Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capítulo 7 - O sequestro

O coche partiu e já estávamos na porta do nosso prédio quando Holmes me empurrou para o chão e rapidamente sacou sua arma do casaco, apontando em direção à esquina da nossa rua.
- Senhor Holmes, por favor, não atire! - pediu uma voz conhecida.

- Irving, ficou maluco? Eu poderia ter matado você! - gritou Holmes bravo.

- Perdoe-me, mas estou me escondendo. - justificou-se o garçom.

- Você matou o legista, não foi? - perguntou Holmes guardando sua arma.

- Como sabe Senhor Holmes, eu acabei de matá-lo? - espantou-se Irving.

- Eu tinha certeza que você cumpriria sua promessa, mas vamos conversar lá dentro; os dois policiais que estão nos seguindo já estão para chegar. Watson, eu sinto muito, se machucou? - Holmes estendeu-me a mão para levantar-me.

- Tudo bem. - agradeci-lhe com um sorriso.

Subimos para o apartamento, onde meu amigo serviu uísque para acalmar o jovem.
- Como o matou, Irving? - indagou Holmes.

- Hoje ele passou o dia na sede da policia sendo interrogado. Agora à noite, quando saiu para ser levado de volta a prisão, eu o acertei com uma flecha no coração; atirei de cima do telhado da sede. – confessou o jovem.

- Uma flecha, Irving, que estupidez! Você é um índio e é óbvio que a polícia já sabe que foi você. – reclamou Holmes.

- É a única arma que sei manejar, Senhor Holmes! Mas não importa; eu pulei do telhado para o prédio vizinho e conseguiu fugir só para vir até aqui, lhe agradecer por ter descoberto o verdadeiro assassino. Sabe, eu cheguei a seguir o farmacêutico e quase matei o homem errado. Agora que consegui vingar a morte de Caitlim e já lhe agradeci, vou me entregar a policia. – contou-nos.

- Watson, posso esconder Irving em nosso apartamento? - perguntou-me Holmes.

- O apartamento é mais seu que meu. - concordei.

- Se ele for pego, você estará tão encrencado quanto eu. - observou ele.

- Já faz mais de uma semana que eu não me meto em uma encrenca junto com você, Holmes. Já estava com saudade! - confirmei minha participação no plano dele.

- Vai me esconder Senhor Holmes? Acha certo a minha vingança? – surpreendeu-se Irving.

Antes que meu amigo pudesse responder, acabei contando a verdade ao garoto.
- Acredite Irving, ele já fez a mesma coisa. 
 
Holmes me olhou desanimado.
- Tentei fazer a mesma coisa e suspeito ter falhado; mas assim que eu confirmar o meu erro, vou consertá-lo. Agora vamos cuidar de você! Meu irmão é um importante funcionário do governo e bastará uma carta dele para que amanhã, eu consiga colocá-lo em qualquer um dos navios que vão para a América. Por hoje, dormirá em meu quarto. – determinou Holmes.

- Não sei como agradecer a vocês. – disse o jovem surpreso.

- Vou lhe dar um bom dinheiro para que recomece sua vida por lá, mas antes de conseguirmos tirá-lo daqui, não fique circulando pelo apartamento; precisamos ter cuidado com a nossa criada. – avisou meu amigo.

- Vou para a cozinha preparar algo para Irving comer. E você, Holmes, onde vai dormir? – perguntei-lhe.

- Vocês dois sabem onde vou passar a noite. Até amanhã. - disse meu amigo saindo.

Madame Lacey disse a Holmes que ele não mais seria recebido como um cliente em sua casa, mas como um filho, afinal, ele não só prendeu o assassino de Caitlim como evitou que outras garotas tivessem o mesmo triste fim.

Mal o dia amanheceu e acordei com batidas na porta; eram Gregson e Lestrade.
- Desculpe-nos a hora Doutor, mas precisamos falar com Holmes. – disse-me Gregson.

- Bom dia inspetores. Holmes não dormiu em casa e não faço ideia de quando vai voltar. – respondi-lhe.

- Se importa se esperarmos um pouco, é urgente. – pediu Lestrade.

Senhora Evelyn também chegou, nos cumprimentou e seguiu para a cozinha. Eu não podia dizer a ela que Holmes não estava no apartamento, senão ia querer limpar o quarto dele e encontraria Irving.

- Por favor, fiquem a vontade e me deem licença para me vestir. – solicitei aos policiais, pois estava apenas de roupão e pijama.

Fui até a cozinha e inventei para a Senhora Evelyn que Holmes havia passado muito mal a noite e que eu havia lhe dado um remédio muito forte. Também lhe disse que menti para os policiais que ele não estava no apartamento para que não insistissem em acordá-lo.

Ela concordou em manter a farsa e preparou o café da manhã para servir aos policiais.
Fui para meu quarto e me vesti. Mal retornei a sala e novamente bateram na porta; desta vez eram dois garotos de rua.
- Bom dia Doutor, viemos fazer o relatório para o chefe. - disse-me o menino muito cabeludo.

- Bom dia, meninos, ele não está.

- Vamos ter que esperar, o chefe disse que queria nosso relatório todo dia de manhã. - contou-me o pequeno.
- Que relatório é esse? – tentei descobrir.
- Só com ele, Doutor. - respondeu-me.
- Pois bem, entrem e vamos para a cozinha tomar o café da manhã. - convidei-os.

Levei todos para a cozinha, onde a Senhora Evelyn havia nos preparado café, chá com leite, torradas, ovos, bacon e salsichas. 
 
Policiais e crianças à mesa, senhora Evelyn limpando meu quarto e um foragido da policia no quarto de Holmes. "Nada mal, Doutor Watson”, pensei comigo.

Já havia se passado mais de uma hora e para minha sorte, as crianças estavam entretendo os policiais, contando-lhes histórias que ouviam nas ruas. A situação parecia estar sob controle, mas senti um grande alivio quando meu amigo surgiu tranquilamente pela porta da cozinha.

- Bom dia a todos. Que bom vê-los, meninos, me contem tudo sobre ontem. - entrou Holmes animado.
Os garotos passaram a lhe relatar tudo o que Dudley havia feito no dia anterior, cada lugar onde esteve e com quem conversou.

- Colocou os meninos para vigiarem Dudley? – perguntei incrédulo ao meu amigo.
- Elementar, meu caro Watson. – respondeu-me.

- Wiggins e Ringo vão vigiar o fantasma hoje, chefe. - informou o cabeludo.
- Muito bem. – disse Holmes satisfeito, pagando os dois garotos que saíram em seguida.

- Holmes, não acha perigoso colocar crianças para vigiarem criminosos? – questionou Gregson.

- Esses garotos são muito mais espertos que a maioria dos criminosos, Gregson. - respondeu-lhe.

Holmes havia ensinado aos garotos a vigiarem de longe, sem serem percebidos, e a ordem dele era bem clara: nunca se aproximar e fugir ao menor sinal de perigo. Os garotos viviam nas ruas, as quais conheciam muito bem, e se mantinham com o dinheiro que ganhavam do meu amigo, aliás, um bom dinheiro. O fato é que Holmes não se importava se o trabalho oferecido por ele aos garotos era certo ou errado e também não se sentia culpado ou responsável pelos problemas sociais da cidade.

- E vocês, alguma novidade? – perguntou Holmes a Gregson e Lestrade.

