Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capítulo 10 - O duelo

Meu amigo saiu rapidamente do escritório, indo direto para a porta do salão, de onde desapareceu. Retornei à mesa e pedi às senhoras para que fôssemos embora.
- Por favor Doutor, o que está acontecendo? - implorou-me Lana.
- Não posso lhe contar Lana. Se souber, estará correndo perigo. Você precisa esquecer Holmes. - fui o mais incisivo que pude com ela.
Tomamos uma carruagem e acompanhamos Lana, aborrecida, até sua casa.

Também deixei Mary em nossa casa e sai rumo a Baker Street, por volta da meia noite. Entrei no apartamento usando minhas chaves.
Fui até o quarto de Holmes, mas como já esperava, ele não se estava ali. Encontrei apenas Mingau dormindo no carpete ao lado de sua cama.
Voltei para a sala escura e preferi não acender os candelabros, aconchegando no sofá, refletindo sobre o encontro daquela noite.
Eu e Mycroft admirávamos tanto a inteligência e a esperteza de Holmes, que poucas vezes tememos por sua vida. Ele sempre conseguia sair praticamente ileso de todos os perigos que corria. Mas aquele duelo marcado com o professor estava me consumindo em preocupação.
Fui até a janela e vi uma carruagem parando do lado oposto da rua; outra parou em frente ao nosso prédio, da qual desceu Holmes. Esperei que ele entrasse pela portaria e retornei ao sofá. .
- Não deveria estar dormindo em sua casa a esta hora, Watson? – entrou Holmes na sala escura.
- Acha mesmo que eu conseguiria dormir sem falar com você? Como sabia que eu estava aqui, nesta escuridão? – perguntei-lhe mais aliviado ao vê-lo sereno.
- Vi seu vulto na janela quando cheguei na carruagem. - respondeu-me acendendo os candelabros.
- Onde esteve? – indaguei.
- No túmulo de Elizabeth. Fui lhe pedir perdão por ter permitido que o seu assassino ficasse impune por todos esses anos. - contou-me sentando-se no sofá a minha frente.
- Eu realmente não acreditava que ele pudesse estar vivo. Parece um pesadelo. – disse-lhe.
- Eu tinha certeza e já estava preparado para o pior; o anel e a letra dele nos bilhetes eram evidências claras. Mesmo assim, confesso que foi muito mais difícil do que eu imaginei. – revelou-me.

- E este duelo Holmes? Como pode propor esta loucura? - mostrei-me inconformado.

- Watson, você precisa se afastar de mim. O que eu mais temia em minha vida aconteceu; as pessoas que me são mais caras estão correndo risco de morte por minha causa. Em pensar no que você e Mary passaram; até Mary acabou sendo envolvida nesta vingança. – desabafou ele.

Antes que eu pudesse lhe responder, ouvimos delicadas batidas na porta.

- Quem pode ser a esta hora? - levantou-se Holmes até a porta.

Antes que tivesse tempo de abri-la, ouvimos uma doce voz que já conhecíamos, do lado de fora do apartamento.

- Sherlock, eu sei que esta aí. Eu estava na carruagem lá fora e vi quando você entrou. Abra a porta meu anjo. - implorou Lana.

Holmes suspirou desanimado.

- Vá embora, Lana, já lhe disse para me esquecer. – esbravejou meu amigo.

- Deixe-me entrar Sherlock. Deixe-me fazê-lo dormir em meus braços, como fiz ontem à noite. – pediu Lana.

- Eu não estou sozinho, sua maluca! Vá embora. - gritou ele, embaraçado.

- Quem está aí com você, Sherlock? - perguntou ela curiosa.

Dava pena de ver a senhora se iludir daquela maneira. Holmes jamais lhe daria uma chance. 


Decidi então acabar-lhe com as esperanças e, fazendo a voz mais fina e delicada que pude, interferi na conversa dos dois.

- Ele está comigo garota, vá embora e o deixe em paz!

Holmes me olhou assustado e de boca aberta, como se não acreditasse no que acabará de ouvir.

- Sherlock, quem é esta mocreia? – gritou ela com ciúme.

- Não é da sua conta, vá embora. – respondi-lhe ainda com a voz feminina e possessiva.

Ouvimos o estrondo de um chute dado com raiva na porta e passos descendo rapidamente pela escada. Meu amigo foi até a janela para ver Lana entrar em sua carruagem e partir.

Holmes me olhou admirado e caímos na gargalhada.

- Depois da noite terrível que tive, só você para me fazer rir Watson! O que foi isso?- perguntou ele, sem conseguir parar de rir, sentando-se no sofá.

