Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capítulo 1 - Alguns anos depois


Sherlock Holmes - Reinício
(fanfic baseada no filme Young Sherlock Holmes)

Capítulo 1 - Alguns anos depois



Recebi uma mensagem de uma senhora solicitando meus serviços com urgência para seu marido doente, em uma casa na periferia de Londres.

O cocheiro não conhecia o endereço escrito no papel, por isso desci da carruagem e caminhei pelo bairro. 

Havia dezenas de crianças maltrapilhas pelas ruas. Aproximei-me de um garoto e lhe ofereci um pence para me levar ao endereço; o rapazinho aceitou me conduzir pelas ruas estreitas.

Lendo o bilhete pela décima vez, não consegui me recordar do nome escrito nele, mas dizia se tratar de um fuzileiro que me conheceu na guerra. Eu jamais negaria ajuda a um colega do Quinto Regimento.

O garoto me apontou uma viela como sendo o endereço e saiu correndo. Procurei pelo número e notei que a maioria das casas na rua pareciam abandonadas, com placas de “aluga-se”.

Um homem de fisionomia indiana me observava atentamente no final da rua; seu olhar me causou calafrios.

Sem nenhuma explicação, levantou de seu casaco uma pistola, apontando-a em minha direção; paralisei de medo. Não houve tempo para palavras e o indiano começou a atirar.

Eu estava no meio da rua e a única coisa que pude fazer foi me virar e sair correndo, enquanto ouvia os estampidos e sentia os estilhaços dos tiros atingindo o chão de terra e as paredes, bem próximo a mim. Corri o mais rápido que pude, enquanto pessoas assustadas gritavam nas proximidades.

O meu braço ardeu com um tiro que raspou a carne na altura do meu ombro. 

Quando estava quase alcançando a esquina, senti uma dor profunda em minhas costas. A dor foi tanta que fui ao chão, caindo primeiro de joelhos e na sequencia, batendo minha cabeça na terra. Minha visão escureceu; ouvi o apito de um bobbie e desmaiei.

Entreabri os olhos não sei quanto tempo depois, mas estava tudo muito confuso. Parecia que eu estava sendo carregado por alguém que dizia: "é gravíssimo". Novamente desmaiei.

Despertei de um sono muito profundo e sentindo dores por todo o corpo. Não consegui identificar quem era o vulto que gritou "ele está acordando".

Estava tentando entender o que estava acontecendo, quando uma voz conhecida me despertou de vez.

- Doutor Watson, como se sente?

- Doutor Doyle, o que aconteceu? - perguntei com dificuldade para falar.

- Está vivo por um milagre! Você foi gravemente ferido. Uma bala lhe atravessou o fígado e outra lhe raspou o braço. Você perdeu muito sangue e estava há quatro dias desacordado.

- Quem fez isso Doutor? - indaguei confuso.

- Até onde sei, a policia não descobriu. - respondeu meu colega médico.

Depois das medicações feitas, pude receber a visita de Mary, minha noiva, que estava desesperada, e do bobbie que salvou minha vida me levando para o hospital. Se não fosse a coragem dele em me resgatar naquela esquina, com certeza eu estaria morto. Eu não cansei em lhe agradecer.

Nos dias seguintes em que estive internado, também recebi a visita do inspetor Gregson, da Scontland Yard, amigo de longa data, para o qual informei todo o ocorrido. Soube por ele que a polícia não conseguiu descobrir nada em relação ao atentado que sofri.

Mary me trouxe um telegrama do meu melhor amigo, com quem eu dividia um apartamento. Ele estava em viagem pela Grécia e na mensagem me contou que quase foi preso por lá, depois que invadiu a mansão de um milionário. Só não aconteceu o pior porque conseguiu provar que o tal milionário era um assassino.

Também escrevi-lhe uma mensagem relatando sobre o que havia me acontecido, a qual Mary cuidou de enviar.

Após ter alta no hospital, fui descansar em meu apartamento sob os cuidados de minha noiva e da Senhora Hudson, nossa vizinha e proprietária do prédio.

Era noite de sexta-feira e Mary e eu conversávamos na sala. Chovia muito lá fora quando uma carruagem parou em frente ao 221-B da Baker Street; dela desceu um homem alto, magro, muito elegante apoiando-se em sua bengala.