- Você não vai acreditar! Ontem o Senhor Harris, o legista que você nos ajudou a prender, estava saindo da sede da policia para retornar a prisão e uma flecha atravessou-lhe o peito. – contou-nos Lestrade.
- Não diga! – fingiu surpresa Holmes.
- E ele morreu? – também fingi surpresa.
- Não, Doutor Watson, ele só ficou com falta de ar! Mas é claro que ele morreu! – respondeu Lestrade, com ironia.

- Desculpe! - me fiz de bobo.

- É óbvio que foi o índio, o garçom do bordel. Ele jurou vingança e cumpriu, matou com uma flecha! - afirmou Gregson.

- E já o prenderam? – disfarçou Holmes.

- Não, por isso estamos aqui. Ontem ele conseguiu fugir pulando pelos telhados. Precisamos de sua ajuda para encontrá-lo. - pediu Lestrade.

- Ora Lestrade, minha participação nos casos é descobrir a autoria dos crimes e quando necessário, armar uma armadilha para prender o criminoso. Não faço o trabalho policial de sair capturando suspeitos. – respondeu calmamente Holmes.

- Mas você pode mandar os garotos buscarem informações sobre o índio pelas ruas; eles só obedecem a você. – argumentou Gregson.
- Mas não é você Gregson, que acha perigoso colocar os garotos para procurar criminosos? – confrontou Holmes.

Gregson engasgou com o chá, ficando completamente sem graça. Lestrade continuou a falar sobre o caso.
- O índio, antes de ser garçom, foi um garoto de rua e não tinha família. Ele morava em uma pensão na periferia de Londres, mas há dias que deixou o apartamento. Colocamos policiais na White House, caso ele tente voltar lá. Pode nos dar um conselho de onde poderíamos procurá-lo? - rogou Lestrade.

- Muito bem, vamos especular onde estaria se escondendo nosso jovem índio. O que acha Watson? – perguntou-me Holmes, com o olhar sério.
- Pode ter ido para outra pensão. – comecei.
- Pode estar em qualquer telhado. – continuou um Holmes.
- Escondido em qualquer beco. – retruquei.
- Em alguma casa abandonada. – prosseguiu Holmes.
- Na estação de trem. – sugeri.
- Tentando fugir em algum navio. – retrucou Holmes.
- Pode estar em qualquer lugar de Londres. – conclui.
- Até mesmo em meu quarto. – finalizou meu amigo.
Holmes e eu caímos na risada.

- Vamos Gregson, estes dois quando começam a fazer piadas, ficam insuportáveis. Até mais senhores. – levantou-se Lestrade, não achando graça.
- Se ficar sabendo de algo, nos informe Holmes. Até. – despediu-se Gregson rindo.

Depois que saíram, não pude deixar de criticar meu amigo.
- Você é maluco, Holmes? Como pode atiçar o perigo desse jeito? Praticamente contou para eles que Irving está escondido em seu quarto!
- Esses dois não acham nada, Watson, nem que você coloque embaixo do nariz de cada um. - justificou Holmes.

Senhora Evelyn entrou na cozinha e estranhou ver meu amigo tão bem.
- Senhor Holmes, não o vi sair de seu quarto. Que bom encontrá-lo bem, Doutor Watson me contou que passou mal à noite. - disse-lhe bondosa.

Para nossa sorte, senhora Evelyn estava limpando meu quarto quando Holmes chegou.
- Foi uma noite terrível Senhora Evelyn, mas já estou melhor. É muito bom ter um médico em casa. - Holmes foi rápido em entender e confirmar minha mentira.

- Com certeza. Agora vou cuidar do seu quarto. - avisou a criada.

Holmes e eu nos olhamos pensando em Irving escondido lá. Meu amigo correu até a criada e a pegou delicadamente pelo braço, fazendo-a se sentar à mesa.
- Senhora Evelyn, a senhora não me parece estar muito bem. – mentiu ele.
- Como não? Estou ótima. - riu ela.
- Watson, vá buscar sua maleta de médico para examiná-la. – disse-me Holmes, pedindo-me para agir com o olhar.
- Não se levante Senhora Evelyn, eu já volto. - sai correndo sob os protestos da criada de que estava bem, enquanto Holmes tentava lhe convencer do contrário. 
 
Fui até o quarto do meu amigo, chamei Irving e levei-o para o meu quarto; depois voltei com minha maleta para a cozinha.
- Muito bem, Senhora Evelyn, seja uma boa paciente e deixe-me examiná-la. – pedi-lhe com delicadeza.
- Ora, vocês dois! – respondeu-me ela um pouco brava.
A saúde da Senhora Evelyn estava melhor que a minha, mas menti-lhe dizendo que ela parecia estar com estafa.

- Tire o dia para descansar Senhora Evelyn, eu cuido das coisas por aqui. – ofereceu Holmes.
- Não estou cansada e vocês dois estão com arte. Parem com esta brincadeira e me deixem trabalhar. – desconfiou ela, saindo em direção ao quarto de Holmes.

- Que manhã agitada! Preciso ir para o meu consultório. - disse respirando mais aliviado.
- Vou levar o café da manhã para Irving no seu quarto, Watson, e depois vou procurar Mycroft para lhe pedir ajuda. - contou-me meu amigo.

- Eu volto para o almoço e cuido de levar a refeição para Irving. Diga-lhe para trancar a porta por dentro e só abrir quando ouvir minha voz. - combinei com meu amigo.

- Muito bem, nos vemos no final da tarde. Tenha um bom dia, Watson.
- Tenha um bom dia, Holmes.

Desci para a rua e lá estavam outros dois policiais para minha escolta.
- Bom dia, cavalheiros! Agradeço a proteção, mas o perigo já passou; estão dispensados. – disse-lhes educadamente.
- Nada disso, Doutor. Às ordens são claras e foram reforçadas; devemos ficar atentos e não lhe perder de vista nem por um minuto. – respondeu um dos policiais.

Precisava conversar com Holmes a respeito desta proteção. Até quando teria que ser vigiado? Fui contrariado para o meu consultório.


Na hora do almoço, tudo ocorreu bem e a Senhora Evelyn nem desconfiou da presença de Irving. 
 
Voltei para meu consultório e a tarde tive a desagradável notícia, através do corretor de imóveis, de que não seria mais possível alugarmos a casa que Mary havia gostado tanto. Uma proposta irrecusável fez que com a casa fosse vendida. Mary ficaria chateada e teríamos que sair novamente em busca de outra casa.
No final da tarde, quando retornei ao apartamento, a criada já estava de saída. Eu e Irving ficamos sozinhos e jantamos juntos na cozinha.

Holmes chegou um pouco depois, carregando uma mala.
- Irving, o seu navio sairá em menos de uma hora. Mycroft providenciou tudo e você embarcará como um mensageiro do governo. Está pronto? – perguntou Holmes com pressa.

- Estou Senhor Holmes. – respondeu o rapaz animado.

- A Senhora Lacey lhe fez esta mala; ela lhe comprou roupas e tudo mais que você irá precisar. – entregou-lhe meu amigo.
- E eu nem me despedi dela e não pude lhe agradecer. - entristeceu o índio.
- Escreva uma carta e eu a entregarei. – resolveu Holmes.

Meu amigo tirou do bolso de seu casaco um pequeno saco de pano com a boca fechado por um cordão.
- Troquei o dinheiro por pedras; será mais fácil para levar e proteger na viagem, e será mais fácil para trocar pela moeda da América. Jamais mostre isso para quem quer que seja, Irving, com exceção da pessoa que vou lhe indicar para procurar lá. - recomendou Holmes.

