Mais algumas ruas e meu
amigo mandou a carruagem parar.
A criança olhou pela
janela, com cara de enjoo.
- Foi ali. – apontou
o portão de uma casa.
Desci da carruagem com
Holmes para investigar; era a casa que havíamos visitado na
noite anterior, a casa da Senhorita Riley.
- O que acha Watson? –
perguntou meu amigo, com um sorriso no canto dos lábios.
- Acho que o nosso
assassino está por aqui. – respondi pensando na bonita senhorita.
Retornamos para a carruagem
e Holmes pediu ao cocheiro que nos levasse à casa do Senhor Heston,
filho do senhor decapitado.
A menina estava toda
mole; insisti para que voltássemos para o apartamento, mas Holmes me
convenceu que o ar da manhã lhe faria bem.
Senhor Heston nos
recebeu em seu escritório.
- Senhor Holmes, descobriu alguma coisa? – perguntou o senhor apreensivo.
- Ainda estamos
investigando e preciso de sua ajuda em relação a algumas
informações. – pediu meu amigo.
- O que quiser! –
atendeu ele.
- Conhece a Senhorita
Riley? – perguntou-lhe Holmes.
- Sim, mas porque a
pergunta? – não entendeu o senhor.
- É importante que me conte tudo o que sabe sobre ela. –
continuou meu amigo.
O homem não conseguia
disfarçar sua curiosidade, mas concordou em falar.
- Ela é sócia em uma
empresa e em uma loja de pedras preciosas importadas da
Turquia. Eu a conheci há um ano, quando começou a frequentar
algumas festas em minha casa e foi me apresentada pelo Senhor Roy,
seu sócio e vizinho.
- Um dos sócios é
vizinho dela! – falei alto.
Aquela informação era
muito interessante, visto que o assassino era o homem que vimos na
praça e, provavelmente, ele era próximo a Senhorita Riley.
- Todos os sócios da
empresa são vizinhos; eles moram na mesma rua. Uns são vizinhos do
lado, outros são vizinhos de frente.
Eu e Holmes nos olhamos
pensativos.
- Pelo que me contaram
desta Senhorita, seus pais eram muito doentes e ela abdicou de sua
própria vida para cuidar deles. Passou todos os anos de sua mocidade
trancada em sua casa, só vivendo para os pais e não se casou. Só
começou a sair e a frequentar a sociedade há um ano, já na idade
madura, depois da morte deles.
- Desde quando existe
esta sociedade entre eles? – indagou Holmes.
- Até onde sei, também
há um ano. Um turco, que também é sócio, precisava de capital
para investir no negócio, então reuniu os vizinhos e ofereceu
participação na empresa.
- Conhece o turco? –
perguntou meu amigo.
- Só o vi uma vez. Ele
vive mais na Turquia e vem poucas vezes para Londres; ele toma conta
do negócio por lá.
- Então a sociedade é
formada por um turco, pela Senhorita Riley, pelo Senhor Creel, Senhor
Roy e quem é o quinto sócio?
- Senhor Armim. Ele era
um simples corretor de imóveis que ficou rico se casando com uma
senhorita de família afortunada. Dizem que antes do casamento, ele andou cometendo pequenos golpes na cidade e que só se casou
por dinheiro, porque a senhora dele nunca foi uma mulher agraciada de
beleza.
- E o Senhores Creel e Roy?
- Senhor Creel é americano,
veio morar em Londres há uns dez anos e vive sozinho; já veio
muito rico para cá. O Senhor Roy está em seu segundo casamento,
a primeira esposa morreu. Tem nove filhos dos dois casamentos e é de
família tradicional londrina. Seus pais eram amigos dos meus. Acho
que é tudo que sei.
- Por ora já está
bom. Já conhecemos a Senhorita Riley e o Senhor Creel. Eu preciso
conhecer os demais sócios. – comentou Holmes.
- Isto é fácil. No
sábado haverá uma festa social na mansão do Senhor Roy. Eu não
poderei comparecer devido à tragédia que se abateu em minha
família, mas posso pedir ao meu amigo que os convide. – ofereceu
Senhor Heston.