Alguém bateu em nossa porta e Mary levantou-se para atender.

Um cocheiro entrou nos cumprimentando; colocou duas malas enormes em nossa sala e saiu tão rápido quanto entrou. Não demorou muito e o outro morador do apartamento surgiu.

Meu melhor amigo me olhou aliviado e foi até Mary, beijando-lhe as mãos.

- Mary, como vai querida?

- Que bom que voltou. Quase perdemos nosso John! - disse ela com um suspiro.

- John? Seu nome é John? Eu jurava que fosse James! - brincou ele comigo.

Em nosso primeiro encontro no colégio, meu amigo tentou deduzir meu nome, e especulou ser James. Eu o corrigi, mas para ele, James ou John não fazia a menor diferença.

- Não acredito que interrompeu sua viagem por minha causa. Eu escrevi no telegrama que já estava bem. - respondi-lhe, feliz por seu retorno.

- Watson, o que aconteceu? - perguntou-me sério.

- Quase fui morto de novo. Depois do que passei na guerra, não pensei que pudesse acontecer outra vez! Um maluco simplesmente disparou vários tiros contra mim e tenho sorte por estar vivo.

Relatei todos os detalhes do ocorrido a ele, que me ouviu atentamente.

- Onde está o bilhete? – pediu-me.

- Na sua escrivaninha. - respondi-lhe.

Ele se sentou na enorme poltrona atrás do móvel e analisou o bilhete com sua lupa.

- Está assinado por uma mulher, mas o texto é bem escrito. Não achou isto estranho? - perguntou-me pensativo.

- Conheço mulheres que escrevem muito bem. - repliquei.

- Uma mulher que vive em um bairro pobre de imigrantes? E o papel é de boa qualidade. - observou ele.

- Fui vítima de uma maluco, apenas isso; malucos existem em todos os cantos desse planeta. - conclui.

- Está enganado, Watson. O planeta é redondo, portanto, não tem cantos. - retrucou ele.
  
Meu amigo abriu uma das gavetas de sua escrivaninha e pegou seu revolver, guardando-o em seu casaco junto com meu bilhete.

- Nem pense em ir até lá! É noite e é mais perigoso ainda. - reclamei.

- Não vou me demorar.

Saiu sob meus protestos para que voltasse. Era um lugar muito perigoso, mesmo para Sherlock Holmes.

Já era tarde quando Mary foi embora. Passei a noite em claro, angustiado pela demora de Holmes e perdido em minhas lembranças.

Após o inesquecível dezembro de 1870, quando eu e Holmes tivemos nossa primeira aventura na escola Brompton, a qual lamentavelmente terminou com a morte de Elizabeth, segui com meus estudos enquanto Holmes se mudou para outro colégio.

Neste tempo, nos correspondemos frequentemente através de cartas, nas quais ele me contava suas proezas em desvendar mistérios e, obviamente, sua crescente habilidade em se meter em encrencas.

Formei-me Doutor em medicina em 1878 e segui para a Netley, me especializar como cirurgião do exército. A Segunda Guerra Afegã me obrigou a juntar-me ao Quinto Regimento de Fuzileiros, e mais tarde, aos Berkshires. Lutei na batalha de Maiwand, onde quase morri atingido por um bala.

Fui afastado da guerra e enviado a um hospital para feridos, onde Holmes conseguiu me encontrar. Meu amigo me trouxe de volta para Londres e me convidou a dividirmos um apartamento de dois quartos na Baker Street, onde reatamos nossa convivência e onde voltei a me aventurar em suas investigações.

A esta altura, sua genialidade para desvendar crimes já era reconhecida e Holmes havia ganho muito dinheiro trabalhando como detetive consultor, o único no mundo, como fazia questão de frisar. Policiais e outros detetives buscavam seus serviços para elucidar seus casos.

Meu gosto por escrever me tornou em uma espécie de biógrafo de Holmes, com sua autorização, é claro. 

 Eu escrevia com a maior fidelidade, os detalhes de como meu amigo resolvia os crimes que povoavam as páginas policiais, e vendia os relatos para os jornais da cidade. Os leitores esperavam ávidos pelas histórias e os editores me pagavam muito bem pelas matérias. O inconveniente foi a fama a que expus Holmes, que se tornou uma celebridade.

O tempo passou e nos tornamos homens de meia idade. Holmes continuava muito magro, o que realçava a sua alta estatura e seu porte elegante.

