Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capitulo 21 - Uma nova vítima

A criada anunciou a visita de Gregson.
- Como vai Doutor? Lestrade me pediu para vir saber sobre o bebê que Holmes ficou de ir buscar. – entrou o inspetor.
Holmes entrou na sala e se incumbiu em responder.
- Levei a trouxinha para casa da Senhora Reece.
- Seria engraçado vê-lo cuidando de um bebê. – riu o inspetor para meu amigo.
- E o pai? Já o interrogaram? – começou a averiguar Holmes.
- Aquele mordomo deve ser um perito em boxe! O homem só acordou bem depois do dia amanhecer, e estava completamente lesado devido às pancadas que levou. Tivemos que levá-lo a um hospital. – contou o inspetor.
Notei um brilho de satisfação no olhar de Holmes.
- O médico que o examinou nos disse que ele está com traumatismo craniano. Talvez ele fique com amnésia para o resto da vida. Não houve meio de tomarmos o depoimento do assassino; ele mal conseguia falar. – continuou Gregson.

- Mas que danado esse mordomo! – meu amigo fingiu admiração.
Também disfarcei minha satisfação. Diante do que aquele monstro havia feito com a filha, o traumatismo lhe caiu bem como castigo.

Holmes e eu já tínhamos um plano para enganar a polícia, quando o jardineiro contasse toda a verdade, no entanto, a amnésia dele nos foi uma ótima notícia. 

Gregson prosseguiu com as informações.
- Os sapatos dele conferem com as pegadas do dia do assassinato, e os testemunhos da viúva e do mordomo já serão o suficiente para condená-lo, mesmo que ele não confesse. E mais um caso resolvido. Agora só nos falta pegarmos o assassino que decapitou o Senhor Heston para que a imprensa pare de nos criticar; estamos sendo cobrados por este caso porque ele era um homem muito rico. – disse o inspetor.
- Tome cuidado Gregson. O assassino poderá tentar matar qualquer um de nós depois do que viu ontem. – aconselhou meu amigo.
- Estou tomando Holmes. Eu e Lestrade estamos andando escoltados. E também vamos reforçar a vigia neste prédio. – informou-nos.
- Eu agradeço. – aceitou meu amigo.
- Lestrade foi conversar com o nosso superior sobre o caso da Senhorita Riley. Vamos preparar uma equipe de policiais e legistas para irmos a casa dela, levantarmos as provas e a prendermos junto com a tia. – avisou-nos.
Senhora Evelyn entrou na sala anunciando a visita da Senhora Reece. Holmes me olhou desanimado.
- Bom dia, rapazes. Acabei de fazer compras para a minha princesa e não aguentei para vir mostrá-la. Ela não está linda? – entrou Lana radiante.
Ivy, que estava no quarto, ouviu a chegada da Senhora Reece e veio correndo para sala.
- Grace! 
- Você deve ser a irmã! Prazer, sou Lana Reece. – apresentou-se, deixando que Ivy carregasse o bebê no colo.
- Esta é Ivy. – apresentei a menina a Lana.
Grace estava vestida realmente como uma princesa e até uma pequena tiara de ouro foi presa em seu cabelo.
- Pobre trouxinha, vai virar um brinquedo em suas mãos. – criticou meu amigo, olhando para Lana.
- Já estou apaixonada por ela. É a minha boneca. – respondeu Lana.
Ivy a olhou enciumada.
- Que tal fazermos um passeio para nos conhecermos? – Lana convidou Ivy.
- Sinto muito Lana, mas Ivy esta sendo perseguida por um homem muito perigoso e precisa ficar aqui, sob nossa vigia. – expliquei.
- Ora, Doutor, tem cinco policiais aí fora que poderão escoltá-las para onde quiserem. Deixem a Senhora e a senhorita se divertirem fazendo coisas de mulheres. – ofereceu o inspetor.
Holmes fez sinal negativo com a cabeça. Era muito perigoso.

- Por favor, Doutor, faz muito tempo que não vejo minha irmã. Eu lhe prometo que vou me comportar. - implorou Ivy.
Pela primeira vez, vi sinceridade no olhar da menina.
Holmes resolveu se pronunciar.
- Senhora Reece, para a sua segurança e para a segurança desta trouxinha, é melhor ficar longe daqui e da irmã mais velha.
- Mas já que estou aqui, vou ficar para que a menina possa passar um tempo com sua irmã. É um pecado separar duas irmãs. - retrucou Lana.
- Bem, tem cinco policiais lá na porta. Podemos sair tranquilos Holmes e deixá-las à vontade para se conhecerem. - resolvi ajudá-las; fiquei com pena de Ivy.
Holmes apenas suspirou, balançando a cabeça negativamente. 
Após a saída do inspetor, eu e meu amigo guardamos nossas armas em nossos casacos e descemos para a rua, onde tomamos um coche de aluguel.
Lana e Ivy ficaram no apartamento, brincando com o bebê.
Holmes pediu para que o cocheiro nos levasse para sua mansão, onde havíamos deixado sua carruagem, depois que saímos da casa de Lana, pela manhã.
Como não sabíamos quanto tempo nos demoraríamos na mansão do Senhor Creel, escolhemos dois cavalos descansados e os alimentamos bem. Após atrelá-los à carruagem, seguimos para a investigação.
Ao chegarmos à rua onde todos os sócios moravam, nos surpreendemos ao encontramos a carruagem de Lana parada em frente à casa do Senhor Armim e os cinco policiais que faziam a segurança de Ivy, conversando tranquilamente em frente à mansão.
Eu e Holmes nos olhamos sem entender nada e pulamos correndo da carruagem.
- O que fazem aqui? – perguntou Holmes a um dos policiais.
- Alguns minutos depois que vocês saíram, um cocheiro nos entregou um cartão do Senhor Armim e nos informou que a Senhora Armim e suas filhas, conforme haviam combinado com o Doutor, estavam esperando vocês e a sobrinha para um almoço. – contou-nos o policial.
Holmes me olhou assustado.
Lembrei-me do almoço com os três sócios, onde o Senhor Armim realmente fez o convite a Ivy. Para não lhe fazer desfeita, eu havia concordado.
- Mas vocês não deviam de ter deixado que a Ivy saísse de casa. - ralhei com eles.
- Nós contamos para a Senhora Reece do convite, e ela decidiu que, para não fazer desfeita para a família Armim, ela faria companhia a menina neste almoço. E nós também estamos aqui, para protegê-las. - defendeu-se o policial.