- Precisava convencer Lana a esquecê-lo. Melhor que ela sofra e se conforme agora do que se envolva ainda mais. – justifiquei-me com a voz normal.

- Foi horrível, mas eu gostei. – disse-me com cara de quem aprovou a minha maldade.

- Ah, Sherlock, não consigo entender o que as mulheres veem em você! - fiz novamente minha voz feminina.

- Pare com isso Watson, vai me causar pesadelos. - pediu-me ele, ainda rindo.

Voltei a lhe falar sério.
- Holmes, precisamos de um plano. Vamos desmarcar Moriarty e evitar esse duelo.

- Vou fazer o que tem ser feito e, por favor, aceite a minha escolha, Watson. Você tem sua vida com Mary agora, e é a ela que você tem a obrigação de se dedicar. – respondeu-me.

- Você é como um irmão para mim, como acha que não vou me preocupar? - protestei.

- Tem que ser assim! Não posso permitir que meus inimigos usem vocês para se vingarem de mim. Entenda, por favor, isto também não é nada fácil para mim. - insistiu ele.

- Tem que haver outro jeito. Você sempre encontra uma solução. – instiguei-lhe.

- Vá para casa, não deixe Mary sozinha. - finalizou meu amigo.

- Eu vou pensar em algo e amanhã conversaremos. – disse-lhe, não aceitando sua decisão.

Sai olhando-o com tristeza. Não adiantaria argumentar com ele naquela noite e acabaríamos brigando.

Andei algumas ruas e encontrei um coche que me levou até minha casa. Pela manhã, antes de ir para o consultório, fui a Baker Street. Desta vez, não queria encontrar Holmes, mas os garotos de rua.

- Como vai Wiggins? – cumprimentei o líder deles.

- Bom dia Doutor. O chefe quer me ver? – perguntou-me.

- Não, sou eu quem precisa de um serviço seu. – disse-lhe.

- O que manda? – interessou-se o menino.

- Preciso que você e seus amigos fiquem atentos a qualquer mensagem que chegar para Holmes e me avisem. Preciso evitar que uma mensagem chegue até ele. – pedi-lhe.

- Trair o chefe? Nunca Doutor! – recusou o garoto.

- Wiggins, precisamos salvar Holmes! Um bandido muito perigoso pretende atraí-lo para uma armadilha. – justifiquei-me.

- Mas ele é um herói, Doutor. Ele enfrenta qualquer bandido. - respondeu-me.

- Wiggins, você sabe que sou o melhor amigo de Holmes. Acha que eu estaria lhe pedindo para vigiar suas mensagens se não fosse realmente algo muito perigoso? Por favor, vamos trabalhar juntos para protegê-lo.

O garoto me olhou pensativo; parecia confuso.

- O que eu tenho que fazer? - perguntou enfim.

- Se alguém mandar você, ou um dos outros meninos, entregar alguma mensagem para ele, não entreguem. Levem a mensagem para o meu consultório ou para minha casa. Se não for a mensagem do bandido, eu a entregarei a Holmes. Se for, Holmes não ficará sabendo e não cairá na armadilha. -expliquei.

- E se o bandido enviar a mensagem por telegrama? – indagou o garoto.

- Mande-me avisar imediatamente. Tome este dinheiro, é para você pagar um coche quando precisar me procurar; e este é para você e seus amigos. Vou pagar-lhe mais quando conseguirmos pegar a mensagem. – entreguei-lhe as moedas.

- Doutor, se o chefe descobrir, vai ficar bravo. –  advertiu-me.


- Ele não saberá se não contarmos. E se ele descobrir, não se preocupe, vou dizer que enganei você e assumirei toda a culpa. Sei o quanto você o admira; não quer se juntar a mim e evitar que um bandido tente matá-lo? – insisti para convencê-lo.

- Se for assim, nós vamos ajudar, mas só porque eu sei que o senhor e o chefe são os melhores amigos do mundo. – acabou aceitando.

Ouvir aquilo me fez sorrir.

Os dias se passaram e nenhum sinal dos meninos. Cheguei a pensar que Wiggins havia desistido do nosso acordo.

Fiquei aliviado quando, ao chegar pela manhã em meu consultório, havia um dos garotos me esperando.

- Doutor, Wiggins mandou-lhe avisar que foi entregue um telegrama para a criada agora a pouco. - avisou-me.

- E Holmes está no apartamento? - perguntei-lhe.

- Não, esses dias ele viajou. – informou-me o pequeno.