- Eu agradeço muito
sua ajuda. – aceitou meu amigo.
- Senhor Holmes, por
favor, me diga qual a ligação dessas pessoas que lhe falei com a
morte de meu pai? – solicitou Senhor Heston.
- A carruagem usada
para transportar o corpo foi localizada e pertence aos sócios desta
empresa. – contou-lhe Holmes.
- Então acha que foi
um deles? – perguntou o Senhor muito sério.
- Ainda estamos
investigando Senhor Heston, mas se as minhas suspeitas estiverem
certas, o senhor está correndo risco de morte. – advertiu-lhe meu
amigo.
- E porque acha isto? –
surpreendeu o filho da vítima.
- O assassinato de seu
pai não foi por roubo; então tudo leva a crer que seja uma
vingança. No entanto, assassinos comuns simplesmente matam com armas de fogo
ou facas. Decapitar um corpo envolve uma frieza e um motivo
específico e creio que o motivo do assassinato do seu pai seja sua
ligação com a Ordem que frequentam. E se este for realmente o
motivo, sua vida está em risco porque também tem ligação com ela.
Peço-lhe que tome cuidado. – esclareceu meu amigo.
- Tomarei todos os cuidados. – respondeu o senhor pensativo.
Despedimo-nos e
retornamos para o nosso apartamento; eu não aguentava mais ver a menina
pálida.
Coloquei-a na cama e
dei-lhe um remédio para melhorar a digestão e ela adormeceu.
Fui para sala conversar
com meu amigo sobre suas suspeitas.
- Holmes, se o pai do
Senhor Heston morreu por pertencer a uma Ordem, porque aquela
pobre senhora também foi decapitada? Ela não tinha nada haver com a
Ordem. – questionei-lhe.
- Não é a Ordem em
si, Watson, é a prática de rituais ligados à magia. Aquela senhora
usava ervas para fazer trabalhos espirituais de benzer, banhos e
chás. Esta pratica já foi considerada como bruxaria. Milhares de
pessoas, principalmente na França, foram decapitadas e queimadas
vivas por isso.– explicou ele.
- Então os crimes
foram cometidos por intolerância religiosa! – entendi.
- Sim, estamos atrás
de um fanático religioso. – confirmou Holmes.
Precisava sair para ir
ao meu consultório, mas estava com medo de deixar a criança sozinha
com meu amigo. Sei que não lhe faria mal, mas já havia se atrevido
a aprontar uma das suas.
Aproveitei que ela
dormia para procurar um colega médico e lhe pedir que tomasse conta
de meu consultório e de meus pacientes enquanto eu precisasse cuidar
de Ivy; felizmente, ele aceitou.
Voltei no final da
tarde e, para minha surpresa, parecia tudo tranquilo no apartamento.
A menina, já melhor, estava deitada no sofá e se distraia com um
livro sobre espécies de animais, enquanto Holmes em sua escrivaninha
estudava jornais antigos.
Sentei-me ao lado dela para conversar.
- É um livro muito
interessante. Sabe ler querida? – perguntei a ela.
- Claro que não, só
estou vendo as figuras. – respondeu-me como se eu tivesse lhe feito
uma pergunta estúpida.
- Tirei uns dias de
folga do meu consultório. Agora que tenho tempo, gostaria que eu lhe
ensinasse a ler e a escrever? – ofereci a ela.
Para minha decepção,
ela apenas fez um sinal com os ombros de não se importar.
Senhora Evelyn nos
anunciou que Lestrade estava ali com um acompanhante. Era o pai da
criança, que já entrou muito bravo.
- Vim buscar minha
filha!
A menina se encolheu no
sofá assustada, segurando meu braço com força.
- Sinto muito. Fui
informar ao pai que a criança havia sido encontrada e ele insistiu
em vir buscá-la. – contou-nos o inspetor.
- Vamos peste, nós
vamos conversar em casa. – disse ele, vindo para cima de Ivy.
Entrei em sua frente e
o impedi que chegasse até a menina.
