Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capitulo 20 - O monstro

Tudo parecia tranquilo no bordel, então eu e meu amigo seguimos para casa. 
Quando já estávamos na Baker Street, vimos o policial que fazia a vigia em frente ao nosso prédio, completamente distraído, e uma figura pequena, coberta por um casaco preto de adulto, se afastando do local.
Reconheci o meu casaco e não foi preciso dizer nada a meu amigo; ele já sabia quem estava em baixo do sobretudo e disparou os cavalos em direção à menina que estava fugindo.
Ivy ouviu o barulho da carruagem e saiu correndo, tentando nos despistar se escondendo em meio ao nevoeiro da noite. 
Estava muito escuro e, na neblina, o tamanho pequeno da menina e o casaco preto nos dificultaram em encontrá-la.
Holmes passou às rédeas para as minhas mãos e pulou da carruagem. Vi que ele correu em direção ao cemitério.
Eu o segui e parei a carruagem em frente ao grande portão, onde amarrei os cavalos.
Também corri por entre os túmulos sem ter a menor noção para onde tinham ido os dois. Parei ofegante e me pus a ouvir algum ruído para tentar localizá-los.
Passados alguns minutos, avistei Holmes trazendo Ivy embaixo do braço.
- Solta, me deixa! – gritava ela.
- Eu não avisei que o porquinho da índia estava conquistando nossa confiança para conseguir fugir? – reafirmou meu amigo, se aproximando de mim.
- Ivy, estou muito decepcionado com você! – gritei com a menina.
- Dane-se, eu quero ir embora! – berrou comigo.
Retornei tão chateado carregando a criança para a carruagem, que não quis falar mais nada. A viagem de volta foi em completo silêncio.
Chegamos ao prédio e o policial da vigia, percebendo que havia falhado, correu para nos pedir desculpas. Não brigamos com ele porque, felizmente, chegamos a tempo de evitar a fuga.
Na sala do nosso apartamento, coloquei a menina sentada no sofá e decidi mostrar autoridade com ela. Holmes sentou-se em sua escrivaninha.
- Você está de castigo senhorita. Nunca mais vou confiar em você! – esbravejei.
- Eu preciso ir embora! – respondeu ela com firmeza.
- Por quê? O que tanto você precisa fazer na rua? – gritei com ela.
- Preciso pegar minha irmã. – confessou ela.
- Eu vi a sua irmã e ela está muito bem cuidada por seu pai. Ele lhe bateu porque você é desobediente e mereceu. – confrontei a menina.
- Não adianta Watson! O melhor há fazer é entregá-la ao pai. – aconselhou Holmes.
A menina colocou suas mãos sobre o ventre, como quisesse se proteger.
- Nunca! Ele nunca mais vai me pegar! – berrou ela, com a cabeça baixa.
Fiquei branco com a atitude de Ivy. Suas mãos protegendo o ventre me fizeram pensar em algo terrível. 
Olhei para Holmes e ele estava petrificado; nos olhamos assustados e em silêncio e sabíamos que estávamos pensando a mesma coisa.
Holmes se levantou, andando de um lado para outro com a mão na cintura, olhando para o chão, muito pensativo. Quando parou, olhou para a criança e suspirou profundamente.
- Cuide dela, Watson. – disse-me saindo.
- Não fuja Ivy. – fui inciso com a menina.
Desci correndo atrás de meu amigo e encontrei o policial, ainda envergonhado, na porta do prédio.
- Suba e fique com a menina. Não a deixa nem por um segundo sozinha. – ordenei a ele, que me atendeu prontamente.
Holmes me viu dando a ordem ao policial e me esperou em sua carruagem.
- O que vai fazer? – perguntei a ele, sentando-me ao seu lado.
- Você sabe muito bem o que a menina quis no dizer, Watson, e ela pareceu-me muito sincera. Preciso tirar esta história a limpo. – respondeu-me.
- É terrível demais para acreditar, Holmes. – comentei assustado.