- Bem que Holmes sempre fala o quanto vocês são incríveis. Vamos para o apartamento agora. – retornei ao coche com o menino.

Na Baker Street, Wiggins estava a minha espera.

- Doutor, o chefe acabou de chegar. - contou-me.

- Vamos ver se ainda dá tempo de interceptar a mensagem. - disse-lhe, saindo correndo.

Entrei no apartamento com as minhas chaves. Senhora Evelyn parecia estar na cozinha e Holmes no banho.

A criada tinha o costume de deixar as mensagens sobre a escrivaninha. Não estava lá, então Holmes já a teria visto.

Procurei nas gavetas e encontrei o telegrama, já aberto, com a mensagem: “Sherlock Holmes, como combinamos, espero-lhe nesta quinta-feira no desfiladeiro de Rosenlaui, ao sul de Meringer, no cantão de Berna, à meia-noite. Não se preocupe com as armas, eu as levarei. P. M.”.

Devolvi a mensagem na gaveta e sai, sem ser visto nem por Holmes, nem pela Senhora Evelyn.

- Então Doutor? - perguntou Wiggins.

- Não fui tão rápido, Wiggins. Holmes já leu a mensagem. Preciso encontrar outro jeito de protegê-lo. - respondi, enquanto lhe dava mais dinheiro por ter me ajudado.

Já no coche, respirei fundo para pensar. Estávamos na quarta-feira, portanto Holmes deveria estar se preparando para viajar. 

Corri à casa de um colega médico e pedi-lhe para que assumisse meus compromissos no consultório por uns dias, a fim de que eu pudesse viajar para atender a um imprevisto.

Voltei para minha casa para fazer as malas. Mary havia ido visitar a Senhora Cecil, por isso escrevi-lhe uma bilhete avisando que eu e Holmes estaríamos viajando por dois ou três dias; nesta mensagem também pedi a ela para que não se preocupasse e confiasse em mim.

Com as malas prontas e minha arma dentro, sentei-me na cama para refletir. Para estar em Berna na quinta-feira na hora marcada, seria preciso viajar no trem para Paris, o qual partiria às onze horas e de lá embarcaria para a Suíça. 

Se eu não fosse neste trem, não chegaria a tempo. O problema é que Holmes também viajaria neste trem e ele não permitiria que eu fosse junto.

Fiquei pensando no que meu amigo faria se estivesse na minha situação. “Ele usaria um disfarce, é claro”, conclui.

Procurei em meu armário algo com que pudesse me disfarçar, mas não encontrei nada. Olhei para meu relógio e entrei em desespero; precisava encontrar uma solução urgente. Por fim, me entreguei à loucura.

- Situações extremas exigem medidas extremas. - disse a mim mesmo, em voz alta, para tomar coragem.

Abri o armário de Mary e escolhi um vestido largo, no qual ela usava uma fita para amarrar na cintura. Coloquei o chapéu para disfarçar meu cabelo curto. Passei maquiagem em meu rosto, mas não tive coragem de tirar o meu bigode, então peguei um leque para escondê-lo.

Com minhas malas, entrei em um coche para a estação.

A sensação era horrorosa. Não sei como pude fazer algo tão ridículo e se eu fosse descoberto, minha reputação como médico estaria acabada.

Holmes faria qualquer coisa para salvar minha vida e eu não vou falhar com ele.”, pensei tentando me acalmar.

Meu plano era simples, eu viajaria disfarçado como senhora até Berna. Lá me livraria do vestido de Mary e vestiria minhas roupas no banheiro do trem, só saindo depois que Holmes não estivesse mais na estação. Depois de me hospedar em uma pousada, me esconderia no desfiladeiro na hora marcada para o duelo e quando Moriarty aparecesse, eu o mataria com um tiro direto na cabeça. Se Holmes me julgasse um covarde por isso, paciência! Com o tempo, ele me perdoaria.

Para minha sorte, o cocheiro que me levava para a estação parecia ser um senhor muito mal humorado e nem reparou em mim. Recebeu seu pagamento e deu-me as costas sem nenhuma cerimônia.

Como eu havia previsto, Holmes já estava na estação, vestido elegantemente e se apoiando em sua bengala. Parecia muito tranquilo observando as demais pessoas que esperavam o trem.

Quando me viu, seu rosto virou-se com indiferença, mas de repente, seus olhos se arregalaram e ele voltou a me olhar assustado. 

Abaixei meu rosto o máximo que pude atrás do leque, torcendo para que ele não tivesse me reconhecido. 

Ele voltou a observar as demais pessoas, ainda com a expressão de espanto.