- Há quanto tempo estão aqui? – indagou Holmes, bravo.
- Há uns dez minutos apenas. – esclareceu o policial, sem entender o nosso nervosismo.
Corremos para o portão da mansão, onde um criado logo apareceu para nos atender.
- Precisamos falar com o Senhor Armim. – pedi afobado.
- Ele está viajando, cavalheiros. – avisou-nos.
- A Senhora Reece está nesta casa, por favor, precisamos falar com ela urgente. – pediu Holmes.
- Entrem. Ela está na sala conversando com a Senhora Armim. – convidou-nos.
Após sermos anunciados, a dona da casa veio nos receber.
- Senhores, sejam bem vindos. Que bom que puderam vir. – cumprimentou-nos, carregando a irmã de Ivy em seu colo.
- Sherlock, Doutor, como descobriram que estávamos aqui? Eu não sabia onde vocês estavam para lhes contar sobre o convite. – estranhou Lana, logo atrás da Senhora Armim.
- Onde está Ivy? – pedi angustiado.
- Na sala ao lado, brincando com minhas filhas. – respondeu-me a dona da casa.
- Com licença. – disse-lhe mal educado, me retirando em direção à porta indicada.
Percebi que a Senhora Armim se assustou com meus modos rudes. Enquanto andava, ouvi Holmes tentando consertar a situação.
- Perdoe-nos a indelicadeza, mas precisamos levar a menina com urgência. - explicou ele.
Quando abri a porta, vi as crianças sentadas no chão. As filhas do Senhor Armim estavam mostrando suas bonecas para Ivy.
O que me apavorou foi ver uma mão, coberta por uma luva preta, surgir na parede onde havia uma estante de livros, ao lado da porta onde eu estava. A parede estava se abrindo vagarosamente e silenciosamente, como uma passagem secreta, e nela surgiu o assassino.
- Cuidado! – gritei, correndo e me colocando à frente das crianças.
O homem vestido de preto, com chapéu e lenço escondendo todo o rosto, entrou na sala me apontando uma arma.
Holmes surgiu pela porta e se atirou em cima do criminoso. Os dois caíram no chão rolando e meu amigo conseguiu desarmar o assassino.
O homem se levantou rapidamente, retirou uma faca de seu bolso e correu para a porta, por onde havia acabado de entrar Lana, colocando-lhe a faca em seu pescoço.
Meu amigo, que já estava pronto para atacar o bandido, teve que recuar ao ver Lana ameaçada por ele.
Tentei ver algo de seu rosto, mas era impossível. Notei que ele deveria estar usando roupas sobrepostas, porque o volume de seu corpo era anormal.
Dois homens entraram pela porta, perguntando-nos o que estava acontecendo.
O criminoso foi levando Lana em direção à passagem secreta, que se fechou após entrarem.
Holmes correu para a estante e começou a jogar todos os livros no chão, buscando o dispositivo para abrir a passagem novamente.
Ajudei-o, mas nada da parede se abrir.
- Senhora, como abre esta parede? – gritei para a dona da casa.
- Eu não sei. – respondeu ela, balançando freneticamente o bebê no colo, devido ao nervosismo.
- Senhor Holmes, somos irmãos do dono desta casa. Por favor, o que aconteceu aqui? - perguntou um dos homens que havia acabado de entrar.
- Tem que haver alguma coisa nesta sala que abra a passagem. – disse Holmes desesperado, movendo tudo o que via na frente, sem se importar com as demais pessoas que estavam ali.
- Senhores, aquele homem de preto sequestrou a Senhora Reece. - contei-lhes, na esperança que nos ajudasse.
Eles me olharam como seu eu fosse um louco.
- Sequestro? - disse um deles, achando absurdo.
Após um suspiro para se acalmar, Holmes observou atentamente toda sala com seu olhar clínico. Em segundos, seus olhos se fixaram em um crucifixo pendurado na parede. Meu amigo moveu o crucifixo e a passagem se abriu.
Entramos correndo por ela e, ao descermos uma escada, encontramos um túnel muito rústico sem nenhuma luz. Seguimos pelo corredor extenso até que chegarmos a outra escada, a qual levava a um alçapão. Após o levantarmos, saímos na cocheira, no fundo da mansão do Senhor Armim. 
Os dois irmãos do Senhor Armim nos seguiram.
Atrás da cocheira, havia um enorme portão que estava aberto e na rua, de pouca circulação, meu amigo encontrou o anel de Lana. Nem sinal de nossa amiga e do assassino.
Retornamos à mansão da Senhor Armim, entrando pela cozinha.
- Onde está seu marido? – perguntou Holmes à dona da casa.
- Foi para Leeds, junto com os outros sócios da empresa. – informou ela, ainda assustada.
Holmes andou de um lado para o outro, olhando para o chão, pensativo. Ele sabia que precisávamos correr contra o tempo porque Lana estava prestes a ser morta.
- Watson, preciso que vá às casas vizinhas e confirme com os empregados se os outros sócios estão em Leeds e quando foram para lá. – pediu-me.
Enquanto sai correndo para a rua, Holmes foi ao porão da mansão.
Retornei rapidamente com a confirmação de que todos os sócios haviam partido pela manhã de trem. Holmes havia retornado para a sala e interrogava a dona da casa.
- Porque seu marido mandou o convite para a menina vir aqui hoje?
- Ontem à noite, meu marido contou aos três irmãos dele, que havia conhecido o Senhor Holmes, e que havia convidado a sobrinha do Doutor Watson para passar um dia com nossas filhas. 
Um dos irmãos interrompeu a senhora.
- Nós mal podíamos esperar para conhecê-lo, Senhor Holmes, então imploramos ao meu irmão que os convidasse para o almoço de hoje, mesmo ele não estando aqui. Nosso irmão mais novo está para chegar. – contou-nos.
Interrompi a conversa um pouco afoito, preocupado com Lana.
- Os sócios, com exceção da Senhorita Riley, partiram no trem por volta das seis horas. – informei a meu amigo.
- Não sabia que está casa tinha uma passagem secreta? - perguntou Holmes à Senhora Armim.
- Não. - respondeu ela com sinceridade.
- Senhor Holmes, todas as casas desta rua têm passagens secretas. Foram construídas assim. Mas isso não era para ser do conhecimento das esposas e filhos. - respondeu o outro irmão.
