto e o irmão tentou sorrir com muito esforço.
- É tão raro você ir ao clube, como foi aparecer lá esta noite? – perguntou Mycroft.
- Não se esforce para falar, você precisa descansar. O importante é que você está bem. – limitou-se a dizer meu amigo.
Holmes estava abatido demais e não tive coragem de questioná-lo, mas a verdade é que ele teve uma premonição em relação ao irmão, depois de termos encontrado novamente a estranha mulher.
- Já posso ir, Doutor? – pediu Mycroft.
- Sim, já está liberado. - autorizou meu colega médico.
Holmes acompanhou o irmão até seu apartamento e eu voltei para o nosso, passando antes pelo apartamento da Senhora Hudson para buscar a menina.
O dia amanheceu e logo recebi os jornais que noticiaram um ataque de lobo em um clube muito reservado da cidade. 
Eu vi a criatura e, apesar da cabeça ter a aparência de um lobo, o corpo era algo intrigante. Além do mais, animais andam em quatro patas, e aquela coisa estava em pé.
Holmes chegou algumas horas depois, tomou um banho rápido e já estava novamente saindo quando eu o alcancei.
- Aonde vai com tanta pressa? Mycroft ficou sozinho? – indaguei-lhe.
- Não, o deixei sendo cuidado por um enfermeiro que contratei. Também coloquei alguns garotos de prontidão lá para me avisarem de qualquer coisa. Vou ao clube procurar pistas e encontrar alguém que possa me contar o que aconteceu ontem. Não deixei que Mycroft me contasse para evitar dor a ele, mas preciso saber o que era aquilo que enfrentamos e como foi parar lá. – respondeu-me.
- Vou com você. – ofereci-me depressa.
- Melhor que fique aqui cuidando da sua “pequena cobra”. Ela está com cara de quem está planejando fugir. – disse Holmes, se referindo a criança.
- A Senhora Evelyn pode ficar com ela e não acredito que queira fugir. – retruquei.
- Pois lhe digo que só não se aproveitou para fugir ontem à noite porque lhe dei chá com sonífero. – confessou-me.
- Holmes, como pode fazer isso com uma criança? Ela me prometeu que não vai fugir e eu acredito nela. Você precisa aprender a confiar mais nas pessoas! – o repreendi.
Ele me fez sua tradicional cara de quem tem que ter muita paciência comigo.
- Eu vou avisar a Senhora Evelyn para que tome conta de Ivy e vou com você ao clube. Por favor, me espere lá embaixo. – pedi a ele, usando um tom bravo.
Apesar de minha grosseria, ele me esperou no coche.
A rua do clube estava repleta de policiais, jornalistas e curiosos, que ficaram mais alvoroçados com a presença de Holmes.
Meu amigo caminhou tão rápido por entre eles que conseguiu se esquivar de todos sem a menor dificuldade. Não tive a mesma habilidade e precisei ser indelicado com os jornalistas, respondendo apenas “agora não” para todas as perguntas que me fizeram.
Quando consegui entrar no clube, Holmes já estava com sua lupa analisando uma jaula grande de um metro de altura partida ao meio. Na correria da noite, eu não a tínha visto.
O fogo já havia sido apagado, mas o cheiro de queimado era insuportável. Se à noite, quando chegamos ao local, já estava tudo revirado, depois do incêndio então, parecia que havia passado um furacão lá dentro.
Holmes se dirigiu à janela por onde a criatura havia fugido para analisá-la; o vidro estava todo quebrado.
- Não há sangue. - observou ele, com sua lupa.
Um velho conhecido e frequentador assíduo do clube se aproximou de nós.
- Senhor Holmes, como está o seu irmão? Que trágica foi a morte do Senhor Bell. – comentou o Senhor.
- Mycroft está bem Senhor Donat, obrigado. Que bom encontrá-lo; preciso saber o que aconteceu aqui ontem à noite. – pediu meu amigo.
- Foi horrível. Era quase meia-noite quando o Senhor Bell chegou trazendo consigo aquela jaula coberta por um pano. Disse-nos que tinha passado toda à tarde caçando raposas quando, ao anoitecer, se deparou com um lobo atacando um homem cinza de olhos vermelhos. – contou-nos.
- Um homem cinza de olhos vermelhos? – não pude deixar de estranhar.
- Sim, e sua surpresa foi idêntica a de todos os que estavam aqui presentes. Nós rimos. Ele então se gabou de ter matado o lobo e de ter capturado o homem cinza. Após fazer suspense, disse que iria nos provar que estava falando a verdade e que iria nos mostrar o ser, que estava dentro daquela jaula. Ele nos disse que estávamos prestes a ver algo fantástico. – revelou o Senhor.