O rapaz abriu o saco e retirou pequenas pedras de diamantes.
- Senhor Holmes, nunca poderei lhe pagar isso! - disse o jovem com os olhos arregalados.
- Não será preciso. Vou escrever uma carta a um amigo que tenho na América e, assim que você chegar lá, irá procurá-lo. Há alguns anos atrás, eu também o ajudei a fugir e na última vez que me mandou noticias, contou-me que tinha se tornado bancário e que estava muito bem. Ele é um homem integro, trabalhava para o governo e foi ameaçado de morte por não aceitar fazer parte de um esquema de corrupção. Só a ele você deve mostrar estas pedras, Irving; ele lhe ajudará a recomeçar sua vida.

- Obrigado, Senhor Holmes. - agradeceu o índio.

- Vamos escrever nossas cartas e correr para o porto. – disse-lhe meu amigo, indo para a escrivaninha.

- Vou com vocês. – anunciei.
- Sinto muito Watson, mas se for conosco levará junto os dois policiais que estão lá embaixo fazendo sua escolta. Mesmo que eu goste de atiçar o perigo, melhor não arriscarmos. - advertiu meu amigo.
- Tudo bem, eu precisava mesmo ir falar com Mary. Irving, foi um prazer conhecê-lo e boa sorte em sua nova vida. - despedi-me do jovem.
- Obrigado por tudo, Doutor.

Desci para a rua e fui até os policiais.
- Senhores, já que vão me seguir, vamos tomar o mesmo coche. – ofereci.
Seguimos para a casa de Mary e fui recebido carinhosamente por ela, que logo ficou aborrecida ao saber que não conseguiríamos mais alugar a casa que havia gostado.
Estava uma noite linda e convidei-a para irmos a uma cafeteria. Após esperar por um longo tempo Mary se arrumar, saímos passeando pelas ruas vazias. Eu me sentia seguro com os dois guarda-costas logo atrás.
Mary segurava o meu braço e conversávamos sobre os preparativos do nosso casamento, quando uma carruagem passou tranquilamente por nós e parou a uma certa distância a nossa frente. 

Não havia nada de suspeito, até que desceram dois sujeitos que nos apontaram suas armas e começaram a atirar.
Entrei na frente de Mary gritando para que ela corresse, o que ela fez, retornando pelo caminho que havíamos feito. 
Um dos policiais se atirou sobre o meu corpo, me derrubando no chão, enquanto o outro atirou na direção dos dois sujeitos. 
O policial e eu, caídos no chão, conseguimos rolar pela calçada e nos esconder no muro da casa em que estávamos na frente. Sacamos nossas armas e também atiramos. O outro policial foi baleado e caiu ao chão.

Para o meu horror, outra carruagem apareceu no começo da rua, para onde Mary havia corrido, e outros dois homens desceram e a agarraram, levando-a aos gritos para dentro do transporte deles.
Os homens que estavam atirando em nós retornaram para a carruagem e saíram em disparada, sendo seguidos pela outra, onde estava Mary.
Eu, o policial e outros homens que apareceram na rua, socorremos o policial ferido. Um coche apareceu rapidamente e ele foi levado para o hospital por seu colega.
Um dos homens que nos ajudou se ofereceu para avisar a policia.
Eu tomei outro coche e corri para o apartamento na Baker Street; precisava de Holmes mais do que nunca.

Estava em estado de choque quando cheguei ao nosso prédio.
- Holmes! - subi as escadas gritando.
- Por Deus, Watson, o que aconteceu? – ouvi sua voz abrindo a porta do apartamento.
Graças a Deus, ele já havia retornado do porto.
- Pegarem Mary, Holmes, pegaram Mary! - disse-lhe quase chorando.
Meu corpo tremia e vi Holmes, que já era branco, perder a cor de vez. Ele se voltou para dentro do apartamento e caiu sentado no sofá, como se tivesse levado um soco no estômago.

- Respire Watson, e me conte com detalhes. – me pediu, tentando se controlar.
Sentei-me a sua frente e passei a lhe relatar todo o acontecido.
- A última vez que a vi, ela estava se debatendo dentro da carruagem, com os dois bandidos a agarrando. Holmes, pelo amor de Deus, me diga que sabe para onde eles podem ter levado a minha Mary! - implorei a ele.

Ele não sabia o que me dizer. Parecíamos os dois adolescentes de muitos anos atrás, quando estávamos dentro de uma pirâmide, com centenas de loucos preparando Elizabeth desacordada para ser morta em um ritual.

- Eu não sei, preciso pensar. - Holmes mal conseguia pronunciar as palavras.
Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, olhando para o chão.
- Holmes, eu vou até aquela casa onde encontramos Dudley! Pode ser que ela esteja lá. - conclui.
- É uma armadilha, a levaram para atrair você para morte. - retrucou Holmes, preocupado.
- Não me importo, só quero salvar Mary. Você está comigo, Holmes? - perguntei-lhe.
- Sempre Watson! Vamos pegar o maior número de armas que pudermos. - respondeu-me indo à estante.

Enquanto carregávamos algumas armas da coleção de Holmes e colocávamos em nossos casacos, ouvimos batidas de crianças na porta. Meu amigo correu para atender.

- Wiggins, viu alguma coisa? - perguntou meu amigo nervoso.
- Chefe, o fantasma acabou de jogar isso na porta do prédio. – disse o garoto estendendo um papel enrolado.
Holmes abriu o rolo apressadamente sobre a escrivaninha.
- O que é isso? - olhei para ele ansioso.
- Dois mapas. - respondeu-me preocupado.

- Dudley nos mandou dois mapas? Por quê? – fiquei sem entender.
- Porque quer nos separar! Dois mapas que levam a dois lugares diferentes, em lados opostos da cidade. Em um desses lugares, está Mary. Leia o bilhete que veio junto. – entregou-me Holmes.

- “Doutor Watson, sua noiva será morta à meia-noite; chegue antes se quiser salvá-la. Tire a sorte; só terá tempo de seguir um mapa.” - li trêmulo.

- Dudley sabe que não vamos escolher só um mapa e arriscarmos a vida dela; você terá que seguir um e eu o outro. Você estará sozinho e é isso que eles querem! - disse Holmes assustado.

Ouvimos o barulho de um batalhão subindo pelas escadas. Lestrade e Gregson entraram, sem pedir licença, acompanhados de vários policiais. 
 
O ex-bobbie que salvou minha vida estava entre eles. Gregson o havia contratado para sua equipe.
- Então rapazes, fomos avisados de uma tentativa de homicídio e um sequestro! Já receberam o pedido de resgate? - perguntou Lestrade.

Holmes e eu mostramos-lhes o bilhete e os mapas.
- Não temos muito tempo! Watson siga esse mapa e eu seguirei este. - disse Holmes, me entregando um dos mapas.
- Por que escolheu este, Holmes? Você observou muito estes mapas e deve ter concluído que Mary está no mapa que você pegou para si, não foi? – desconfiei.

- Watson, agora não é hora para suas neuroses! – brigou ele comigo.
- Está claro no bilhete, “eu” tenho que estar no local certo antes da meia-noite; sou "eu" quem eles querem. Você acha que não tenho competência para salvar minha noiva? Você pensa que é o único que consegue enfrentar o perigo? Vamos, me dê o mapa que escolheu para você, eu vou para este lugar. - falei muito bravo com ele.

- Como quiser, Doutor! - gritou ele comigo, trocando os mapas.
- Rapazes, se acalmem! Lestrade, escolha metade dos homens e vá com Holmes, e eu ficarei com a outra metade e vou com o Doutor. Seremos oito homens em cada grupo. – determinou Gregson.