- Senhor, ela terá que
ficar conosco. Ela é testemunha de um crime. – enfrentei-o, mas
mantendo a calma.
- Não me importa, ela
virá comigo. Quem manda nela sou eu! – impôs o pai.
Olhei para Lestrade
pedindo sua ajuda.
- Sinto, mas ele é o pai, Doutor.
– disse-me ele, com cara de quem não podia fazer nada.
Olhei para Holmes, que
até então apenas observava sem se importar, e implorei com o olhar por
sua intervenção. Ele entendeu minha angústia e, mesmo a contra gosto, resolveu intervir.
- Pode levá-la, mas o
senhor sabe que o assassino já conseguiu pegá-la uma vez. Ela teve
sorte em fugir, mas ele não vai desistir e está a procura dela. Se encontrá-la, matará quem estiver junto. Se levá-la para sua casa,
sua vida e a vida do seu bebê estarão correndo perigo. –
esclareceu meu amigo, com muita tranquilidade.
O homem olhou de forma
ameaçadora para menina.
- E vocês não estão
fazendo nada para prender este homem? – esbravejou para
Lestrade.
- Nós estamos
investigando. – retrucou o inspetor.
O pai bufou com raiva.
O pai bufou com raiva.
- Ela ficará
aqui só até esse criminoso ser preso, entendeu? – disse-me muito sério, colocando o dedo quase em meu nariz.
- Sim senhor, e não se
preocupe, ela estará protegida conosco. – respondi-lhe respeitosamente para convencê-lo a deixar a menina comigo.
Ele saiu bravo, batendo
a nossa porta.
- Sujeito mal encarado!
– reclamou Lestrade.
A criança ainda estava
muito assustada.
- Não se preocupe
minha querida. Prometo-lhe que antes de entregá-la ao seu pai, vou ter
uma conversa muita séria com ele para que nunca mais lhe machuque.
- Não prometa o que
não poderá cumprir Watson. – advertiu-me meu amigo.
- Vamos ver se eu não vou convencê-lo! – confrontei-o.
- Então, descobriram
alguma coisa hoje? – Lestrade mudou o assunto, sentando-se em frente a
Holmes.
Meu amigo lhe contou
que Ivy havia nos levado para rua onde havia conseguido escapar do
assassino, e esta rua era a mesma onde moravam todos os sócios da
empresa, proprietários da carruagem. Também informou sobre a
conversa que tivemos com o Senhor Heston.
Por se tratar de
pessoas muito ricas, Lestrade achou melhor que Holmes seguisse nas
investigações sem a interferência da policia.
Após o jantar,
Lestrade foi embora e Holmes saiu para sua vigia noturna em um coche
de aluguel.
Eu passei a noite
rolando pela cama sem conseguir dormir e sem entender o que me
afligia.
Pela manhã, depois do
café, me dediquei a ensinar "a pequena" a escrever suas primeiras
palavras, sentados na escrivaninha de Holmes. Ele só retornou bem mais
tarde.
- Estive com
Mycroft pela manhã e pedi a ele que me conseguisse informações
sobre o sócio turco. Ele entrará em contato com amigos dele na
Turquia e logo saberemos se o turco esteve em Londres quando
ocorreram os crimes e quando o “meio quilo de gente” foi
sequestrado. Também me informarão sobre as características físicas
dele. – contou-me.
- Não houve mais
assassinatos. Será que o assassino não irá mais atacar? – especulei.
- Ele parou com os
crimes porque lhe tiramos a carruagem, que continua apreendida na
sede da policia. Mas creio que assim que tenha outro transporte para se
desfazer dos corpos, ele voltará a atacar. – supôs Holmes.
Senhora Hudson entrou
na sala, nos trazendo uma correspondência.
- Bom dia, rapazes;
acabou de chegar. – disse ela, entregando a carta a meu amigo e
indo se sentar ao lado da menina.
- Obrigado, Senhora Hudson. É o convite para a
reunião social na mansão do Senhor Roy no sábado à noite. –
comentou Holmes.