- Então, as casas vizinhas dos sócios também tem passagens? - surpreendi-me.
- Sim, nós não sabíamos onde estava a passagem, nem como entrar por ela, mas George já havia nos comentado sobre elas. - confirmou o irmão.
- Quem mais sabia sobre este almoço? - indagou Holmes.
- Estávamos aqui ontem, eu e meus três irmãos, os Senhores Roy e Creel, nossas senhoras e alguns criados. - respondeu o senhor.
- Como eu imaginava. E quem frequenta esta casa também deve saber que as filhas do Senhor Armim costumam brincar na biblioteca. - pensou alto meu amigo.
- Sim, é onde passam a maior parte do tempo. - confirmou o homem.
Holmes passou a andar de um lado para outro, pensando em voz alta.
- Nós vimos o assassino por volta das vinte e duas horas de ontem, quando o seguimos na rua da minha casa. Ele viajou para Leeds às seis horas, chegando lá às oito horas. Então ele teve tempo de retornar para cá, saindo de lá às dez horas e chegando aqui ao meio-dia. Agora são quinze horas e vinte minutos. – observou ele, em seu relógio de bolso.
- Não há mais trens para Leeds hoje, só amanhã pela manhã. – avisei.
- Ele não vai voltar para Leeds com Lana no trem. As pessoas acabariam suspeitando do sequestro. – raciocinou.
- Então ele vai para Leeds a cavalo e só chegará lá a noite. – pensei.
- Mas não sabemos se ele levará Lana para Leeds. – disse-me Holmes com olhar muito sério.
Eu também já havia pensado a mesma coisa; o assassino poderia matá-la ainda em Londres e só depois retornar a Leeds.
- Ele sabe que vamos atrás dos sócios e que não vai perder tempo aqui, afinal, se nós chegarmos antes dele em Leeds, seu álibi naquela cidade será desmascarado. Vamos Watson, precisamos ir a Leeds buscar respostas. – conclui meu amigo.
- Senhores, podemos ajudar em alguma coisa? - perguntou um dos irmãos.
- Creio que não. - respondeu Holmes, se retirando, puxando Ivy pela mão.
Peguei o bebê dos braços da Senhora Armim e sai atrás de Holmes e Ivy. Os policiais que ainda estavam em frente à mansão nos seguiram sem entender o que havia acontecido.
Corremos para o nosso apartamento, onde meu amigo mandou-me fazer uma mala pequena, mesmo não sabendo por quanto tempo ficaríamos fora. A pouca bagagem nos facilitaria a locomoção.
Não poderíamos esperar o trem do dia seguinte; cada minuto era importante. Viajaríamos em sua carruagem.
Decidimos que Ivy e sua irmã ficariam escondidas na terceira casa de Holmes, a qual ele usava como esconderijo. O problema é que não tínhamos alguém que pudesse proteger as crianças lá, uma vez que o assassino de fato tinha reconhecido Ivy e estava a sua procura. 
Nem eu ou meu amigo poderíamos pedir para que uma de suas criadas protegessem Ivy. Era perigoso demais e já bastava termos envolvido Lana nesta história.
Propus a Holmes que procurássemos Rod, o policial que havia salvo minha vida quando quase fui morto pelo crime organizado. Eu criei um laço de gratidão e amizade com ele e tinha plena confiança em sua capacidade para proteger as crianças e guardar segredo em relação ao esconderijo de meu amigo.
Arrumei todas as coisas de Ivy em uma enorme mala. Também peguei todas as roupas compradas por Lana para Grace, as quais tinham ficado na carruagem dela.
Na carruagem de Holmes, seguimos com as crianças para a sede da policia, a procura de Rod.
Já na entrada, notamos uma agitação anormal na Scontland Yard.
- Holmes, que bom que está aqui. Acabamos de ficar sabendo que mais um corpo decapitado foi jogado em uma rua. – apressou-se em nos contar Lestrade.
Meu amigo e eu ficamos petrificados.
- Um corpo de mulher! – pensou alto Holmes.
- Isso mesmo! Como sabe? – surpreendeu o inspetor.
Parecia que eu tinha levado um doloroso soco no estômago.
- Lana! – falei atordoado para Holmes.
- Vamos para lá! – convidou-nos Lestrade.
- Vamos depois. Não podemos levar as crianças até lá. Onde está Rod? – perguntou meu amigo, muito abatido.
- Alguém aí chame o Rod. – berrou Lestrade para os demais policias.
O inspetor saiu e Rod logo veio ao nosso encontro, acompanhado por Gregson.
Em uma sala reservada, explicamos a eles a situação das crianças. Rod aceitou a incumbência de cuidar das meninas e Gregson concordou em liberar o policial para o trabalho.
Entramos todos na carruagem e durante todo o percurso, não consegui parar de pensar em Lana e no seu triste destino. Cheguei a me sentir culpado por tê-la envolvido naquela história macabra. Percebi pelo olhar triste de Holmes que ele também estava com remorso.
Chegamos a enorme mansão, em um dos bairros mais nobres de Londres, onde uma senhora bem velha, surda, mas muito bem vestida nos recebeu. Tratava-se da criada, que meu amigo vestia com roupas caras para que os vizinhos pensassem ser ela a dona da mansão. Assim não levantaria suspeitas de que aquela casa era seu esconderijo.
Rod e as meninas ficaram na mansão enquanto eu, Holmes e Gregson seguimos para o local onde o corpo decapitado havia sido encontrado.
- Até que enfim vocês chegaram! – reclamou Lestrade.
- Onde está o corpo? – perguntou Gregson não vendo mais nada na rua.
- Ele foi jogado na frente de centenas de pessoas que estavam nesta rua em plena luz do dia. Imaginem o tumulto que foi! Os jornalistas que vieram para cá estavam sendo implacáveis com os policiais, por isso tivemos que enviar o corpo para o necrotério para liberarmos o local e não haver confronto com a imprensa. – esclareceu-nos.
- Então temos muitas testemunhas que viram quem jogou! – animou-se Gregson.
- Disseram que viram uma carruagem velha, com dois homens mascarados dirigindo. Passaram pela rua, a porta do coche se abriu e o corpo foi jogado de dentro. A carruagem saiu em disparada e ninguém teve a magnifica ideia de segui-la. – criticou o inspetor.
- Vamos para o necrotério. – disse-me Holmes.