- Podemos ajudar chefe? - perguntou Wiggins.
- Não meninos, dessa vez quero vocês bem longe. – respondeu-lhe Holmes.
- Estamos aqui por perto, se precisar é só chamar. - saíram os garotos.

- Senhores, estamos indo para a morte! Se alguém quiser desistir, esse é momento. – disse seriamente Gregson a todos na sala.
Os policiais levantaram a cabeça mostrando coragem, olhando para Holmes. Havia admiração no olhar deles. 

Holmes pegou o seu mapa e saiu com passos firmes, sendo seguido por todos.

Confesso que minhas pernas tremiam e fui um dos últimos a sair; só conseguia pensar no que Mary estaria passando naquele momento.
Os policiais haviam trazido seis carruagens. Parei na porta de uma delas e, antes de subir, olhei desesperado entre os homens procurando por Holmes. 

Ele estava bem mais a frente, junto da primeira carruagem, parado com as mãos dentro do casaco, me olhando como um pai. Parecia que queria me transmitir coragem com seu olhar. Fiz-lhe um cumprimento com a cabeça e entrei.
Meu coração quase parou quando passou pela minha cabeça que talvez fosse a última vez que eu o estivesse vendo.

Era uma armadilha, sem dúvida, e o tal professor estava por trás de toda aquela loucura. E se ele realmente fosse Rathe? E se ele estivesse esperando Holmes para decidir sobre sua vida?
As carruagens saíram em dispara e logo se separaram indo para lados opostos.
A imagem de Mary sendo sequestrada se repetia em minha mente, intercalada com a imagem de Elizabeth sendo morta. Parecia um pesadelo; sentia o pavor de passar pelo desespero que Holmes passou quando perdeu a única mulher que amou.

Pensar que Mary e Holmes poderiam morrer naquela noite me fazia sentir dor ao respirar.
- Doutor, precisa se acalmar ou não conseguirá enfrentar os inimigos que nos esperam. - disse firmemente Gregson.
Respirei profundamente tentando me controlar, mas no fundo tinha vontade de gritar; eu estava suando muito em plena noite gélida. Consultei meu relógio de bolso e já eram vinte e três horas e trinta e quatro minutos.
Gregson olhava o mapa e gritava pela janela para orientar o cocheiro e as demais carruagens. 
 
Senti um cheiro forte de carvão no ar; olhei pela janela e vi que estávamos em um dos bairros mais pobres de Londres, cheio de indústrias. A noite estava muito escura e começou a chover forte.
- Falta muito? - perguntei com ansioso.
- Mais rápido, vamos! - gritava Gregson para o cocheiro.

Olhei novamente o relógio e já eram vinte e três horas e quarenta e cinco minutos; meu coração parecia que estava em minha garganta. “Será que Holmes já havia encontrado o local do outro mapa?”, pensei.
- Pare, acho que chegamos! – berrou Gregson.

Paramos em frente a um enorme portão de uma fábrica. A chuva agora caia fina e o céu só clareava com os relâmpagos.
Todos desceram das carruagens.
- Muito bem, rapazes, tenham atenção e cuidado. Albert, Daniel e Julian, vocês vão para a direita. Len, Peter e Rod, pela esquerda. Eu e o Doutor vamos entrar pela frente; deem-nos cobertura. - ordenou Gregson, enquanto todos armavam as armas.

Entramos pelo portão e os homens correram para os lados. Havia um grande pátio de terra a céu aberto a nossa frente e no fundo, o prédio de três andares de uma fábrica.
Um relâmpago clareou o céu próximo às janelas do terceiro andar, nos mostrando em uma delas, uma figura sinistra que parecia nos observar.

- Estão nos esperando e não sabemos quantos são! - disse Gregson.
- Estão nos vigiando pelas janelas e vão atirar assim que tentarmos atravessar o pátio. - apontei para a figura estranha na janela. 
 
Agora que já sabíamos que ela estava ali, era possível ver o seu vulto no escuro.
- Vamos usar o escuro a nosso favor; corra o máximo que puder. - murmurou Gregson, já saindo em disparada.

Corri atrás dele e estranhamento não houve nenhum tiro. Conseguimos chegar à porta aberta da fábrica, onde a escuridão era completa. Um relâmpago clareou um pouco o céu e rapidamente conseguimos ver que a nossa frente tinham teares alinhados em fileiras.

Ouvimos um grito de horror, seguido de pedidos desesperados por socorro. 
Fomos tateando pelo escuro, correndo em direção aos gritos.
Senti que algo se aproximava pelas minhas costas; apontei minha arma no escuro e atirei.

- Doutor Watson, vai nos matar! - reclamou Rod, o ex-bobbie.
Os gritos pareciam cada vez mais sufocados, mas ainda imploravam por socorro.
- É Julian, ele foi pego! - sussurrou Gregson.
- Achei isso. – disse Rod entregando a Gregson um objeto no escuro.
- É uma lanterna de vela, mas não podemos acendê-la; vai nos mostrar para os criminosos. – observou Gregson.

- Acenda e jogue na direção dos gritos. - pedi a ele.

Gregson acendeu a lanterna com seu isqueiro e a fez rolar pelo chão enquanto saímos correndo de perto para não sermos vistos.
A luz nos revelou Julian sendo sufocado por uma píton amarela; a cobra era gigantesca e o pobre homem parecia já não ter mais forças para lutar com ela.
Ele se debatia no chão com a cobra enrolada em seu corpo. Não aguentei e, mesmo correndo o risco de ser visto na luz, corri até ele, segurei a cabeça da cobra e atirei.

Pensei que nesta hora, os criminosos aproveitariam para me matar na luz, mas o único disparo feito foi o meu, matando a cobra. 
 
Arrastei Julian para o escuro e o encostei em um tear. Seu rosto demonstrava muita dor; com certeza, a cobra havia lhe quebrado algumas costelas.
Gregson e Rod quase me mataram de susto, quando se aproximaram.
- Rod fique com ele. Vamos Doutor, o que procuramos está no terceiro andar. 
 Tomem cuidado, podem haver outras cobras. – sussurrou Gregson.

A luz da lanterna nos revelou uma escada. No segundo andar, havia muitas janelas de vidro, boa parte quebradas, o que permitiu a entrada do frio e da chuva. Com muita dificuldade, pude ver os vultos de mesas e armários do local que parecia estar vazio.
- Parados! - vimos um vulto nos apontando um revolver.

Eu e Gregson quase rolamos escada abaixo.
- Len, seu imbecil! - irritou-se Gregson.
- Desculpe chefe, não vi que eram vocês. - disse o policial abaixando a arma.
Agora em três, continuamos a subir as escadas que começaram a ranger.
- Não sei como não nos mataram ainda! - disse Len.
- Mary está lá cima. - respirei fundo e subi a escada correndo, passando por Gregson.

Não me importava mais o barulho da escada rangendo, precisava salvá-la.
O terceiro andar era um galpão completamente vazio e sujo, com enormes janelas de vidro. Pela claridade, vi o vulto esquisito em frente a uma delas.
- Dudley, onde está Mary? - apontei minha arma para ele.
Gregson chegou atrás de mim, mirando com a arma para todos os cantos do galpão.
- Cadê os criminosos? - estranhou o inspetor.
- Fomos encurralados! Vão subir agora e nos matar! - deduziu Len.
- Daniel ficou lá embaixo vigiando a escada; se estivessem subindo, ele já teria atirado. - afirmou Gregson.
- Se ele ainda estiver vivo para atirar! - resmungou Len.