- A mulher do espelho nos pediu para salvarmos suas filhas e no dia em que fomos a casa do pai de Ivy, se lembra que observei uma mancha de sangue lavada no centro do lençol da cama? – recordou meu amigo.
- Se for verdade, Holmes, eu vou matar aquele homem! Mas como vamos fazê-lo confessar? – indaguei.
- Da forma mais antiga que existe. – afirmou meu amigo, parando em frente a um bar.
Acompanhei meu amigo entrando no local, que já estava quase vazio devido ao horário.
- O que vão querer? – perguntou-nos o atendente.
- Quero seis garrafas de uísque, do melhor que tiver. Nós vamos levar. – pediu meu amigo.
O homem não conseguiu disfarçar o susto com a quantidade pedida, mas trouxe as garrafas sem fazer perguntas. Holmes as pagou e voltamos para a carruagem.
- Finja que estará bebendo Watson, só ele deve ficar bêbado. – esclareceu-me.
Entendi o plano de Holmes. Um homem alcoolizado sempre acaba contando segredos, até os que jamais revelaria sóbrio, e no dia em que estivemos na casa do pai de Ivy, ele estava cheirando a bebida.
Chegamos ao local e batemos na porta, com as garrafas nas mãos. O homem nos atendeu muito mal humorado, com cara de quem ainda estava dormindo.
- O que querem a esta hora?
- Senhor, sinto muito pelo horário, mas sua filha fugiu de nossa casa e estamos muito preocupados. Viemos ver se ela veio para cá. – mentiu meu amigo.
- Aquela diaba! Ela não perde por esperar quando eu a pegar. E vocês são irresponsáveis! Não me entregaram a menina e deixaram ela fugir. – esbravejou.
- Ela é danada demais! Está mesmo precisando de umas palmadas. Ganhamos estas garrafas de uísques no jogo, quer provar conosco?– ofereceu meu amigo, mostrando as garrafas.
O homem nos observou estranhando nosso comportamento, mas seu olhar para a bebida é de quem não conseguiria recusar.
- Entrem, mas não podem demorar, tenho trabalho logo cedo. – aceitou ele.
O homem foi colocando três copos sobre a mesa da cozinha, enquanto nos sentávamos e abríamos duas garrafas.
- Vocês sempre andam por aí, com toda essa bebida nas mãos? - admirou o pai de Ivy.
- O senhor é jardineiro, certo? – puxou conversa Holmes, para não ter que se explicar.
- Eu presto serviços nas casas dos ricos. – confirmou ele.
- Eu me lembro que o senhor nos contou que trabalha nas proximidades da Trafalgar Square. Conhecia o juiz que morava lá e foi assassinado? – continuou meu amigo,
- Não, esse eu não conhecia. – respondeu.
Holmes continuou inventando assunto e enchendo o copo do senhor, enquanto nós dois só molhávamos a boca com a bebida.
No quarto copo, o homem já estava mais alegre e nos contando sobre a vida particular das pessoas para as quais trabalhava. Abrimos as outras garrafas e continuamos incentivando-o a falar.
Na terceira garrafa, ele já estava muito alcoolizado e rindo à toa.
- Sua esposa morreu há cinco meses. Já encontrou outra senhorita para se casar? – comentou Holmes, fingindo também já estar meio alto.
- Deus me livre! Casamento é um fardo, não quero mais. – riu ele.
- Mas nenhum homem consegue ficar sem mulher, ou o senhor vai virar monge? – brincou meu amigo.
O homem, muito bêbado, se encurvou na mesa e falou baixinho, como se estivesse nos contando um segredo.
- Eu estava usando a diaba da minha filha! – disse rindo e colocando o dedo na boca, fazendo sinal de silêncio.
Senti meu sangue esquentar e já ia me levantar da mesa para lhe dar uma surra, quando Holmes colocou sua mão em braço, me segurando.
- E o bebê também? – perguntou meu amigo, fingindo que estava  compartilhando o segredo.