- Não poderei lhe
acompanhar. Vou ficar para tomar conta da Ivy. – disse para meu
amigo.
- Uma reunião social!
Que bom, vocês dois estão precisando se distraírem. Pode ir
Doutor, eu ficarei com a princesa. – ofereceu nossa
vizinha.
- O que seria de nós
sem a Senhora! – agradeci à Senhora Hudson.
Fiquei contente em
poder ir à reunião; não queria perder nenhum detalhe do novo caso
e Holmes ficou mais aliviado com a minha companhia. Meu amigo detestava
reuniões sociais e ir sozinho então, seria um pesadelo.
No sábado à noite,
partimos para a mansão, enquanto a menina foi dormir no apartamento
da Senhora Hudson.
Mesmo indo para uma
pequena festa, escondi uma arma em meu casaco. Era bom estar
prevenido.
- Vamos ter que usar de
toda nossa astúcia. O assassino que procuramos pode estar nesta
reunião e ele sabe que estamos à caça dele. Para qualquer pergunta
que nos façam, vamos responder que o assassino é o cocheiro e o caso já foi resolvido. –
avisou-me meu amigo, na entrada da mansão.
Na grande sala de
visitas, fomos recepcionados pelo proprietário da mansão.
- Senhor Holmes, é uma
grata satisfação em tê-lo em minha casa. Mal posso acreditar que
finalmente aceitou um convite meu; já lhe enviei tantos
anteriormente. – cumprimentou o Senhor.
- Agradeço Senhor Roy
e aceite minhas desculpas por não ter comparecido antes. Em minha
profissão é raro se ter tempo para reuniões. – mentiu meu amigo.
Holmes era um dos
homens mais ricos de Londres e muito requisitado em festas. Recebia
convites diariamente, os quais eram jogados no lixo sem serem
abertos.
- Eu entendo! E o
Senhor só pode ser o Doutor Watson. Seja bem vindo. –
cumprimentou-me.
- É um prazer
conhecê-lo. – retribui a gentileza.
O Senhor Roy era quase
da altura de Holmes e encorpado. Pelo aperto de mão, era forte e
semelhante ao homem que vimos na praça.
- Venham, quero
apresentá-los aos demais convidados. – chamou-nos o anfitrião.
Passamos um tempo
cumprimentando outras pessoas que estavam na recepção. Algumas já
nos eram conhecidas, ou por terem sido clientes de Holmes ou por
serem meus pacientes.
Também fomos
reapresentados ao Senhor Creel e a Senhorita Riley, agora muito
tranquila com a nossa presença.
Eu e Holmes nos
sentamos em um local mais reservado da sala, onde meu amigo passou a
usar seu talento observador para deduzir informações sobre os
sócios ali presentes.
- Conquistou uma
admiradora Watson. – disse-me Holmes, apontando para a Senhorita
Riley.
- Muito engraçado
Holmes. – pensei que ele estivesse brincando.
- É sério! Ela está
olhando para você desde que chegamos, com aquele olhar interesseiro que só as mulheres
conseguem ter. – alertou-me meu amigo.
Procurei observá-la
casualmente e realmente vi que era verdade. Ela parecia estar
flertando comigo.
Eu era viúvo à pouco
tempo e nem passava pela minha cabeça em me envolver com outra
mulher. Mas confesso que me senti lisonjeado com os olhares da bela
senhorita.
Senhor Roy e Senhor
Creel se aproximaram trazendo um terceiro homem.
- Senhores, este é o
Senhor Armin. Ele também é sócio em nossa empresa de joias. –
apresentou Senhor Roy.
Era o sócio que
faltava conhecermos, além do turco.
O Senhor Armin era um
pouco mais baixo e gordo, no entanto, também tinha o porte para ser
o homem da praça, já que naquela noite, o mesmo estava vestido todo
de preto e usando uma capa.
- Senhores, é um
prazer conhecê-los. Doutor Watson, sou um grande admirador de suas
histórias.
O Senhor Armin nos
cumprimentou muito esfuziante, balançando nossas mãos com muita
força.