Fui me aproximando da forma humana em frente à janela, com a arma apontada para sua cabeça.
- Seja você quem for, me diga onde está Mary! – disse bravo.
Um relâmpago finalmente clareou o galpão e a criatura na janela nos foi revelada. Era um palhaço horroroso de cera e, em suas mãos, havia um papelão escrito: “Mapa errado”.

Ouvimos tiros no primeiro andar e descemos correndo.
- Chefe, matei outra cobra. - ouvimos a voz de Daniel, quando nos mostramos na luz da lanterna próxima a escada.
Rod havia colocado um pedaço de madeira improvisado como tala nas costas de Julian, que se contorcia em dor. Com retalhos de tecidos encontrados nos caixotes, a tala havia sido amarrada no corpo esmagado.

- Muito bom Rod, isso vai evitar que as costelas quebradas lhe perfurem algum órgão. - mesmo atordoado, consegui elogiar o policial. 
 
- Carreguem Julian com cuidado. Vamos, temos que ir para o outro lado da cidade; Holmes e Lestrade foram ao encontro dos criminosos. – ordenou Gregson.
Enquanto saíamos correndo, com a lanterna de vela na mão de Gregson, vi outra píton entrando embaixo de um tear. 
 
Atravessamos o pátio e chegamos até as carruagens. Eu e Gregson entramos em uma, onde Julian havia sido colocado, enquanto os outros entraram nas demais. Os cocheiros saíram novamente em disparada.
Julian berrava de dor.
- Vamos ter que parar no caminho e deixá-lo em um hospital. - disse-me Gregson.

Concordei com a cabeça. Estava tomado de pavor e agora eu tinha certeza: o homem que eu tinha como irmão e a mulher da minha vida estavam nas mãos dos assassinos.
Olhei para meu relógio de bolso e eram vinte e três horas e cinquenta e seis minutos.

“Quase meia-noite! Será que Holmes sabia qual era o mapa certo? Ele observou demais os dois mapas e tinha escolhido o meu mapa! Se eu não tivesse discutido com ele para trocar, eu teria ido para o local certo. Será que Holmes sabia que eu o obrigaria a trocar os mapas, por isso escolheu o mapa errado para depois pegar o mapa certo?”; minha cabeça fervia.

A chuva estava muito forte quando paramos rapidamente no hospital que havia no caminho e deixamos Julian.
De volta ao caminho, meus pensamentos fervilhavam.
“Meu Deus, o que já não terá acontecido a Mary e a Holmes! Eu vou matar esses assassinos; eles vão me pagar caro por estarem me tirando as duas pessoas mais importantes da minha vida”.

Fui tomado de uma coragem e uma sede de vingança que surpreendeu Gregson. 
Coloquei a cabeça para fora da carruagem e comecei a gritar para ir mais rápido.
Passamos por ruas comerciais, casarões e hotéis de luxo; reconheci que estávamos em Knightsbridge; em meu relógio já eram vinte e quatro horas e trinta e três minutos.
Sabíamos que o outro mapa levava ao outro lado da cidade, mas não tínhamos a menor ideia de onde os encontraríamos.

- Como vamos achar o local? - Gregson perguntou preocupado.
Ouvimos o apito de um bobbie vindo do lado contrário em nossa direção. Paramos as carruagens e perguntamos se ele havia visto alguma coisa.
- Tiros, senhores, no velho casarão do Senhor Vicente Helge. Parece que está havendo uma guerra por lá. – informou-nos o bobbie.
- Achamos! Corre! – gritei ao cocheiro.

Senhor Helge era um milionário solitário que vivia em um casarão antigo, dentro de um amplo terreno com muitas árvores e um lago.
Ao nos aproximarmos da mansão, foi possível ouvir os estampidos; eram tantos tiros que assustaram os cavalos das carruagens. Pulamos fora e corremos a pé sob a chuva forte, encontrando logo à frente as outras carruagens do grupo de Holmes, com os seus cocheiros também assustados tentando controlar os cavalos agitados.
- O que aconteceu aqui? - gritou Gregson para os cocheiros.

- Quando chegamos, o inspetor Lestrade mandou que os homens contornassem a casa e subissem no muro, procurando cercar todos os lados. Combinaram que Senhor Holmes entraria sozinho pelo portão para que os bandidos aparecessem para pegá-lo e os policiais nos muros pudessem matá-los. Um pouco depois que o Senhor Holmes entrou, o som de tiros foi de ensurdecer. – contou-nos um dos cocheiros.
- Continuem segurando os cavalos, vamos precisar de vocês para socorrer os feridos. - mandou Gregson.

Corremos mais duas ruas e chegamos ao portão de grade do casarão, que estava aberto. Na nossa frente, uma floresta de árvores e do lado direito um lago; ao fundo, o casarão tinha um incêndio em seu segundo andar.
Havia sons de tiros dentro e fora da casa, misturados com uivo de cachorro.
A chuva estava muito forte e um clarão de relâmpago nos mostrou um corpo boiando no lago. Tratava-se de um homem pequeno; não consegui identificar se era um policial ou um bandido, mas com certeza não era Holmes.

Corremos por entre as árvores, sob a chuva forte, tentando nos aproximar da casa. Conforme avançávamos, via corpos caídos nos chão.
Um dos policiais do grupo de Holmes vinha correndo em nossa direção, já ensanguentado, e caiu quando foi atingido por outro tiro. O bandido que atirou vinha logo atrás, com a arma apontada para o policial, parando perto dele e mirando sua cabeça. 

Atirei primeiro e acertei a cabeça do bandido, que caiu morto.
Fui até o policial que havia sido atingido nas costas, do lado direito logo acima da cintura, e no ombro, mas ainda estava vivo.
Dois policiais do meu grupo também nos acharam.
- Onde está Holmes? - perguntei ao homem ferido.
- Na casa. - respondeu ele, mal conseguindo respirar.
- Vocês dois levem-no até às carruagens e digam ao cocheiro para levá-lo ao hospital mais próximo. – ordenei.
Um dos policiais o carregou e outro foi dando cobertura.

Escondi-me atrás de um tronco imenso quando senti a aproximação de alguém; apontei minha arma e vi o homem apontando a arma dele para mim; era Gregson. Tiros vieram em nossa direção e entramos atrás da mesma árvore para revidarmos os tiros.
Localizei um dos bandidos atrás de outra árvore e mirei em sua direção, aguardando o momento certo dele se mostrar. Quando saiu para atirar, acertei-lhe a cabeça.
Um tiro veio por trás e acertou o braço de Gregson. Virei-me e vi um bandido pronto para atirar em mim, mas Lestrade estava atrás dele e foi mais rápido, matando-o com dois tiros.

- Que bom que nos acharam; precisávamos de reforços. – Lestrade parecia agradecido.
- Viu Holmes? - perguntei-lhe afobado.
- Foi o único que conseguiu entrar na casa e um pouco depois que entrou, começou aquele incêndio. – mostrou-me o fogo no segundo andar.
- Lestrade, siga-nos por trás para dar-nos cobertura; eu e o Doutor vamos entrar na casa. - disse Gregson, segurando o braço ensanguentado.
- Você está bem? - indaguei com pena.
- Vamos acabar com eles! - saiu ele correndo para outra árvore.

Pelo caminho, vi outro bandido pronto para atirar em um policial pelas costas. Acertei-lhe a perna e o policial virou-se rapidamente, acertando-lhe o peito.
A porta da casa estava aberta; tomei fôlego e sai em disparada para entrar quando um tiro passou muito próximo à minha cabeça.