- Ainda não, mas quando dou banho nela, me dá uma vontade...
Mal o homem terminou de dizer a frase e Holmes se levantou violentamente da mesa, levantando o homem pela gola da camisa e lhe acertando um soco em cheio no rosto.
Mesmo cambaleando, o infeliz quis revidar e veio para cima do meu amigo, que novamente lhe desferiu um golpe tão forte, que o fez voar para o chão.
Holmes foi sobre o homem caído e lhe deu tantos socos, que o mesmo desmaiou.
Também tive vontade de agredi-lo, mas no estado em que meu amigo o havia deixado, era impossível. 
Tirei minha arma do bolso e apontei para a cabeça dele, porém, por mais ódio que eu estivesse sentindo, não consegui apertar o gatilho.
Todas as vezes em que atirei, foi por defesa. Daquele jeito, a sangue frio, me parecia covardia.
Holmes percebeu minha indecisão e me ajudou.
- Deixe Watson. A morte seria uma recompensa para esse monstro. Precisamos pensar em algo pior.
Abaixei minha arma e virei meu rosto com nojo daquele homem desacordado no chão.
- Então era por isso que Ivy queria ser um menino! Foi por causa da violência que sofreu por ser menina. - compreendi a atitude da criança.
Holmes, ainda sentado no chão, olhava para baixo com a mão na boca, chocado com a confirmação do horror praticado naquela casa.
- Não adianta levarmos a policia. Será a nossa palavra contra a dele, e por mais que a policia nos deva favores, você sabe que ele acabará inocentado. E o pior, seremos obrigados a lhe entregar a menina. – disse para meu amigo, em tom de desespero.
Holmes me olhou muito pensativo.
- Não podemos provar o crime que ele cometeu, mas podemos fazê-lo pagar por outro crime. – sugeriu.
- Como assim? – não entendi.


- Nós temos um crime que não podemos revelar o criminoso, porque fizemos um pacto de proteger a assassina, e temos um criminoso que não podemos provar o crime que cometeu. – disse Holmes, olhando para o homem desacordado.
- Você está querendo apresentá-lo a policia como o assassino do juiz? Mas não temos como provar que foi ele quem matou o juiz. – estranhei o plano dele.
- Temos os seus sapatos! – argumentou ele.
Fiquei olhando surpreso para o meu amigo.
- Troque seus sapatos com os dele. Vamos levá-lo à casa do juiz como se ele tivesse retornado ao local para roubar novamente. Os sapatos vão conferir com as pegadas deixadas na parede na noite do assassinato e o mordomo poderá testemunhar que ele é o mesmo homem que viu roubando naquela noite. – explicou meu amigo.
- Acha que o mordomo e a viúva concordarão em mentir? – especulei.
- Vão concordar, nem que tenhamos que coagi-los. Ou confirmam nossa história, ou entregaremos a viúva a policia. Podemos dizer que temos o vestido dela como prova do crime. – afirmou Holmes.
- Mas eu queimei o vestido. – recordei a ele.
- Mas eles não sabem. – justificou.
- O que estamos esperando? – respirei fundo, concordando com o plano.
Troquei meus sapatos com os do homem. Em mim, os sapatos dele ficaram pequenos e nele, os meus sapatos ficaram grandes. Holmes carregou o homem desacordado nos ombros.
- Pegue a trouxinha, Watson. – mandou-me.
- Que trouxinha? – estranhei.
- Aquela que está dormindo no quarto! – disse-me, como se eu fosse um tolo por não saber que trouxinha era bebê para ele.
Eu já tinha pensado no bebê, e era óbvio que eu não o deixaria sozinho naquela casa.
Fui até o quarto e peguei a irmã de Ivy, que dormia tranquilamente.
Meu amigo jogou o homem dentro da carruagem e nós fomos em cima dela, na parte do cocheiro, em direção a casa do juiz.
O mordomo ficou surpreso ao nos ver àquela hora da madrugada, e ficou aborrecido por ter que acordar a patroa.