- Isso explica a jaula. - meu amigo voltou a olhar para gaiola grande quebrada.
- Já era meia-noite, então lhe pedimos que nos mostrasse logo o tal homem. Nisso, ouvimos um som assustador, como se um animal estivesse urrando de dor. A jaula começou a se movimentar com "a coisa" se debatendo dentro e, em segundos, se partiu revelando o animal estranho que os senhores viram. O Senhor Bell estava muito próximo e não teve tempo para nada; o bicho avançou sobre ele enquanto nós saímos correndo. Eu já estava na rua quando vi os senhores chegando. - finalizou Senhor Donat.
- Se conheço meu irmão, ele ficou para tentar salvar o Senhor Bell. - suspirou Holmes.
- Com certeza. - concordou o Senhor.
- O bicho era realmente muito forte; nem um urso conseguiria partir aquela jaula. - comentei.
- Eu sei! Ele me atirou ao teto como se eu fosse uma pena. - completou meu amigo.
- Mas se a criatura tinha força para partir a jaula, porquê esperou chegar ao clube? Por que não quebrou a jaula antes? - estranhei.
- A jaula estava sobre rodas quando ele entrou e estava tudo tão quieto que parecia não ter nada dentro. - contou Senhor Donat.
- Talvez o Senhor Bell tenha trazido o bicho desacordado e ele despertou aqui. - opinou Holmes – Estava lá fora quando a criatura fugiu?
- Sim, enquanto uns foram chamar a policia, eu fiquei aqui próximo com outros, observando o que acontecia. Vimos quando o bicho quebrou a janela e saiu correndo como um lobo em direção à floresta. Nunca vi algo correr tão rápido. Os homens que costumam caçar na floresta convocaram uma reunião para hoje à tarde; querem organizar uma expedição para caçar o que eles chamam de nova espécie de lobo. – relatou Senhor Donat.
- Eu atirei contra a criatura e vi os tiros lhe perfurarem a pele. Ela pareceu que sentiu apenas um incomodo, mas os tiros não lhe causaram nenhum dano. – informei ao Senhor.
- Vou contar isso na reunião, Doutor. Melhoras à Mycroft, Senhor Holmes. Se precisar de qualquer coisa, sabe onde me encontrar. - ofereceu gentilmente o senhor.
- Agradeço Senhor Donat. - despediu-se meu amigo.
- Queimou muita coisa, vai ser difícil encontrarmos pistas. - desanimei.
- Preciso recolher os vidros dessa janela. Vamos quebrar em cacos as partes que tiveram contato com aquela “coisa”. Quero analisar em meu laboratório. - disse-me Holmes.
Eu e Holmes usamos nossos lenços sobre a mão como cuidado para não estragarmos a pista e, com a ponta de nossas armas, batemos no vidro para quebrar os cacos, que foram colocados em uma bandeja que encontramos. 
Os policiais que ali se encontravam nos observavam sem saber o que fazer em meio aquela bagunça.
Enquanto coletávamos o material, ouvimos uma voz feminina bem conhecida atrás de nós.
- Sherlock!
Assustei-me com a presença da Senhora Reece naquele local.
- Lana, como vai querida! - cumprimentei-a com carinho.
- Melhor agora Doutor. - respondeu-me com o sorriso encantador.
- Eu não acredito. Eu coloquei groselha no vinho da santa ceia para merecer isso! O que faz aqui senhora? - perguntou Holmes de forma rude.
- É mais fácil encontrar você em uma cena de crime do que no seu apartamento. - esclareceu ela.
Ao ouvirmos as risadas dos policiais, olhamos bravos para eles, que disfarçaram olhando para o teto ou fingindo procurar algo no chão.
- Posso ajudar? - disse ela, sem se importar com a indelicadeza de meu amigo.
- Claro que pode! Pegue uma vassoura e comece a faxina. - ordenou ele.
- Holmes, não se trata uma senhora assim! - repreendi meu amigo.
- Não estamos nem na metade do dia e o você já brigou comigo por duas vezes hoje, Watson. Será que a idade está lhe fazendo perder a noção do perigo? - enfrentou-me.
Paramos e nos encaramos seriamente. Para a minha sorte, Lestrade chegou e interrompeu nossa briga; raras foram as vezes que ganhei uma discussão de Holmes.
- Noite agitada! Acabei de saber de seu irmão, Holmes. Como ele está? - perguntou o inspetor.
- Está bem. - respondeu meu amigo ainda bravo.