Entrei jogando-me no chão e procurando um móvel para me esconder. Fui para trás de um sofá, quando vi no alto da escada, Holmes lutando com um dos grandalhões que sequestraram Mary.
Os dois se atracaram e desceram rolando escada abaixo. Apontei minha arma e quando tive a certeza de que não acertaria Holmes, atirei no bandido acertando-lhe as costas. Holmes conseguiu se livrar de suas garras e pude terminar de matá-lo com um tiro no peito.

- Mary está lá em cima com Dudley, Watson. - gritou Holmes, se levantando para pegar uma arma que estava jogada no chão.
Não deu tempo; um rottweiler rosnando entrou rapidamente na sala, vindo da porta aberta. Holmes colocou o braço na frente do rosto e o cão foi por cima dele.
Meu amigo deu um grito de dor, ao mesmo tempo em que gritou para que eu corresse. 
 
Um bandido entrou vindo pela cozinha e eu corri para a escada tentando atirar no cão que estava em cima de Holmes. O bandido atirou em minha direção, me fazendo fugir para o segundo andar.
Quando cheguei no alto da escada, ouvi dois tiros lá embaixo que me fizeram congelar; precisava salvar Mary e socorrer meu amigo.
“Holmes, ainda esteja vivo, pelo amor de Deus”, pensei.

A fumaça do fogo queimou as minhas narinas. Coloquei a mão no nariz tentando respirar o menos possível e andei pelo corredor, olhando dentro dos quartos com a minha arma apontada. 
Encontrei dois dos bandidos que haviam sequestrado Mary mortos no chão, completamente ensanguentados.
Achei o quarto que estava em chamas e senti que Mary estava nele. 
 
Não dava para passar da porta porque no chão do quarto havia sido feito uma barricada com madeiras em chamas. Através do fogo, vi a cama onde estava Mary, com as mãos amarradas e uma fita tapando-lhe a boca; parecia morta.

Ao lado da cama estava Dudley, com um pano molhado amarrado em seu rosto, cobrindo-lhe o nariz. Em sua mão segurava um galão de álcool aberto pronto para jogar em Mary.
- Até que enfim o convidado principal chegou para a festa. – disse-me Dudley rindo.
Com o fogo tão próximo, se caísse álcool na cama, Mary estaria em chamas rapidamente.
- Pelo amor de Deus, Dudley, deixa-a. Ela não tem nada haver com sua vingança. – implorei a ele.

- Você demorou Doutor, talvez ela já esteja morta. - riu ele.
Olhei para ela chorando e realmente parecia que não respirava mais.
- Abaixe sua arma ou verá sua noivinha pegando fogo. - ameaçou ele com o galão de álcool.
Joguei meu revolver no chão.
- Hora de cumprir minha missão. - disse apontando-me sua arma.

Uma pedra enorme atravessou pela janela aberta que havia atrás de Dudley, atingindo-lhe em cheio na cabeça. Ele caiu desacordado com o galão, derramando todo o álcool bem próximo à cama; o fogo se alastrou mais perto de Mary.
Holmes entrou pela janela como um gato, com o braço em carne viva; correu até a cama e tomou Mary nos braços. De volta à janela, arrumou-a em seus ombros e foi para o lado de fora.

Peguei minha arma no chão e corri para a janela do quarto ao lado, onde pude vê-lo se equilibrando na moldura das paredes, tentando chegar à janela onde eu estava.
Um bandido saiu de trás de uma árvore no jardim e atirou em Holmes e Mary; o tirou atingiu a parede, bem próximo à Holmes, fazendo-o se desequilibrar e cair. Na queda, ele conseguiu puxar o corpo de Mary sobre o dele, caindo ele de costas e ela por cima.

Matei o bandido com um tiro na cabeça e mantive minha arma apontada para as árvores.
Holmes deitou minha noiva no chão, tirou-lhe a fita que fechava sua boca e desamarrou suas mãos, enquanto a chamava por seu nome tentando despertá-la. 

Ela não reagia; estava intoxicada pela fumaça do quarto.
Holmes abriu delicadamente a boca de Mary com uma mão e com a outra fechou seu nariz, passando a lhe fazer respirando boca a boca. Depois de dar-lhe ar, colocou a palma das mãos em seu peito e fez-lhe massagem cardíaca. Voltou a fazer-lhe respiração na boca, até que o corpo dela finalmente deu sinal de vida com ela tossindo muito.

Mantive-me atendo às árvores, mas por um segundo meu olhos encontraram os de Holmes, que me olhava sem fôlego. Neste segundo, sorri para lhe mostrar minha gratidão.

Holmes ajudou Mary a se sentar. Pude ouvir a voz debilitada de minha noiva perguntando por mim quando meu amigo me apontou na janela.
Holmes se levantou carregando Mary nos braços e buscou proteção junto a uma árvore para se esconder. Lestrade e Gregson saíram da casa, apontando suas armas em todas as direções e outros policiais foram aparecendo, cercando Mary e Holmes.

Sai correndo do quarto e desci a escada. O bandido que havia me obrigado a fugir para o segundo andar e o cão que havia atacado Holmes estavam mortos na sala. 

Cheguei à porta e os tiros novamente recomeçarem, me obrigando a voltar para dentro da casa. 

Após alguns segundos de silêncio, nem me importei mais com o perigo e sai correndo em direção a Holmes e Mary.
Enquanto os policiais estavam atentos para a frente da casa, de onde vieram os tiros, Holmes viu Dudley sair correndo para o interior da floresta, após pular pela janela do quarto onde estava.

Meu amigo correu ao meu encontro, jogando-me Mary em meus braços como se ela fosse um saco de batatas.
- Tome Watson. - disse ele, saindo correndo atrás de Dudley.

Holmes estava desarmado e temi pela sua vida. Corri até Lestrade.

- Sinto muito, querida. - disse à minha noiva, enquanto também a joguei nos braços do inspetor, para sair correndo atrás de meu amigo.

Dois policiais nos seguiram enquanto os outros ficaram protegendo Mary.

Passamos correndo por sobre a ponte do lago quando vimos, a uma longa distância, meu amigo alcançar Dudley, pulando em cima dele.
Os dois se atracaram em luta, rolando pela lama sob a chuva que agora caia mais fina. Holmes, mesmo com o braço muito machucado pelo cão, conseguiu ficar por cima de Dudley, lhe desferindo socos no rosto.

Eu e os dois policiais, quando conseguimos chegar até eles, tivemos muito trabalho para segurar meu amigo.
- Acabou, Holmes, acabou! - gritei com ele, enquanto se debatia querendo avançar novamente em cima de Dudley, que já estava desacordado no chão, com o rosto todo ensanguentado.

- Eu jurei que o mataria, me deixem. – berrou ele.
- Já morreram pessoas demais esta noite; chega Holmes. – implorei a ele.
Quando conseguimos acalmá-lo, os policiais carregaram Dudley inconsciente e retornamos para casa.
Saímos pelo portão da casa ainda apontando as armas para todos os lados e carregando os policiais feridos. Encontramos alguns corpos de bandidos pelo caminho.
 
Gregson estava com uma bala encravada no braço, quatro policiais haviam sido baleados no casarão, outro levou um tiro na rua quando Mary foi sequestrada e o outro quase morreu estrangulado por uma cobra. Os demais estavam bem.
Lestrade achou melhor esperar o dia amanhecer para voltar a casa com mais policiais para recolher os corpos; enquanto estivesse escuro seria muito perigoso.