Meu amigo, que dirigiu sua carruagem durante todo o tempo, voltou a pegar as rédeas, e eu novamente me sentei a seu lado.
- Dois homens mascarados, Watson, agora o assassino não está mais agindo sozinho. Deve ter contratado bandidos, e usou uma carruagem velha para despistar. Usar a carruagem recém comprada seria assinar atestado de culpa. – refletiu meu amigo.
- Pensei em outra coisa, Holmes. Dois homens dirigindo a carruagem, a porta se abriu e o corpo foi atirado lá de dentro; então havia um terceiro alguém dentro para atirar o corpo. São três homens e são três os sócios. – especulei.
- Não, tenho certeza de que só um deles é o assassino e já sei quem é. Só preciso encontrar a prova que ligue ele aos assassinatos.
- Pobre Lana! Não acredito no que lhe aconteceu. – disse, sentindo um aperto no peito.
Chegamos ao necrotério e seguimos para a sala onde o corpo estava disposto sobre o mármore, coberto por um pano branco.
O legista que nos recebeu contou-nos que havia recebido ordens de Lestrade para que nada fosse feito antes que Holmes analisasse a vitima.
Meu amigo pediu para que ficássemos sozinhos na sala.
Quando a porta se fechou, não consegui mais segurar a emoção. Senti uma dor profunda por estar perto do corpo decapitado de minha amiga.
Holmes o descobriu e eu mal pude olhar. Quando levantei minha cabeça, observei que ele segurava a mão do cadáver, analisando atentamente os dedos. 
Depois abraçou o corpo, desabotoando o vestido nas costas. Ao abrir as vestes, revelou os seios, os quais observou pensativo.
Eu novamente abaixei os olhos; os seios nus abaixo da garganta cortada era algo terrível de se ver.
Holmes me olhou sério e enfim me contou o que tanto observava.
- Não é Lana!
- Tem certeza? – meu coração disparou de alivio.
- Tenho, não é o corpo dela e este vestido não é o que Lana estava usando há duas horas atrás quando foi sequestrada. – mostrou-me.
Eu não havia reparado, mas realmente Lana não estava trajando aquele vestido.
- Quem pode ser? – espantei-me.
- É a falsa Senhorita Riley. – revelou-me.
- Como sabe? – admirei sua certeza.
Ele apenas me apontou, com o olhar, para os seios.
Holmes já havia estado com Lana e com a Senhorita Riley e, observador como era, era óbvio que conhecia bem o corpo das duas.
Tive pena da pobre falsa Senhorita Riley. Mesmo ela sendo cúmplice do assassinato do casal Riley, ninguém merecia uma morte tão terrível. Mas confesso minha alegria em descobrir que aquele corpo não era de Lana.
- Vamos Watson, temos uma senhora para salvar. – apressou-se meu amigo em vestir o corpo.
Revelamos a identidade da nova vítima aos policiais e saímos rapidamente para a carruagem.
Holmes fez novamente um parada no caminho, desta em um banco, de onde retirou diamantes de seu cofre e os colocou em saquinhos, dando-me alguns para que eu guardasse no bolso de meu casaco. Poderiam nos ser úteis, já que ele acreditava que os dois homens que dirigiam a carruagem eram bandidos.
Enquanto isso, pagamos a um cocheiro que encontramos na rua, para que alimentasse os cavalos novamente. Saindo do banco, ginalmente pudemos partir para a Leeds.
Durante a viagem, pus me a pensar em como faríamos para encontrar Lana. Não quis incomodar Holmes porque sabia que ele estava pensando na mesma coisa.
Chegamos à cidade com o dia amanhecendo e, enquanto nos hospedávamos em um hotel, notei que Holmes olhava pensativo para o anel de Lana, o qual encontramos nos fundos da casa do Senhor Armim.
Foi só colocar nossas pequenas malas no quarto e ele me contou seu plano.
- Os três sócios vieram para cá a trabalho, então vamos procurá-los em lojas de joias.
Deixamos nossos cavalos descansando e tomamos um coche de aluguel, que nos levou a varias lojas.
Só na quarta loja encontramos o Senhor Roy, que se espantou em nos ver.
- Senhor Holmes e Doutor Watson. Não esperava encontrá-los aqui.
- Viemos a procura do Senhor Armim. Sabe onde ele está? – disse-lhe Holmes.
- Nós nos dividimos para visitarmos diversas lojas e clientes. Armim ficou de visitar um rico industrial desta cidade que sempre nos faz compras generosas. Posso saber porquê estão a procura dele? – estranhou.
- Ontem, uma amiga nossa foi sequestrada dentro da casa dele. – contou-lhe Holmes.
O homem demonstrou muito espanto.
- Como assim, um sequestro dentro da casa de Armim? Expliquem-me essa história direito! – solicitou-nos.
Holmes contou rapidamente sobre o convite para o almoço, a ida de minha sobrinha acompanhada pela Senhora Reece, a aparição de um bandido por uma passagem secreta e o sequestro.
- Não posso acreditar! – comentou Senhor Roy surpreso.
- Vocês três estiveram juntos ontem? – indagou Holmes.
- Não, desde que chegamos, cada um seguiu para seus compromissos, como havíamos combinado antes de viajarmos. – confessou Senhor Roy.
Era a resposta que esperávamos. O assassino aproveitou-se dos tais compromissos para criar um álibi.
Senhor Roy nos levou até a casa onde encontraríamos Senhor Armim. Sua surpresa em nos ver foi a mesma do Senhor Roy anteriormente.
Contamos-lhe novamente a mesma história, sem mencionar o assassinato da falsa Senhorita Riley. O Senhor demonstrou estar apavorado.
- Meus irmãos estavam afoitos para conhecê-lo, Senhor Holmes. Eu apenas quis dar-lhes este agrado. Como isso pode ter acontecido em minha casa? Como um criminoso poderia saber sobre a passagem? - indagou Senhor Armim.
- Você já comentou com tantos conhecidos sobre as passagens que não me admira um criminoso saber. - reclamou Senhor Roy.
- Preciso voltar para Londres. - disse Senhor Armim.
- Onde está o Senhor Creel? – perguntei-lhes.
- Está em uma reunião com as senhores da sociedade local, para mostrar-lhe algumas pedras. Vamos até lá avisá-lo do acontecido. – informou Senhor Roy.
Logo que chegamos ao local, o terceiro sócio também se assustou com nossa presença e, novamente tivemos que relatar a mesma história.