- Senhora Reece, é um prazer revê-la, mas este lugar não é para senhoras. - reparou Lestrade.
- Pois se acostume comigo, inspetor. Pretendo frequentar todos os locais onde acontecerem crimes daqui para frente. - respondeu ela, encarando Holmes.
- Cuidado senhora, você realmente poderá estar no local do próximo crime, mas como vitima e não como uma intrometida! - ameaçou meu amigo.
- Como conseguiu entrar aqui? - perguntou o inspetor a Lana.
- Simples, disse lá fora que eu era namorada de Sherlock. – respondeu sorrindo.
- Como se atreve? Isso é mentira! - gritou ele, indignado.
- Mas pode ser verdade quando você quiser! - sorriu ela.
Até eu quase perdi a paciência com Lana, suspirando profundamente. Era nítido no olhar de Holmes o quanto ele estava se segurando para não atirá-la pela janela já quebrada.
Lestrade, segurando o riso, tentou consertar a situação antes que o pior acontecesse.
- Holmes, creio que vai investigar o caso já que envolveu seu irmão. Quer que eu faça alguma coisa? – ofereceu o inspetor.
Holmes respirou profundamente.
- Preciso de três coisas Lestrade. A primeira que mande entregar aquela jaula na casa onde tenho meu laboratório. A segunda é que desminta o que esta senhora disse aos policiais lá fora e a proíba de entrar em locais interditados, e a terceira, mande internar esta doida em um manicômio. - disse meu amigo saindo com a bandeja repleta dos cacos de vidros.
- Lana, por favor, não insista mais! - pedi a ela pela milésima vez.
- Jamais vou desistir de conquistá-lo, Doutor. - respondeu-me tão linda.
Despedi-me rapidamente dela e do inspetor e corri para o coche.
- O que vamos fazer agora? - perguntei a meu amigo.
- Vou para o meu laboratório analisar o vidro e aguardar a jaula. - disse mais tranquilo, observando os cacos.
- Quer que eu faça alguma coisa? - ofereci-me.
- Sim, quero que vá à casa do Senhor Bell com a desculpa de dar condolências e veja se consegue descobrir mais alguma coisa. Se descobrir onde está o tal lobo morto que mordeu a criatura, traga-o para mim. - pediu-me.
Holmes desceu do coche em frente a sua mansão e eu segui para a casa do senhor assassinado naquela noite.
Como eu esperava, já havia muitos parentes e amigos no local, consolando a família. Após confortar a esposa do Senhor Bell por alguns minutos, fui até o terraço interno da casa, onde havia um garoto de aproximadamente dezoito anos. Pela sua tristeza, só podia ser o filho dele.
- Seja forte! Sua mãe e suas irmãs vão precisar muito de você. - disse-lhe.
Ele apenas suspirou profundamente; parecia não querer conversa alguma.
- Eu sou médico. Se eu puder ser útil em alguma coisa, estou à sua disposição. – ofereci-me.
- Obrigado. – finalmente falou comigo.
- Você chegou a ver a tal criatura que seu pai havia caçado? – perguntei, com receio de estar sendo inconveniente.
- Eu estava caçando com ele. Matamos algumas raposas e armamos algumas armadilhas. Já estava anoitecendo quando ouvimos grunhidos de um lobo. Quando chegamos perto, vimos que o lobo estava mordendo a perna de um ser muito estranho. O corpo parecia de um homem, sem roupas; a pele parecia de um lagarto. Era muito magro e alto, com braços e pernas finas. A cabeça era enorme, o nariz esquisito, com a boca pequena e olhos grandes e vermelhos.
- Seria um animal com formas humanas? – estranhei.
A descrição do menino era um pouco diferente da criatura que vi no clube, a qual tinha pêlos e cara de lobo.
- Não sei o que era, eu nunca tinha visto nada parecido. Meu pai matou o lobo com um tiro e a coisa tentou fugir, mas estava com uma das pernas muito machucada e caiu. Meu pai segurou a criatura até que eu lhe trouxesse a jaula. Ajudei a prender a coisa e parecia que ela estava com muito medo. Voltamos para casa e meu pai estava muito ansioso para mostrar a coisa para toda a cidade. Já era tarde quando conseguiu arrumar a carruagem, amarrando a jaula na parte traseira, e foi para o clube.
- O que fizeram com o lobo morto? – indaguei.
- Está lá nos fundos, junto com as raposas mortas. Meu pai pretendia tirar a pele hoje. Vou precisar enterrar os bichos, antes que o cheiro fique insuportável. – contou-me.
- Deixe-me resolver este problema para você. – propus ao garoto.