- O que está acontecendo? – perguntou a viúva assustada.
- Senhora, lhe apresento o assassino do seu marido. – disse Holmes, apontando para o homem, desmaiado e ensanguentado, no chão da sala.
- Como? – assustou-se ela.
- A polícia precisa prender um criminoso pela morte de seu marido, e creio que a senhora, mais do que ninguém, deseja encerrar este assunto de uma vez por todas. Então lhe trouxemos um criminoso! Ele presta serviços de jardinagem pelas redondezas. Vocês vão dizer que ele retornou para roubar novamente e que desta vez tentou matar a senhora, mas o seu mordomo lutou com ele e o fez desmaiar. – explicou meu amigo.
- Senhor Holmes, está nos pedindo para incriminar um inocente? – espantou-se o mordomo.
- De inocente ele não tem nada, meu caro. Pode acreditar, o crime dele é muito pior do que ter assassinado o juiz. – esclareci, enquanto balançava a neném em meu colo.
- Eu não sei se posso fazer uma coisa dessas. – mostrou-se indecisa a viúva.
- Ou aceitam mentir ou vamos chamar a policia e contar-lhes a verdade, que foi a senhora a assassina. Watson vá buscar o vestido com as manchas de sangue na carruagem. – mentiu meu amigo.
- Não! Eu farei o que querem. – aceitou a Senhora, com medo.
- Muito sensato. - agradeceu Holmes.
O mordomo, também visivelmente assustado, parecia estar pronto para receber as orientações de meu amigo.
- Vá chamar os policiais e trate de convencê-los de que este homem era o ladrão que você viu na noite do assassinato do juiz. Os sapatos dele são os mesmos que deixaram as pegadas na parede da janela. – ordenou Holmes ao mordomo.
Depois da saída do empregado, meu amigo carregou novamente o pai de Ivy e o levou para o quarto da viúva. 
Preparamos a cena do crime, revirando algumas coisas e arrombando novamente a porta da cozinha.
Retornamos para a carruagem e a levamos a uma distância da casa, onde não seríamos vistos. Não demorou e três policiais chegaram acompanhando o mordomo.
Mais alguns minutos e Lestrade apareceu com mais policiais. Vimos quando o mesmo saiu da casa, com meus sapatos nas mãos, indo até o jardim lateral. Com certeza, foi comparar se o modelo e o tamanho conferiam com as pegadas na parede.
O bebê acordou chorando e meu amigo levou um grande susto. Eu tive que cantar para que ela voltasse a dormir, enquanto Holmes me olhava com cara de quem estava contando carneirinhos. 
Para meu alivio, consegui fazer a criança dormir novamente.
Já estava amanhecendo quando os policiais saíram da casa, levando preso o homem ainda desmaiado.
O mordomo observou os policiais partirem, e aguardou que a nossa carruagem se aproximasse do portão.
- Fizemos o que nos mandaram. A polícia acreditou que ele é o assassino. – confirmou-nos.
- Bom trabalho. – agradeceu Holmes.
Finalmente pudemos ir embora.
- Vamos precisar comprar um berço. – avisei.
- Nem pensar Watson. E ainda precisamos resolver o problema de não deixarmos a policia ir até a casa daquele monstro. Eles não podem descobrir que esta trouxinha não está mais lá ou irão desconfiar. – lembrou-me meu amigo.
- E o que vamos fazer? – esperei que ele já tivesse um plano.
- Vamos para o nosso apartamento. Se conheço Lestrade, depois de prender o homem na sede da policia, ele irá direto ao nosso prédio me procurar para se gabar do seu feito. Então eu lhe direi que, como já que estamos com a irmã mais velha, vou buscar a trouxinha. Você terá que me esperar escondido com ela na carruagem. Se entrar com esta “miniatura de encrenca” no apartamento, será arriscado ela acordar e chorar de novo. – explicou meu amigo.
- Muito bem. Ficarei a sua espera. – concordei.