Pelo bem dos meus ouvidos, aprendeu a tocar maravilhosamente o violino, e o cachimbo que lhe dei na adolescência, era o seu companheiro quando se sentava em sua poltrona para refletir.

Sendo solteiro e rico, obviamente foi muito assediado por senhoritas que sonharam em se tornar a senhora Holmes, as quais foram todas habilmente decepcionadas por ele. Após a morte de Elizabeth, a qual tenho certeza, ele nunca esqueceu, Holmes desenvolveu aversão a presenças femininas com intenções amorosas.

Conheci Mary quando a mesma procurou Holmes para lhe resolver o mistério do desaparecimento de seu pai. Apaixonamo-nos e estamos noivos já há algum tempo. Afastado do exército, abri um pequeno consultório particular.

Holmes já havia comprado duas casas em Londres, as quais ele usava como esconderijos quando precisava, sendo que, em uma delas montou um dos melhores e mais equipados laboratórios que eu já tinha visto. Porém, nunca cogitou a ideia de se mudar do número 221-B da Baker Street.

Já era madrugada quando finalmente ele retornou do bairro onde eu quase havia perdido a vida. Eu estava pronto para brigar com ele, mas não houve tempo; ele entrou pelo apartamento agitado, andando de um lado para o outro e falando rápido.

- O número 183-N não existe naquela rua, Watson, e nem passou perto. Duvido que este bilhete tenha sido escrito por uma mulher e a pessoa que escreveu tentou disfarçar a caligrafia; compare as letras “s” na mesma frase, elas foram escritas de maneiras diferentes. O texto foi redigido em inglês culto, portanto não foi um imigrante. O papel usado é nobre, portanto não é daquele bairro. E um indiano estava à sua espera; está claro que foi uma armadilha.

- Por que a minha morte interessaria a alguém? - não concordei com ele.

Holmes se jogou no sofá, mordendo a ponta de seu dedo polegar.

- Não sei meu caro, mas vou descobrir. Só pode ser alguém que conhecemos muito bem, senão porque a pessoa tomaria o cuidado de disfarçar a letra?

- O que vai fazer? - indaguei-lhe com medo da resposta.

- Vou investigar aquele bairro inteiro até descobrir quem é o indiano. É bem provável que ele more lá, já que se trata de um bairro de imigrantes.

Levantou-se com a expressão cansada e foi para o banho. Depois do seu violino, o que mais lhe relaxada eram seus longos banhos pela manhã.

Eu ainda estava no sofá pensando sobre o que ele havia dito quando voltou à sala, vestido elegantemente para sair.

- Venha, Watson, vou lhe fazer o café da manhã. - convidou-me a irmos à cozinha.

Holmes era um excelente cozinheiro e fazia seus pratos com a mesma dedicação com que fazia suas experiências químicas em seu laboratório particular, embora estas últimas explodissem algumas vezes. Em diversas ocasiões brincou comigo por eu nunca ter escrito em meus artigos sobre seu talento como "dona de casa".

Enquanto comíamos ovos mexidos e torradas com chá, aproveite para lhe contar que eu e Mary finalmente havíamos marcado a data do nosso casamento, e naturalmente o queria como meu padrinho.

- Casamento, Watson? Na farmácia não tem remédio para tonto? - foi sua resposta, dada com ar de indiferença.

Holmes sempre foi muito gentil com Mary e fazia muito gosto em meu compromisso com ela. Por traz daquela indiferença eu sabia que havia a triste lembrança da vida que ele um dia havia sonhado em ter com Elizabeth.

A criada chegou e foi recebida por ele com uma gentileza fora do normal.

- Bom dia Senhora Evelyn, é muito bom vê-la! Sente-se, vou lhe servir o chá. - disse-lhe, segurando-a pelas mãos e a conduzindo até a mesa.

- Senhor Holmes, também estou feliz pelo seu retorno, mas sou eu quem devo lhe servir. Doutor Watson, está melhor hoje? - cumprimentou-me  a senhora.

- Bem melhor, obrigado. - respondi-lhe amável.

- Senhora Evelyn, na semana passada, um mensageiro lhe entregou um bilhete para o Watson, certo? - prosseguiu Holmes educadamente, enquanto servia-lhe o chá.