Era a minha chance de pegar o lobo para Holmes. Fui até a sala e interrompi a conversa em uma roda de cavalheiros, amigos do falecido, pedindo ajuda a eles para dar um destino às raposas.
Os homens, também caçadores, concordaram ir até os fundos da mansão fazer o trabalho necessário. Disseram-me que tirariam as peles, para não perder a caça, e enterrariam os restos.
Acompanhei-os até o local e identifiquei o lobo entre os animais que já estavam cheirando mal.
Informei aos cavalheiros que o lobo, por ter tido contato com a criatura, precisaria ser levado para perícia. Eles me entregaram o animal sem nenhuma objeção.
Por causa do mau cheiro do bicho, eu não conseguiria alugar um coche, então um dos senhores me ofereceu um cavalo. Enrolamos o lobo em um pano e o coloquei em meu colo para cavalgar.
Por onde passei pela cidade, as pessoas me olhavam indignadas, torcendo o nariz. Passei muita vergonha, e justo eu, que havia adquirido com Holmes o hábito de me banhar todos os dias, quando muitas pessoas na cidade ainda tinham o costume de se banhar no máximo duas vezes por ano.
A criada da mansão de meu amigo atendeu a porta fazendo cara feia.
- Doutor, o que é isso?
- Sinto muito, trouxe um animal morto. Ordens do Holmes. Onde ele está? – perguntei-lhe.
- No laboratório. - respondeu ela correndo para cozinha, com a mão fechando o nariz.
Levei o bicho para o laboratório e coloquei-o sobre uma das mesas. Estranhamente, os cacos de vidro estavam do lado do microscópio, a jaula estava no chão ao lado de sua cadeira, mas Holmes não estava ali.
Subi para o segundo andar para procurá-lo quando ouvi o barulho de cama batendo forte na parede e gemidos de mulher vindo do quarto dele.
Não acredito!”, pensei chateado.
Fui para o cômodo do banho e enchi a enorme tina de água quente. Foi um alívio me livrar de minhas e roupas e mergulhar na água.
Após mais de uma hora, Holmes apareceu só de calça e camisa semiaberta, fumando o seu cachimbo.
- Pelo cheiro, me trouxe o lobo morto. Bom trabalho Watson. - agradeceu-me.
- Obrigado Holmes. Enquanto eu carregava um bicho morto e morria de vergonha pela cidade por sua causa, você estava aqui se divertindo. - permiti-me invadir a intimidade dele.
- Lana está no quarto. - confessou-me meio chateado consigo mesmo.
- Ah, Holmes! Você briga com ela e depois a leva para a cama. - novamente o repreendi pela terceira vez no dia.
- Foi maldade de Lestrade. Mandou me entregarem a jaula e Lana juntos. - contou-me.
- Sei! - achei graça do seu argumento.
- É complicado ficar sozinho com uma mulher. - justificou-se.
- Eu entendo! - precisei concordar.
E que homem não concordaria, ainda mais se tratando de uma mulher linda como a Senhora Reece.
Passei a lhe contar tudo o que aconteceu na casa do Senhor Bell e da vergonha que passei carregando o bicho.
- Minhas roupas terão que serem queimadas. Um médico não pode se vestir com roupas que tiveram contato com um animal morto. - disse a ele.
- Eu queimarei. Vou lhe buscar umas roupas minhas para se vestir.
Holmes voltou minutos depois com roupas limpas e um lençol, no qual enrolou minhas roupas, levando-as para queimar.
As roupas que me trouxe, como era de se esperar, ficaram grandes em mim. Por mais finas e elegantes que fossem, ficou engraçado em meu corpo já que tive que dobrar a barra das calças, da camisa e do casaco.
Desci para a sala onde o encontrei novamente, voltando do quintal da mansão.
- A criada vai lhe servir o almoço. Não deve ter comido nada até agora. - ofereceu-me ele.
- Não, obrigado. O mau cheiro do bicho me fez perder a vontade de comer. Melhor analisa-lo logo e enterrá-lo.
- Vou usá-lo para espantar a Lana daqui, quando ela acordar. - contou-me.
Só pude rir. Que outro homem no mundo usaria um bicho morto para se livrar de uma mulher, além de Holmes?
- Vou voltar para o apartamento. Ivy deve estar me esperando para suas aulas. Nos veremos amanhã. - despedi-me dele.
Passei o resto do dia em companhia da criança. Agora que Holmes estava entretido também com o mistério do lobo, talvez o caso do assassino dos “sem cabeças” demorasse mais para ser resolvido. Isto significava que Ivy ficaria mais tempo conosco.

Capitulo 16 - O encontro

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