Paramos um pouco longe do nosso prédio, onde Holmes amarrou os cavalos.
- Volto assim que me livrar do inspetor. – avisou meu amigo.
Alguns minutos depois que Holmes saiu, passou o coche da policia com Lestrade. Meu amigo tinha razão, mesmo ainda sendo muito cedo, Lestrade não se aguentou para contar-lhe que prendeu o assassino do juiz.
Esperei mais uns vinte minutos e meu amigo retornou.
- Convenci Lestrade a deixar a "trouxinha" sob nossa responsabilidade. Ivy está dormindo e o policial ainda está lá, a vigiando do lado da cama. Pedi a ele que ficasse até a chegada da Senhora Evelyn. – informou-me.
- Então já posso levar o bebê para o nosso apartamento. – conclui.
- Quer me enlouquecer, Watson? Qual o seu problema? Você não teve infância? Já chega aquele “projeto de chefe de gangue” que você insistiu em cuidar! O que pretende? Abrir o orfanato Doutor James H. Watson? – brigou comigo.
- Meu nome é John. – corrigi Holmes pela milésima vez.
- Muito bem, seu nome é John. Mas não podemos deixar a “trouxinha” tão perto da irmã maior. Vai ser fácil para ela roubar o bebê e fugir. – advertiu-me.
- E o que pensa em fazer com o bebê? – perguntei com receio da resposta.
- Que outra solução temos senão pedir ajuda a Senhora Reece? Não quero nem imaginar o que ela vai me pedir em troca. – suspirou ele.
Era uma ótima solução. Lana era uma das pessoas mais generosas e caridosas que eu já havia conhecido, e o bebê não a colocaria em perigo, já que o assassino estava atrás da irmã maior.
- Quando aquele monstro acordar da surra que você lhe deu, ele vai contar à policia o que nós fizemos. - retornei ao nosso assunto principal.
- Passamos boa parte da noite com dois policiais e eles viram que ficamos no bordel. Vamos dizer que dormimos lá; tenho certeza que Emanuela irá concordar em nos dar um álibi. Será a nossa palavra contra a palavra do pai de Ivy, e ainda podemos dizer que ele está com raiva porque não lhe entregamos a menina. - planejou Holmes.
- Certo, e ainda temos os testemunhos da viúva e do mordomo. Acho que vamos conseguir enganar a polícia. - tranquilizei-me.
Chegamos à casa da Senhora Reece, onde a governanta demorou em nos atender porque ainda estava dormindo. Ficamos na bela sala de visitas enquanto a criada foi acordar Lana.
Do alto da escada, Lana sorriu para meu amigo, sem me ver.
- Sherlock, você sabe que pode entrar em meu quarto a hora que quiser! Venha, o que está esperando? – gritou ela, vestindo um roupão por azul.
- Comporte-se, não estou sozinho! – suspirou ele.
- Doutor, bom dia, perdoe-me se fui inconveniente. – disse ela, descendo pela escada.
- Bom dia, querida, perdoe-nos por incomodá-la tão cedo. – cumprimentei-a.
- O que tem aí? – indagou-me, observando a trouxinha de panos em meu braço, onde estava a irmã de Ivy.
- Um grande problema! – Holmes respondeu.
- É um bebê, Lana. – mostrei-lhe, tirando os panos de cima da criança.
- É seu? – olhou Lana enciumada para Holmes, pensando se tratar de um filho dele.
Achei graça na situação. Holmes como pai era algo impensável.
- Claro que não, Lana! Holmes não costuma fazer coisas que tenham pé ou cabeça. – disse rindo.
- É óbvio que não, minha cara. Eu jamais cometeria um erro desses. – esclareceu ele.
- Lana, a irmã deste bebê está sob nossa proteção porque testemunhou um crime. O pai delas está preso e a mãe é falecida. Não podemos ficar com ela, por isso precisamos de sua ajuda para tomar conta dela, até encontrarmos uma solução definitiva. – expliquei-lhe.