- Sim, Senhor Holmes. – confirmou a senhora.

- Conseguiria me descrever o mensageiro? – pediu ele.

- Por que o senhor quer que eu lhe descreva o William, ele aprontou alguma coisa? – preocupou-se a criada.

- Quem? – sentou-se Holmes, atendo à primeira pista.

- William é neto de uma velha amiga e andou se envolvendo em pequenos furtos quando criança. Depois que conseguiu o emprego no correio da Hyde Park, parecia ter tomado jeito. O que aprontou desta vez? – perguntou preocupada.

- Senhora Evelyn, a senhora é a mulher mais incrível deste mundo. - sorriu Holmes, com os olhos brilhando -

A pobre criada me olhou sem entender nada, enquanto meu amigo levantou-se animado.

- Por favor, não comente com a senhora Hudson sobre o que eu acabei de lhe dizer. Eu sempre digo a mesma coisa para ela. - confessou Holmes, beijando a mão da criada.

Senhora Evelyn achou graça no bom humor dele, coisa não muito comum de se ver.

- Acredita em nossa sorte, Watson? Não me esperem para o almoço e Doutor, nem pense em sair de casa. - disse-me ele, saindo pela porta.


- O Senhor Holmes é estranho às vezes, Doutor Watson, mas é encantador. Mas afinal de contas, o que ele quer com o William? – perguntou-me a criada.

- Nada de mais, Senhora Evelyn, não se preocupe! Apenas queremos lhe perguntar se conhece quem me enviou o bilhete, porque o recado era falso. - esclareci-lhe, sem entrar em detalhes, já que a criada desconhecia que o tal bilhete fez parte do atentado que sofri.

- Ainda bem! Agora me dê licença, vou trabalhar. - levantou-se sorridente.

- Claro, vou descansar em meu quarto. – retirei-me para pensar.

Ainda pela manhã, recebi a visita de um colega da escola de medicina, que ainda atendia em residências. Pedi-lhe que assumisse minhas funções em meu consultório enquanto estivesse impossibilitado, no que gentilmente me atendeu.

Holmes retornou à tarde com um sorriso no canto dos lábios que eu conhecia muito bem; havia descoberto algo importante.

- Então, encontrou o garoto? - pergunta-lhe.

- Encontrei, e ele foi muito atencioso. Disse-me que fazia a entrega de cartas na Hyde Park quando foi abordado por um homem de aparência estranha que o pagou para entregar um bilhete aqui.

Dizendo isso, Holmes foi até a janela e assobiou para fora; em poucos minutos abriu a porta para um dos meninos de rua que trabalhava para ele.

- Bom dia, chefe, que bom que voltou. - entrou o menino que não aparentava mais que oito anos.

- Bom dia Minhoca, preciso que você reúna os garotos e diga-os para irem a Hyde Park para observarem os homens que andam por lá. Eu procuro um homem de pele muito clara; o jovem que me deu a informação disse-me que a aparência é a de um fantasma, de cabelos muito brancos, mas ele não é velho, tem um pouco mais de quarenta anos. Tem o nariz grande...

- Como o seu? – comparou a criança.

- Não me interrompa! Tem o nariz grande, não usa barba, é magro, não muito alto, antipático e arrogante, e não se atreva a perguntar se é como eu! – Holmes usou um tom um pouco bravo.

- Eu não ia falar nada. – respondeu o menino, com cara de culpado.

Meu amigo deu-lhe algumas moedas.

- Isso é para o início do trabalho. Quando voltarem com nomes, ganharão mais.

O garoto bateu continência e saiu correndo escadaria abaixo.

- Não conheço ninguém com esta descrição, Holmes. É estranho! – disse-lhe ainda achando se tratar de um engano.

- Preciso lhe perguntar algo Watson, andou receitando alguma coisa maluca que poderia ter deixado algum paciente com aparência de fantasma? - perguntou-me olhando seriamente.

- Que espécie de médico acha que eu sou? - encarei-o indignado.

- Sabe Watson, estas características me soam familiar. Não consigo me lembrar de onde, mas tenho a sensação de já ter visto alguém assim.

- Talvez um dos muitos criminosos que já levamos a justiça? - especulei.

- Não sei, tinha esperança de que você se lembrasse. Preciso pensar. - disse acendendo seu cachimbo.

Capitulo 2 - O bordel

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