- Podemos fazer alguma coisa para ajudá-lo, Senhor Holmes? – perguntou, parecendo estar meio atordoado.
- Eu vou voltar para Londres. Preciso ir para junto de minha família. – informou Senhor Armim.
- Nós vamos com você. Precisamos ser rápidos para não perder o último trem de hoje. – apressou-se Senhor Creel.
Comentamos com os sócios que havia sido encontrado outro corpo decapitado em Londres, mas não contamos que sabíamos que era o da Senhora Riley, sócia deles. Holmes não queria ter que explicar de como a reconheceu pelos seios. 
O assassino era um deles e provavelmente estava pensando que eu e meu amigo acreditávamos que o corpo fosse de Lana.
Acompanhamos os sócios até o hotel onde haviam se hospedado e depois até a estação de trem. Holmes explicou aos sócios que havíamos viajado para a cidade em sua carruagem, portanto, teríamos que voltar na mesma e nos encontraríamos em Londres.
- Vamos realmente voltar para Londres? – perguntei a meu amigo, observando o trem partir com os três homens.
- Não, até termos certeza de que Lana não está aqui. – respondeu-me.
- Bastará verificarmos os álibis deles no dia de ontem e descobriremos quem é o assassino. – sugeri.
- Acha mesmo que ele já não subornou alguns conhecidos para nos confirmar que ele esteve aqui o tempo todo? Por isso não demonstrou nenhuma preocupação com a nossa presença aqui. Não se esqueça que ele é um homem rico e que ele sabia que viríamos para cá. – comentou meu amigo.
- Holmes, não quero pressioná-lo, mas não consigo imaginar como conseguiremos encontrar uma pista de Lana nesta cidade. – desabafei.
- Ela vai nos dar a pista. – respondeu-me, se retirando para um coche de aluguel.
Meu amigo me explicou o seu plano, me mostrando o anel de Lana.
- Este anel tinha uma importância sentimental para Lana e fazia par com um colar, que ela não tirava nem para dormir. Ela me contou que eram de sua mãe. Eu acredito que este anel não caiu por caso. Lana o jogou para me dar uma pista!
- E como ele nos ajudará a encontrá-la? – indaguei.
- É o colar, par deste anel, que vai nos revelar onde ela está. Penso que Lana jogou o anel para me avisar que ela jogaria o colar quando percebesse estar próxima ao cativeiro. – contou-me.
- Será que Lana conseguiria pensar em algo assim? – duvidei.
- Há algum tempo atrás, eu contei a ela sobre o caso onde consegui descobrir o cativeiro de um menino sequestrado porque encontrei seu brinquedo nas mãos de um menino de rua. - respondeu-me.
 - Eu me lembro, um dos sequestradores jogou o brinquedo fora, em frente ao cativeiro, e o menino de rua lhe revelou onde encontrou o brinquedo. - recordei-me.
– Exato. Acredito que Lana jogou o anel, par inseparável do colar, para me avisar que jogaria o colar ao entrar no cativeiro. - continuou Holmes.
- Mas se ela jogou o colar próximo ao cativeiro, uma joia cara dessas será facilmente encontrada por qualquer pessoa. E quem encontrou o colar, não vai querer devolvê-lo. – constatei.
- Por isso vamos a todos os jornais da cidade anunciar uma grande recompensa, bem maior que o valor do colar, para atrair quem o encontrou. Vamos dizer que é uma joia de família e que foi perdida casualmente. – explicou-me seu plano.
Após passarmos pelos dois jornais da cidade e pagarmos pelo anúncio de uma página inteira, entramos em um restaurante para almoçarmos, mas nenhum dos dois conseguiu comer qualquer coisa.
Holmes estava muito ansioso porque a publicação sairia somente no dia seguinte. Quando ficava neste estado, somente as drogas o acalmavam, mas eu o convenci a não comprá-las. 
Voltamos para o hotel onde ele passou o resto do dia no banho que lhe foi preparado.
Mal o dia amanheceu e ele já foi para a rua comprar o jornal. O anúncio estava realmente chamativo, dizendo se tratar de uma joia de valor sentimental e que pagaríamos o dobro de seu valor material.
Usamos o endereço do hotel no anuncio do jornal e o dono não se importou. Ele estava tão feliz por estar recebendo o grande detetive de Londres, que nos permitiu o atrevimento.
Eu me sentei na recepção pensando em Lana, enquanto Holmes andava de um lado para o outro, olhando para o relógio na parede.
O primeiro homem que nos procurou, apresentou uma joia muito inferior.
- Não é esta, Senhor, mas obrigado por ter vindo. – tentei ser gentil com ele.
- Mas não quer comprar esta, eu vendo barato. – ofereceu-me.
- Não, muito obrigado. – respondi-lhe com mais frieza, percebendo ser um aproveitador.
Uma prostituta de rua muito mal vestida, com o rosto coberto de pó e uma maquiagem exagerada, entrou no hotel, para desespero do atendente, já que o hotel era muito bem frequentado.
- A senhora não pode entrar aqui! – reclamou ele.
- Vim buscar a recompensa. – gritou ela.
Holmes correu em sua direção.
- Trouxe a joia? – perguntou ele.
- Cadê o dinheiro? – retrucou ela.
- Mostre-me a joia e eu lhe darei a recompensa. – garantiu ele.
- Primeiro quero ver o dinheiro! Quem me garante que vocês não vão me roubar a joia. – desconfiou ela.
Meu amigo retirou um dos saquinhos com as pedras que tinha no bolso.
- A recompensa é em diamantes, mas se quiser posso trocá-los por dinheiro. – disse-lhe, mostrando as pedras.
Os olhos da mulher se arregalaram.
- Muito bem, venha comigo e eu lhe darei a joia em troca dos diamantes. – sugeriu ela.
Puxei meu amigo para um canto para lhe falar do meu receio.
- Pode ser uma emboscada! Pode se tratar de assaltantes querendo lhe atrair para lhe roubar. – adverti.
- Não tenho escolha Watson, é a vida de Lana que está em risco. Eu vou com ela e você continua aqui, caso apareça outro “achador de joia perdida”. O colar de Lana tem a pedra idêntica ao do anel. – avisou, me entregando o anel.
Meu amigo saiu me deixando desesperado. 
Passou-se uma hora e nada dele voltar. Neste tempo apareceu um menino com um colar horroroso pedindo a recompensa, o qual pus para correr.