Carreguei Mary carinhosamente e entrei com ela em uma carruagem que nos levou, junto com Gregson, para o hospital.
Gregson foi levado para a sala de cirurgia e Mary ficou sob os cuidados de um colega médico. Fui procurar meu amigo nas outras carruagens que estavam chegando ao hospital.
- Onde está Holmes? - perguntei a um policial.
- Ele não veio conosco Doutor. A carruagem onde estava tomou outro rumo. - respondeu-me.

- Mas que coisa! Por favor, senhor, me leve a Baker Street urgente. - pedi a um cocheiro.
Entrei no apartamento esbravejando.
- Holmes!
- Não grite Watson, estou com dor de cabeça. – ouvi sua voz.
Holmes estava no banho, relaxando na tina de água quente. A porta estava aberta e eu entrei brigando com ele.
- Você foi mordido por um cachorro e caiu da janela do segundo andar de uma casa! Por que não foi para o hospital, seu maluco?
- Estou bem. Como está, Mary? - perguntou-me tranquilamente.
- Está sob os cuidados de um médico, o que você também deveria estar fazendo. – respondi-lhe grosseiramente.
- Só preciso de um banho. – minimizou seus ferimentos.
- Ah, sim! O cachorro que lhe mordeu pode ter lhe transmitido alguma doença e a sua queda da janela naquela altura ainda pode lhe causar uma hemorragia interna, mas quem sou eu para dizer a Sherlock Holmes o que ele precisa? Sou apenas o imbecil, inútil e patético doutorzinho. - reclamei muito nervoso.

- Watson, se não tem respeito por si mesmo, não ofenda a minha inteligência. Eu jamais teria como melhor amigo um ser patético, nem tampouco teria convivido todos esses anos com você se fosse um imbecil; também não o levaria em minhas investigações se fosse um inútil. – respondeu-me ainda calmo.

Suas palavras me trouxeram de volta para a realidade. Mesmo assim, ainda estava muito preocupado com ele, então respirei fundo, tentando me acalmar.
- Holmes, em suas aventuras sempre obedeci suas ordens, por mais que me desagradassem. Agora eu peço que confie em mim como médico e me obedeça; se vista e venha comigo para o hospital. - disse-lhe em um tom mais moderado.
Ele me olhou contrariado, mas por fim concordou.
- Muito bem doutor, me espere lá fora.

Fui até a cozinha e joguei muito água em meu rosto, me molhando mais do que devia. Tive que ir ao meu quarto e trocar minha roupa.
Entrei no quarto de Holmes e ele estava quase pronto, arrumando a gola de sua fina camisa.
- Estamos indo a um hospital e não a uma festa. Não precisa ir tão elegante. - resmunguei.
- Estou contando até mil para não perder a paciência com você, Doutor – respondeu-me ainda tranquilo.

Entramos na carruagem e seguimos calados até o hospital. Levei-o até um consultório de atendimento, que me foi emprestado por um colega, para examiná-lo.
- Tire o casaco e a camisa e vamos ver como está este braço. – pedi-lhe.

Peguei o material necessário para fazer a limpeza do ferimento, que realmente estava muito feio, enquanto Holmes sentou-se na poltrona do consultório, já sem a camisa.
- Ai, Watson, isso dói! - gritou ele.

Aproveitei o momento para cobrar-lhe explicações.
- Eu tenho certeza Holmes, de que você sabia qual dos dois mapas era o certo. Você escolheu o errado porque também sabia que eu brigaria por ele, e assim você ficaria com o certo, não é mesmo? – voltei a ficar bravo.

- Você está cada dia mais louco, Watson, já é um caso para sanatório. – retrucou-me.
- E você e o seu ego, que se acham os únicos capazes de resolverem as coisas, por que não pulam em um precipício para ver qual dos dois chega lá embaixo primeiro? – disse-lhe irônico.

- Watson, você está me machucando de propósito. - reclamou ele, enquanto lhe fazia o curativo.
- Estou fazendo o que é preciso! - berrei.
- O que é isso? – disse-me também bravo, quando me viu preparar uma vacina.
- Vacina contra raiva! – gritei.
- Excelente, tome duas doses para ver se você se acalma! – gritou ele mais alto.

Após alguns segundos nos olhando bravos, caímos na gargalhada.
- Por que está brigando comigo dessa vez? - perguntou-me ele mais calmo.
- Passei por tanta tensão esta noite, quem nem sei mais o que estou fazendo! Isso vai doer um pouco, mas é necessário. - expliquei enquanto lhe aplicava a vacina com o maior cuidado possível.

Após enfaixar o braço, me dediquei a cuidar do ombro todo roxo.
- Meu Deus, seu ombro está horrível, deixe-me ver suas costas. – disse-lhe.
- Eu bati na queda. – explicou-me.
- Como escapou do cão e do bandido quando eu o deixei na sala? - aproveitei para pergunta-lhe.
- O bandido mirou em mim e atirou; eu usei o cão como escudo e tiro acertou nele. Gregson e Lestrade entraram na sala e mataram o bandido. A arma que estava no chão estava sem balas, então fui a frente da casa, peguei uma pedras, voltei para a escada e fui até o quarto, aquele onde você ficou na janela. Dali pulei a janela e fui me equilibrando pela parede até o quarto onde está Mary.

- Parece que não quebrou nada; machucou mais algum lugar? - indaguei.
- Não. – respondeu-me.
- Vamos lá, Holmes, tire as calças e me deixe examinar. – insisti.
- Não é necessário, Watson. – recusou-se ele.
- Sou ou médico e estou mandando tirar as calças. – disse-lhe em tom de ordem.

Holmes levantou-se contrariado abrindo o botão das calças, quando Mary entrou no consultório sem ser anunciada.
- Holmes... - disse ela antes de se assustar com a cena.
- Vire-se Mary! - gritou Holmes rudemente.
Minha noiva se virou com as mãos nos olhos.
- Sinto muito, eu não sabia. - desculpou-se ela.
- Saia Mary, espere Watson lá fora. - ordenou Holmes.
- Eu só queria lhe agradecer Holmes, por ter salvo minha vida. - justificou-se.
- Já agradeceu; agora saia! - respondeu ele, ainda bravo.

Ela saiu correndo constrangida.

- Não precisava ser tão rude, Holmes. - adverti-lhe
- Eu estou sem camisa, Watson. - disse ele, também constrangido.
- Ela não sabia. – argumentei.
- Poderia estar sem as calças. – retrucou-me.
- Estou feliz demais para me incomodar com isso. - respondi-lhe.
- Está feliz? Que bom, porque eu estou quebrado! – disse-me irônico.
- Está vivo, Holmes! – conclui.
- Vivo e quebrado, Watson! Diga a sua noiva que ela precisa aprender a bater na porta antes de entrar. - disse impetuoso.
- Estamos em um hospital, acalma-se e tire as calças. – ordenei.
- Não vou tirar mais nada Doutor, e terá que acreditar em minha palavra. Só machuquei o braço e as costas. - encerrou o assunto muito bravo.

Passei-lhe uma pomada nas costas, o que impediu que ele voltasse a colocar sua camisa.
- Espere-me aqui, vou confortar Mary por você ter sido estúpido com ela e depois vou buscar notícias de Gregson e dos outros policiais feridos. Também pedi a um cocheiro para buscar noticias do policial atacado por uma cobra, que está em outro hospital. Volto daqui a pouco. - disse-lhe saindo.

Encostei a porta do consultório deixando meu amigo lá dentro; já era dia e ele realmente parecia muito cansado.