- Obrigado. –
respondi-lhe meio sem graça.
Do jeito que ele me elogiou,
parecia que eu escrevia contos de fada.
Os três sócios
sentaram-se conosco.
- Senhor Holmes,
perdoe-nos em incomodá-lo com o assunto, mas gostaríamos de saber
como anda a acusação de assassinato feita ao ex cocheiro. – pediu o Senhor Creel, em um tom de imposição.
- Sinto em
informar-lhes, mas a policia tem certeza da culpa dele. – respondeu
Holmes calmamente.
Era tudo o que meu
amigo queria; os três suspeitos à sua frente, falando sobre os
assassinatos.
- E o senhor, o que
acha? – perguntou o Senhor Roy.
- Quem mais seria? Ele
estava acompanhando a senhora que foi assassinada! A história de que
a carruagem desapareceu e depois reapareceu não convence nem
criança. – mentiu meu amigo.
Senhor Armim caiu na
gargalhada.
- O Senhor é incrível,
Senhor Holmes! É uma lenda viva. Como descobriu que era cocheiro? –
indagou rindo.
- Saberá dos detalhes
em breve, Senhor Armim. Doutor Watson logo publicará o caso. –
respondeu-lhe meu amigo, sem se incomodar com a bajulação.
Senhor Armim pareceu um
senhor muito alegre, de risada fácil.
- Mal posso esperar. –
comentou, novamente dando gargalhadas.
- Mas a Senhorita Riley
não confirmou a história do sumiço da carruagem? – questionou o
Senhor Roy.
- Mulheres são tolas
meu caro! Elas foram enganadas por ele. Ele planejou esta história
para criar um álibi. O fato é que nenhuma delas presenciou o
desaparecimento da carruagem, apenas repetiram o que ele havia
lhes contado. – respondeu meu amigo.
- E a nossa carruagem?
– perguntou Senhor Creel.
- Até onde sei, ficará
apreendida como prova do crime. – contou Holmes.
- Vamos ter que comprar
uma nova carruagem e arrumar outro cocheiro. – disse Senhor Creel
conformado.
- Em pensar que fui eu
quem o contratou; parecia ser tão boa pessoa. E o assassinato do
Senhor Heston, foi ele também? – perguntou Senhor Roy.
- Pelas circunstâncias,
sim, embora ele ainda não tenha confessado o motivo. Com o tempo, a polícia
o fará confessar. – continuou mentindo Holmes.
- Seu trabalho é
impressionante Senhor Holmes. – disse Senhor Armim, rindo alto.
Enquanto a conversa
acontecia, eu observava os olhares e os sorrisos da Senhorita Riley
em minha direção. Percebi que ela se afastou dos convidados, indo ao
terraço da mansão sozinha, me olhando como se quisesse minha companhia.
Em um impulso, pedi
licença aos senhores e fui
ao encontro dela.
- Bonita noite! –
disse-lhe tentando começar uma conversa.
- Estou muito feliz em
reencontrá-lo, Doutor. Não foi possível nos conhecermos quando
esteve em minha casa. – respondeu sedutora.
- É realmente um
prazer conhecê-la hoje. – tentei ser gentil.
- Vejo que não usa
aliança. Como um homem tão atraente como o senhor pode ser
solteiro?
Fiquei sem graça com a
observação feita por ela de forma abusada.
- Sou viúvo. Minha
esposa faleceu há pouco tempo. – esclareci com certo
constrangimento.
A morte de Mary ainda
me machucava muito e era um assunto que eu evitava falar.
- Sinto muito. Espero
não tê-lo aborrecido com minha indelicadeza. – disse-me querendo
consertar a situação.
- De forma alguma. –
fingi.
- Eu sei o que é
perder alguém muito importante. Passei toda a minha a vida cuidando
de meus pais muito doentes. Eles morreram há um atrás e desde então
eu me sinto a pessoa mais solitária deste mundo. Não tenho muito
amigos porque eu não frequentava a sociedade; vivia somente para cuidar deles. – contou-me com
tristeza.