Já estava pensando em chamar a policia, quando Holmes entrou no hotel, ainda acompanhado da prostituta.
- Por favor, preciso de minha carruagem! – pediu ele ao atendente.
- Vou mandar atrelar os cavalos imediatamente Senhor. – respondeu o rapaz muito gentil.
- Watson, suba ao quarto e pegue nossas bagagens enquanto fecho nossa conta. – mandou-me.
- E então, era a joia de Lana? – disse-lhe aflito.
Ele tirou o colar do bolso e me entregou; era o par do anel.
Subi correndo para o quarto e quanto voltei, meu amigo e a prostituta, sentada ao seu lado, já me esperavam na carruagem. Sentei-me ao lado dela.
- Watson, esta é Alice. Ela concordou em nos levar ao local onde encontrou o colar. – informou-me.
- Prazer! – cumprimentei a mulher, que aparentava ser simpática depois que recebeu a recompensa.
Ela me sorriu e foi orientando Holmes pelas ruas de Leeds. Entramos em um bairro muito pobre, onde nossa carruagem de luxo chamou muito a atenção.
Eu observava o colar de Lana em minhas mãos.
- O colar está arrebentado na fechadura. Será que puxaram do pescoço de Lana?
- Este colar é valioso. Se o assassino tivesse intenção de roubá-lo, não o teria arrebentado e não o deixaria jogado por aí. Foi a própria Lana quem o arrancou do pescoço. Com certeza ela estava com as mãos amarradas e precisou puxá-lo com muita força. – esclareceu Holmes.
A prostituta parecia nem estar nos ouvindo; seu olhar está paralisado para dentro do saquinho de diamantes.
- Vou oferecer essas pedras para o convento. Meu sonho sempre foi ser freira, mas não fui aceita por ser prostituta. Agora com estas pedras, quem sabe! – contou-nos ela.
Eu e Holmes a olhamos de boca aberta. Poderíamos pensar em loucuras para uma mulher fazer com a pequena fortuna, mas se tornar freira passou longe.
- Foi ali que eu encontrei o colar, ontem de madrugada! – apontou ela, em frente a uma casa abandonada de dois andares.
- Parece vazia. – comentei.
- Mas mora gente aí. As casas aqui são todas velhas assim mesmo. – informou ela.
Holmes seguiu com a carruagem para um local mais seguro, onde os bandidos não pudessem vê-la.
- Alice, precisamos de sua ajuda. – pediu meu amigo.
- O que está acontecendo? – suspeitou ela.
- A dona do colar que você encontrou foi sequestrada e ela pode estar naquela casa. Se ajudar-nos a resgatá-la, lhe ajudaremos a entrar para o convento. – ofereceu ele.
Ela pensou um pouco e suspirou profundamente.
- É perigoso, não é?
- Se fizer tudo como eu mandar, teremos uma boa chance de sairmos todos vivos. – foi sincero ele.
Ela parecia assustada, mas acabou aceitando.
- O que eu tenho que fazer?
- Agora são quase nove horas. Vá com a carruagem buscar tudo o que pretende levar com você para Londres e volte para este local antes das nove e meia. Eu e o Doutor viremos para cá neste horário e você nos levará até a estação. Agora preste muita a atenção, se estiverem nos seguindo, eu e o Doutor saltaremos próximo a estação e você sumirá dali o mais rápido possível. Os bandidos vão continuar nos seguindo, e isso lhe dará tempo para fugir. Siga com a carruagem para Londres e me procure na Baker Street. É só perguntar por Sherlock Holmes. – explicou-lhe.
- Está bem. – respondeu-lhe, parecendo confusa.
Eu e Holmes descemos da carruagem e Alice partiu com ela.
- Precisamos ser rápidos para encontrar Lana, Watson. Se o colar estava aqui, ela está por perto. - disse-me.
- Acha mesmo que esta mulher vai voltar? – não confiei.
- Ela quer ser freira, acho que não mentiria. – respondeu-me.
A única forma de entrar na casa era pela porta da frente, pois todas as casas eram germinadas e havia muitas pessoas na rua. Fomos para a rua detrás e a casa vizinha de fundos à casa que precisávamos investigar era um casebre com um portão baixo na frente.
A rua ali estava mais tranquila, o que nos facilitou entrarmos na casa. Passamos bem devagar pela cozinha, onde uma mulher lavava pratos de costas e nem nos viu.
Entramos no quintal da casa, muito coberto pelo mato e chegamos ao muro, que não era tão alto. Do outro lado, também havia um jardim em total descuido, com o mato quase a nossa altura e algumas árvores.
Pulamos o muro, atravessamos todo quintal e subimos por uma escada de cimento, chegando à porta da casa que foi facilmente aberta por Holmes com seu canivete, depois de ter certeza de que não ouvia nenhum barulho vindo de dentro.
Entramos na cozinha toda bagunçada e seguimos por um corredor, passando por dois quartos vazios. Chegando à sala rústica, encontramos três homens conversando, sendo que um deles limpava seu revolver.
Meu amigo me deu sinal para voltarmos à cozinha.
- Pode haver mais bandidos lá em cima. Fique vigiando estes aqui em baixo e me dê cobertura para que eu dê uma olhada no segundo andar. – sussurrou.
- Tudo bem. – concordei também falando muito baixo.
Voltamos pelo corredor e Holmes conseguiu subir a escada para o segundo andar sem ser notado. Escondido, na parede do corredor, apontei minha arma para os bandidos, principalmente para aquele que estava com um revolver na mão.
Alguns minutos se passaram e um tiro foi disparado no segundo andar.
Os bandidos subiram correndo; deixei-os ir na frente e subi depois deles, a fim de colocá-los em minha mira.
Observei, escondido na escada, que eles chegaram a uma porta grande e pesada de madeira, a qual estava trancada por dentro. Eles bateram e gritavam pelo nome de Ralph, perguntando o que havia acontecido e ordenando-o a abrir a porta, enquanto se jogavam contra ela, tentando arrombá-la.
Deduzi que meu amigo deveria ter trancado a porta; então ele só poderia estar saindo pela janela do quarto.
Retornei correndo para o lado de fora da casa para ajudá-lo
Como eu havia previsto, ele estava na janela carregando Lana nos braços. Ela estava toda amarrada, com um capuz na cabeça. Eu a reconheci pelo vestido.
- Pegue Watson. – gritou ele da janela, jogando-me Lana da altura onde estava.