- Não posso negar nada a Sherlock, e eu sei que ele vai me recompensar por isso. – aceitou ela, pegando a neném nos braços e piscando o olho para Holmes.
Meu amigo fez cara de desânimo.
- É uma menina, Lana, tem quase cinco meses e se chama Grace. – contei-lhe.
- Vou cuidar muito bem dela, Doutor. Assim vou treinando para quando tiver filhos com Sherlock.- provocou ela.
- Fumou algum cogumelo alucinógeno, Senhora? Aproveite que você está doidona e tente voar, pulando do telhado. - brincou meu amigo.
Esforcei-me para não rir, e tentei me mostrar grato pela ajuda.
- Lana, também não tenho experiência com bebês, mas o que precisar, e só me chamar. - ofereci-me.

 - E não se apegue a essa criatura. Só precisamos de algum tempo para decidir o que fazer com ela. – disse ele, se retirando para a porta.
- Obrigado, querida. – despedi-me de Lana.
Eu e meu amigo levamos os cavalos para se alimentarem em sua mansão. De lá tomamos um coche de aluguel para retornarmos a Baker Street.
Em nosso apartamento, encontramos Ivy na cozinha, tomando café em companhia da nossa criada. Pela tristeza da menina, deveria estar pensando na discussão que tivemos a noite.
Não pude deixar de olhá-la com admiração; tão pequena e já tinha passado por coisas tão terríveis. E ainda sim, sua maior preocupação era impedir que a irmã menor sofresse a mesma violência da qual foi vítima.
- Ivy, temos uma coisa para lhe contar. – disse-lhe com carinho.
Ela me olhou com raiva, talvez pensando que íamos lhe dar uma má notícia.
- Seu pai foi preso e sua irmã está conosco. – Holmes contou-lhe antes de mim.
- Onde está a minha irmã? – perguntou assustada.
- Em um lugar em segurança. – acalmei a menina.
- Não minta Watson. Sua irmã está sendo cuidada por uma maluca, mas ela ficará bem. – interrompeu meu amigo.
- Eu quero ver minha irmã! – implorou-me.
- Logo você a verá. Eu prometo. –tranquilizei-a.
- Quem está com ela? – insistiu a menina.
- Uma amiga do Watson! – respondeu-lhe Holmes.
- Amiga minha... – murmurei.
- Eu quero minha irmã comigo. - pediu-me a menina, quase chorando.
- Confie em mim! Nós vamos proteger você e sua irmã. – disse olhando-a diretamente nos olhos.
- Desista dessa história de fugir. Ontem, o assassino nos seguiu. Ele está nos vigiando e não sabemos se ele reconheceu você. – aconselhou meu amigo.
A menina nos olhou brava.
- Precisamos pegar logo esse criminoso, antes que ele mate mais alguém. – pensei alto, cansado e com sono.
- Nestes dias em que estive observando os sócios, descobri como é a rotina deles. Posso invadir suas casas em horários seguros para investigar. – revelou-me Holmes.
- Qual casa pretende invadir? – interessei-me.
- Perto da hora do almoço, a mansão do Senhor Creel estará vazia. Só ficará uma criada cuidando da limpeza e será fácil para procurar pistas sem ser descoberto. A mansão do Senhor Armim me dará mais trabalho, sua esposa e a ninhada de filhos saem muito pouco. - contou-me.
- Vou com você! Em dois poderemos ver mais coisas em menos tempo. – ofereci-me.
Apesar de estar sem dormir, descobrir na noite passada que o assassino estava nos vigiando, me deixou muito preocupado.
Enquanto Holmes foi para o banho, sentei-me na sala para recordar os acontecimentos da noite. A mensagem da mulher do espelho, que agora eu suspeitava ser a mãe das meninas, a descoberta de que estávamos sendo vigiados pelo assassino, a monstruosidade sofrida por Ivy e a mentira que inventamos para prender o pai dela. Foi mais uma noite em tanto.

Capitulo 21 - Uma nova vitima 

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