Como médico, tive vontade de lhe perguntar sobre a doença deles, mas me contive. Assim
como era difícil para eu falar em Mary, imaginei o quão difícil
também seria para ela falar sobre os pais.
Resolvi mudar de
assunto perguntando à Senhorita sobre os lugares que ela gostava de
frequentar na cidade. Não que eu tivesse algum interesse; era
somente para falarmos em outras coisas.
A estratégia deu certo
e passamos um bom tempo em uma agradável conversa.
Em um certo momento,
notei que os sócios haviam se dispersado. Olhei por toda a sala, mas não
consegui encontrar Holmes.
Continuei em companhia
da Senhorita Riley e comprovei que ela realmente estava tentando me
conquistar. Embora eu não pudesse correspondê-la, não vi mal em
ser muito gentil com a mesma.
Algum tempo depois,
Holmes surgiu na sala me dando sinal para irmos embora. Dirigimo-nos
ao anfitrião e nos despedimos.
Entrei no coche
feliz pela atenção que havia recebido da formosa mulher e recebi o
olhar de estranheza de meu amigo.
- Que cara é essa? –
perguntou-me.
- Foi uma noite muito
agradável. – respondi-lhe.
- Que bom para você!
Para mim foi horrível. Aquele Senhor Armim é insuportável. –
reclamou.
- Eu o achei simpático.
– não concordei.
- Simpático? Não seja
tolo! Vou lhe dizer algo muito sério Watson, nunca acredite em uma
pessoa que ri de forma exagerada! São pessoas bajuladoras, que se
esforçam de forma excessiva para convencerem que são simpáticas e
agradáveis, mas no fundo são falsas, interesseiras e traiçoeiras.
– disse-me com ar aborrecido.
Refletindo melhor sobre
o comportamento do Senhor Armim, tive que concordar que realmente
havia alguma coisa de falso nele. Ele riu em vários momentos onde
não havia graça alguma; era pura necessidade em agradar.
- E então? Descobriu
alguma coisa sobre a senhorita apaixonada? – perguntou ele irônico.
- Só o que já
sabíamos; ela passou a vida cuidando dos pais e depois da morte dele
passou a frequentar a sociedade. Ela reclamou por você não ter lhe
dado nenhuma atenção e nos convidou para um chá na casa dela daqui
a duas semanas. – contei-lhe.
- Um chá na casa dela,
que maravilha! Vamos passar uma tarde toda falando mal da vida alheia. Mal posso esperar! – brincou
ele, falando de um jeito esnobe.
- Eu imaginei que você
não aceitaria. – disse-lhe rindo do seu jeito.
- Pelo contrário meu
caro, nós iremos. Será a oportunidade que quero para investigar a
casa dela. – confessou-me.
- Ah, então foi por
isso que você desapareceu por um bom tempo na casa do Senhor Roy.
Estava bisbilhotando. – entendi a sua ausência na sala.
- Estava investigando.
Ele me permitiu que eu conhecesse sua biblioteca. Os livros da
preferência de cada pessoa dizem muito sobre ela. Depois de examinar
a biblioteca, dei uma escapa pelos quartos e fui ao porão. Como pode
notar pelo meu mau humor, não encontrei nenhuma pista. – suspirou
ele.
- Mas acha que um dos
três sócios que conhecemos esta noite é o assassino? – tentei
descobrir sua opinião.
- Sim. – respondeu-me
com o olhar de quem sabia onde eu queria chegar.
- E acha que a
Senhorita Riley também pode estar envolvida? – era o que eu queria
saber.
- Ela é muito
suspeita. Está interessado nela Watson? – indagou-me com o olhar
muito sério.
- Não Holmes, foi
apenas uma pergunta. Eu ainda amo Mary. Vai querer controlar minha
vida amorosa agora? – disse-lhe bravo.
- Não, apenas não
quero que se envolva com esta mulher antes de termos certeza de que ela não é culpada. – respondeu-me com calma.
Capitulo 15 - A criatura

Nenhum comentário:
Postar um comentário