Fui caminhando pelo corredor à procura de Mary quando encontrei a Senhora Lana Reece, uma viúva muito rica que prestava serviços voluntários no hospital.
A Senhora Reece casou-se muito jovem com um homem muito mais velho, o Doutor Reece, um dos fundadores do hospital. Muito ativa e audaciosa, acompanhava o marido em seu trabalho, passando o dia a cuidar de doentes como voluntária.

Doutor Reece havia falecido de infarto fulminante há pouco mais de seis meses, e a jovem, muito bonita, tornou-se viúva antes de completar seus trinta anos.
- Como vai Senhora Reece? - cumprimentei-a.
- Muito bem Doutor Watson. Não sabia que fazia plantão neste hospital. - surpreendeu-se.
- Na verdade não faço. Estou aqui porque minha noiva e meu melhor amigo precisaram de cuidados. E por falar em minha noiva, a senhora a teria visto? - pergunta-lhe.

- Talvez seja a bonita senhorita sentada na recepção de hospital. Precisa de alguma ajuda? - ofereceu simpática.
- Não, obrigado; vou até a recepção verificar se Mary está lá. Até mais senhora. - despedi-me.

Dei alguns passos e uma brincadeira surgiu em minha mente, me fazendo voltar e chamar pela formosa viúva.
- Senhora Reece, há algo que eu gostaria de lhe pedir sim, se não for incomodá-la. - atrevi-me.
- O que quiser Doutor Watson. - disse muito gentil.
- Meu melhor amigo, que se machucou muito esta noite, está descansando no consultório do Doutor Albert. Estou com cuidado de deixá-lo só; poderia tomar conta dele para mim enquanto procuro minha noiva? Também preciso buscar informações sobre o estado de saúde de outros amigos. - contei-lhe.

- Pode ir tranquilo Doutor, tomarei conta de seu amigo com muito prazer. - concordou muito prestativa.
"Espero que Holmes não seja tão grosseiro com a Senhora Reece quanto foi com Mary.”, pensei rindo, enquanto ia para a recepção.

Minha noiva realmente estava lá e já estava bem melhor em relação ao susto e a inalação da fumaça.
- John, eu sinto muito. - pediu-me desculpas pelo incidente com Holmes.
- Tudo bem, querida. Você está bem? - disse-lhe abraçando carinhosamente.
- Só preciso descansar. - respondeu ela sorrindo abatida.
O cocheiro também estava na recepção e me informou que o policial atacado pela cobra ficaria um bom tempo internado devido às costelas quebradas, mas não corria risco de morte.
- Espere-me só mais um pouco, querida, preciso saber sobre os policiais baleados e já a levarei para casa. - pedi acariciando-lhe seus cabelos.
Ela consentiu com a cabeça e fui ao encontro de meus colegas médicos.

Gregson teve a bala extraída do braço e passava bem, descansando no quarto. As cirurgias dos outros policiais também já haviam terminado e os mesmos estavam em observação, sendo muito bem cuidados.

Informaram-me que Dudley também estava internado ali; o mesmo precisou de pontos para fechar o corte na cabeça causado pela pedrada, e o seu nariz quebrado, junto com seu cabelo branco, lhe seriam recordações de Holmes para o resto de sua vida.
Só me restava chamar meu amigo para irmos embora.

Voltei ao consultório e a porta estava semiaberta. Antes que eu a abrisse e entrasse, vi pela fresta que Holmes dormia profundamente na poltrona, ainda sem a camisa e com o braço enfaixado, enquanto a Senhora Reece estava sentada no braço da poltrona, acariciando-lhe o peito. A delicada mãozinha foi subindo tocando-lhe a face e os cabelos; seu rosto se aproximou do rosto dele e ela o beijou nos lábios.
Holmes despertou assustado, levantando-se da poltrona surpreso. Na brutalidade em que se levantou, acabou jogando a Senhora Reece ao chão.
- Quem é você? - perguntou sem entender nada.
Entrei segurando a risada, ajudando minha amiga a se levantar.
- Acalme-se Holmes, esta é a Senhora Lana Reece. Ela é voluntária neste hospital e cuida dos pacientes. - esclareci.

- Senhora? É casada! - Holmes olhou para Lana a recriminando por tê-lo beijado.
- Eu sou viúva. Então você é o famoso Sherlock Holmes! - olhou para ele admirada.
- A Senhora cuida ou incomoda os pacientes? - perguntou Holmes vestindo sua camisa.
- Holmes, por favor, não se importe com coisas pequenas. - tentei minimizar o acontecido.
- Posso lhe garantir Doutor, não há nada de pequeno nele! - disse Senhora Reece com o olhar malicioso.
Holmes me olhou assustado.
- Watson tire esta atrevida daqui! - disse-me meu amigo rudemente.
- Senhora Reece, por favor! - pedi a ela, fazendo um imenso esforço para não rir.
Ela deu uma boa olhada de cima a baixo em Holmes, sorriu graciosamente e saiu.

Eu simplesmente não pude mais aguentar e me entreguei às gargalhadas.
- Não achei graça nenhuma. - saiu ele bravo e já completamente vestido.

Na recepção, Mary abaixou a cabeça assim que Holmes entrou. Ele foi até ela e segurou-lhe as mãos.
- Mary, por favor, me perdoe por ter sido tão estúpido com você. Não sei onde estava com a cabeça quando lhe falei naquele tom. - disse ele, de forma muito doce.
- Eu lhe perdoo, se você me desculpar por ter sido tão inconveniente. - respondeu ela.
- Você não foi inconveniente, apenas não tinha como imaginar. – compreendeu-a.
- Obrigada por tudo o que fez por mim está noite, Holmes. John me contou como você salvou minha vida. - agradeceu ela.
Holmes sorriu e beijo-lhe as mãos.

Olhei para trás e vi a Senhora Reece encantada, assistindo a cena junto comigo. Holmes havia conquistado mais uma admiradora.

Na carruagem, sentei-me ao lado de Mary e Holmes sentou-se a nossa frente, ao lado de Lestrade, que havia passado a noite no hospital acompanhando Gregson.
A lembrança do beijo de Senhora Reece em Holmes me fazia sentir vontade de rir, o que eu estava evitando a todo custo.

- Eu sei que você está rindo por dentro, Watson. - disse ele apertando os olhos para me fitar com raiva.
- Não sei do que está falando, Holmes. - desconversei.
- Tivemos uma das piores noites de nossas vidas. Como pode estar fazendo piada comigo? - Holmes mostrou-se indignado.
- Estamos todos vivos Holmes! A mulher que eu amo está aqui ao meu lado e eu me sinto o homem mais feliz desse mundo. Tenho muitos motivos para feliz. - justifiquei-me

- E se acha no direito de rir de mim? - meu amigo quis tomar satisfação.
- Não vou brigar com você novamente. Vou ficar com Mary e passar o dia lhe dando meus cuidados. Quanto a você, lhe recomendo como seu médico que durma o dia inteiro para se curar dos ferimentos e do seu mau humor, e como seu melhor amigo, eu lhe recomendo trancar a porta de seu quarto. Vai que Senhora Evelyn também não resista aos seus encantos enquanto dorme! - eu precisava fazer esta piada.

- A vingança é mais doce quando servida fria, meu caro, me aguarde. - ameaçou Holmes.
- Qual o problema de vocês dois? - interrompeu-nos Mary, sem entender.
- Não se preocupe Senhorita, conheço esses dois desde que eram jovens e sempre foram patéticos assim. - revelou o inspetor.
- Cale-se Lestrade! – dissemos eu e Holmes juntos.

Capitulo 8 - O casamento


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