Lana caiu sobre mim e formos os dois para o chão. 
Levantei eu corri para o muro da casa, carregando Lana, enquanto Holmes pulou a janela e deslizou pela parede, caindo e rolando no chão.
Os bandidos conseguiram quebrar a porta do quarto e apareceram na janela, atirando em nós.
Mesmo o muro sendo baixo, eu não consegui pular carregando minha amiga.
Em meio aos tiros, Holmes em um só pulo conseguiu subir no muro. Ele estendeu seus braços para que eu lhe entregasse Lana e também pudesse pular. Desci rapidamente para o outro lado e Holmes novamente a jogou para mim.
- Corra Watson! – gritou ele, permanecendo no muro e atirando contra os bandidos.
Entendi que ele queria ganhar tempo para que eu tirasse Lana dali. Atravessei o quintal e entrei no casebre, sem me preocupar com a moradora. A mulher, ainda na cozinha, se assustou e berrou ao me ver passar rapidamente.
Pulei sem nenhuma dificuldade o portão baixo da casa e sai para a rua com Lana nos braços, indo em direção para o local onde havíamos combinado de encontrar a carruagem. Ainda não era o horário combinado e Alice não estava lá.
Ouvi novamente berros da mulher da cozinha e conclui que Holmes estava saindo do casebre. O som de tiros estava nas ruas e as pessoas do local começaram a correr e gritar desesperadas.
Vi Holmes se aproximando e atirando para trás, em direção aos bandidos que o seguiam, até que as balas de seu revolver acabaram. Esperei que ele chegasse até mim.
- Pegue Holmes! – joguei Lana em seus braços.
Eu tinha duas armas carregadas e era a minha vez de atirar nos bandidos para que ele se adiantasse e tivesse tempo de recarregar seu revolver.
Os três bandidos continuaram atrás de nós, também atirando e recarregando suas armas.
Eu corri e atirei para trás até que minhas balas acabaram. Holmes percebeu e me esperou chegar até ele.
- Pegue Watson e vá para a estação de trem. – gritou-me, jogando Lana de novo para mim.
Agora era ele quem estava atirando nos bandidos. Por onde passávamos, as pessoas nas ruas se abaixavam assustadas.
Corri o mais rápido que pude e, já com uma certa distância, parei para recarregar minhas armas. Passei por cima de uma pequena ponte de um lago seco e vi que Holmes se desviou do caminho, passando por baixo. Ele novamente estava com armas sem balas. De cima da ponte, lhe joguei Lana.
- Pegue Holmes!
Parei no final da ponte e usei o muro para me proteger dos tiros do bandidos, que haviam seguido meu amigo e atravessavam o lago seco. Disparei vários tiros, o que os obrigou a procurarem proteção em baixo da ponte.
Reconheci a carruagem de meu amigo passando por cima da ponte com Alice dirigindo-a. 
Ela diminuiu a velocidade a minha frente para que eu a alcançasse e conseguisse subir no transporte.
Os bandidos estavam muitos próximos quando passamos por Holmes carregando Lana. Alice novamente segurou as rédeas dos cavalos para que meu amigo conseguisse entrar na carruagem.
Eu abri a porta e ele me atirou Lana como se ela fosse uma trouxa de roupas. Peguei-a como pude e coloquei-a no banco, enquanto se debatia ainda amarrada e encapuzada. Notei que ela não conseguia falar, deveria estar amordaçada sob o capuz.
Dei a mão e puxei meu amigo para dentro da carruagem quando entramos na estação de trem. Olhamos pela janela e vimos que os bandidos ainda estavam próximos.
- O trem está partindo! – avisou-me Holmes.
- Vamos ter que voltar a Londres de carruagem. – observei o trem se locomover ainda lentamente.
- Não podemos. Se os bandidos não nos virem partir naquele trem, vão roubar cavalos dos coches que ficam na estação e vão nos alcançar nesta carruagem. Temos pegar aquele trem! – conclui meu amigo.
Holmes colocou a cabeça para fora da janela para instruir a prostituta.
- Alice, nos leve para aquela porta. – gritou ele, apontando para a porta aberta de um vagão.
Alice conseguiu conduzir a carruagem para o lado do trem, se aproximando da porta indicada.
Holmes abriu a porta da carruagem e, como um gato, pulou para dentro do vagão. Em um ato de loucura, segurou-se na porta do vagão e esticou seu pé até a porta da carruagem, ficando com um pé no vagão.
Rapidamente lhe entreguei Lana, a qual ele precisou segurar com um braço só. Com a outra mão na porta do vagão, ele a puxou, caindo os dois para dentro do trem.
Ele mal caiu e já levantou para me ajudar a pular.
- Venha Watson! – gritou-me.
Eu me desequilibrei na porta da carruagem e cai no chão de terra. Por sorte, as rodas da carruagem não me atropelaram.
- Watson! – assustou-se meu amigo.
Levantei-me rapidamente com dor devido aos arranhões que sofri, e vi que os bandidos, já há uma boa distância, ainda correriam atrás de nós.
Disparei até a porta do trem, que já estava aumentando a velocidade. Holmes me estendeu sua mão e nem sei como consegui segurá-la; meu amigo me puxou com força para dentro do vagão. Cai completamente sem fôlego ao lado dele.
Vimos pela porta, Alice nos sorrindo e desviando a carruagem para longe da visão dos bandidos, os quais nos observavam de longe agora.
Voltamos a cair sentados no chão do vagão, tentando nos recuperar da corrida. Só então ouvimos Lana se debatendo a nossa frente, jogada no chão.
Eu lhe retirei o capuz e o pano que amarrava sua boca, enquanto Holmes lhe soltou as mãos. Senti uma alegria imensa ao ver a cabeça dela em cima do pescoço.
Ela, assim que solta, veio para cima de nós, nos dando tapas com as duas mãos.
- O que vocês dois pensam que eu sou? Como se atreveram a ficar me jogando como se eu fosse um saco de batatas! Seus malucos, atrevidos! Como podem tratar uma mulher desse jeito! – gritou ela furiosa, nos batendo.
Eu e Holmes, ainda sentados no chão do vagão, nos protegemos colocando nossos braços na frente, até que ela, cansada de nos bater, rosnou com um cão muito bravo e se levantou.
- Nós devíamos tê-la desamarrado só em Londres. – sussurrei com medo para meu amigo, que me olhando assustado, concordou com a cabeça.
A porta atrás de nós se abriu e um funcionário do trem apareceu intrigado com a gritaria de Lana.
- O que está acontecendo aqui? Vocês são intrusos? – indagou-nos.
Meu amigo e eu nos levantamos rapidamente.
- Senhor, nos perdoe, mas quando chegamos à estação, o trem já estava partindo. – explicou Holmes, retirando do bolso interno de seu casaco um maço de dinheiro.
O homem arregalou os olhou para a quantidade de libras no maço.
- Isto é o suficiente para viajarmos até Londres? – perguntou meu amigo, entregando-lhe o dinheiro.
- Dá para ir até a China se quiserem! – brincou o homem abrindo o sorriso – Venham, vou acompanhá-los até a primeira classe.
Eu e Holmes demos passagem a uma Lana ainda muito brava. O vestido que estava usando ainda era o mesmo do dia do sequestro, e estava todo maltrapilho; seus lindos cabelos tão bem cuidados estavam completamente desarrumados.
No melhor vagão do trem, eu e Holmes nos sentamos em uma mesa e Lana sentou-se em outra, do outro lado do corredor. Ela nos olhava com raiva enquanto resmungava palavras que não conseguíamos entender. Nem nas maiores indelicadezas de Holmes, ela havia ficado naquele estado.
O funcionário do trem, feliz com o bom dinheiro que havia ganho, nos serviu o chá com muita gentileza.
Depois de dias sem dormir e sem nos alimentarmos direito, até que enfim uma refeição tranquila.
Lana atacou faminta os pães, biscoitos e doces que lhe foram servidos.
- Não é a toa ela estar tão mal humorada. – comentei baixinho.
Holmes parecia se divertir ao vê-la daquele jeito, tão desleixado.
- Tomara que o lanche a acalme. Precisamos saber o que aconteceu no cativeiro e se ela conseguiu ver o assassino. – murmurou meu amigo.
- O que aconteceu no segundo andar daquela casa? - aproveitei para perguntar.
- A porta daquele quarto estava aberta e pude ver Lana jogada em uma cama, toda amarrada e encapuzada e um bandido sentado a sua frente, com um revolver nas mãos. Eu não tive escolha, tive que matá-lo para resgatar a Senhora. - contou-me.
A comida não a acalmou. Lana rosnava com um cão toda vez que olhava para nós dois.
A primeira classe estava quase vazia e os que estavam ali pareciam não se importar com a pobre senhora em estado lastimável. Talvez para ela, o mais difícil não era os olhares das demais pessoas, mas sim o fato de estar maltrapilha em frente ao homem que amava.
- Será que os bandidos seguirão Alice? – preocupei-me com a senhorita que havia nos ajudado a fugir.
- Espero que não. De onde eles estavam, não dava para ver quem estava conduzindo a carruagem e o interesse deles era em nós. Mesmo assim, só saberemos de Alice amanhã, se ela conseguir chegar a Baker Street. – refletiu meu amigo.
Finalmente o trem chegou à estação de Londres, onde descemos rapidamente e tomamos um coche para a casa de Lana.
Ela ainda nos olhava com raiva e, em uma tentativa de acalmá-la, Holmes lhe devolveu o colar arrebentado e o anel.
- Isto é seu! – entregou-lhe.
Ela pegou e nos virou o rosto, magoada.
- Foi muita esperteza sua em nos deixar suas joias como pistas para encontrá-la! – elogiei-a.
Tudo em vão para amenizar a raiva dela.
Descemos em sua casa e a acompanhamos.
- Lana, terá que vir conosco para um esconderijo. Pegue o for preciso. – ordenou-lhe Holmes.
- Eu não vou! Onde está a minha Grace? – perguntou-nos brava.
- Já está no esconderijo, querida. – respondi-lhe tentando ser gentil.
- Pois tratem de ir buscá-la! – olhou-nos com frieza.
Lana nos virou as costas e subiu à escada pedindo à sua criada que lhe preparasse o banho.
- Você terá trabalho com ela! – brinquei com meu amigo.
- Estou adorando vê-la com raiva de mim, mas preciso descobrir o que aconteceu no cativeiro. – suspirou ele.
- Não podemos deixá-la aqui. Assim que o assassino descobrir que a resgatamos, ela estará em perigo. – argumentei.
- Eu sei! Vamos esperar que o banho a acalme. – disse-me ele sentando-se no sofá.
- Agora que Lana está salva, me lembrei da Senhorita Riley. Por que será que o assassino a decapitou? – indaguei.
- Ela entrou na lista de vítimas a serem mortas pelo mesmo motivo que nós entramos; por práticas não aceitáveis pela inquisição. – respondeu-me.
- Inquisição? Você está se referindo à época de caça às bruxas?
- Isso mesmo. – confirmou.
A criada desceu a escada com cara de quem tinha visto uma cobra. Era sinal de que o banho havia terminado.
- Pelo jeito, o banho não adiantou. Ela continua uma fera. – suspirei.
- Deixe Lana comigo, eu a levarei ao esconderijo. Watson, preciso que vá até a policia para informar que a Senhora Reece já foi resgatada. Também preciso saber se Lestrade encontrou a sepultura do casal Riley e se conseguiu prender o “armário alemão”. E não vá à Baker Street por enquanto, é provável que haja bandidos na vigia. Se formos lá hoje, seremos seguidos. – explicou-me.
- Está bem. Então nos encontraremos no esconderijo mais tarde. – concordei.
Eu sai para a rua e Holmes subiu à escada.
Ao passar pela porta, lembrei-me que eu não havia pedido desculpas a Lana. Era um coisa tão simples, e talvez fosse exatamente isso que a estivesse incomodando. Retornei à casa e subi pelas escadas.
- Vá embora Sherlock! – gritou ela, no corredor do segundo andar.
- Precisamos conversar! Preciso saber o que aconteceu no sequestro e o que você viu do homem que a sequestrou! – disse ele autoritário.
- É só com isso que você se importa! Com sua investigação! – reclamou ela.
Os dois nem perceberam que eu estava quase no alto da escada. Holmes a puxou pelo braço e a agarrou, beijando-a. Ela se rendeu nos braços dele.
Virei-me e fui descendo a escada devagar para não fazer barulho, enquanto Holmes carregou Lana nos braços e a levou para o quarto.
Meu pedido de desculpas teria que ficar para depois.

Capitulo 22 - O assassino
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