Entrei em um dos vagões e me sentei no fundo. As pessoas me olhavam de um jeito estranho, como se estivessem com pena.

O que há de errado comigo? Será que errei tanto na maquiagem?”, não conseguia entender.

Para o meu tormento, Holmes sentou-se no banco do outro lado do corredor. 


Durante a viagem, fui relaxando quando percebi que ele estava com os pensamentos longe, enquanto olhava pela janela do trem.

- A senhora deseja beber algo? - perguntou-me um funcionário.

- Não, obrigada. - respondi-lhe com minha voz feminina.

Holmes, ao ouvir a minha voz imitando uma senhora, voltou a me olhar assustado. Depois de também recusar e agradecer ao funcionário, ele se levantou e sentou-se a minha frente, sem pedir licença.

Fiquei paralisado, sem saber como continuar fingindo. Usei o leque para esconder o máximo que podia do meu rosto. Ele me observou por alguns segundos como se estivesse vendo um fantasma e eu senti que não tinha mais jeito.

- Eu não acredito no que eu estou vendo, Watson! - disse ele enfim, incrédulo.

Suspirei profundamente e acabei com a farsa.

- Não me julgue Holmes, eu precisava lhe seguir. Não poderia deixá-lo ir sozinho para esse duelo. - revelei-me envergonhado.

Holmes cobriu seu rosto com a mão, inconformado com o que via; depois olhou pela janela do trem para não me encarar. Ele não sabia se ria ou se brigava comigo.

- Quando você me viu lá na estação e se assustou, já suspeitava que fosse eu? - perguntei-lhe.

- Não, eu olhei para você e pensei o mesmo que todas as pessoas que estavam na estação pensaram: Santo Deus, que mulher feia! Como pôde fazer isto, Watson? - respondeu-me, se segurando para não rir.

- Por você e por Mary, sou capaz de qualquer coisa. - afirmei-lhe com seriedade.

Ele conseguiu me encarar sério.

- Watson, você também é como um irmão para mim.  Por isso é que não quero você envolvido nisso.

- Vou ao banheiro me trocar. Já que fui descoberto não há mais necessidade desta situação ridícula. - disse-lhe, enquanto me levantava para pegar minha mala.
- Sente-se! Terá que continuar com este disfarce horroroso. - ordenou-me Holmes.

- Por quê? - protestei.

- Porque há capangas de Moriarty neste trem. É óbvio que ele iria se certificar do meu embarque e não quero que você seja visto por eles. - esclareceu-me.

- Estava me escondendo de você! Não me importo em ser visto por eles e quero sair desta situação constrangedora. - retruquei.

- Vai continuar vestido assim, Watson. Também estou em uma situação constrangedora, ou você pensa que é fácil ser visto com uma baranga como você? - disse-me sério.

- Oh, Holmes, agora você machucou meu coração! - solucei como uma senhorita, fazendo minha voz feminina.

Meu amigo não conseguiu mais se segurar e caímos juntos na gargalhada.
Quando conseguimos parar de rir, Holmes ficou pensativo e me olhou desconfiado.

- Esteve no apartamento hoje, não foi Watson? Sabia que eu esperava a mensagem de Moriarty, então a procurou pelas gavetas. - conclui ele.

- Foi exatamente isso e eu tenho um plano, Holmes. - tentei desviar seus pensamentos, antes que ele descobrisse que os garotos me ajudaram.

- Estou vendo! Inventou um plano e se vestiu para o crime! - brincou comigo.


- Estou tão feia assim? - indaguei magoado.

- Digamos que se feiura fosse um crime, a essa hora você já estaria na forca. - respondeu-me com um olhar de observação.

- Isso foi rude. - reclamei.

- Pois bem, me conte seu plano. - interessou-se, achando graça.

- Vou me esconder no desfiladeiro e matar Moriarty com uma bala bem no meio do nariz dele. Ele nem saberá de onde veio o tiro. – expliquei-lhe.

Holmes levou sua mão em seus olhos fechados.

- Watson, Moriarty é o chefe do crime organizado de Londres e eu não tenho mais dúvidas a este respeito. Se o atacar de forma covarde, vai atrair a vingança de toda a organização contra você. - disse-me, tentando manter-se calmo.
- E se você o matar no duelo, acha que a organização não vai se vingar de você? - confrontei-o.

- É claro que vai e eu não tenho medo da morte! Você sabe muito bem das minhas crenças e que eu seguirei para um mundo melhor, onde a mulher que amo me espera. Mas lhe garanto, Moriarty não sairá vivo daquele desfiladeiro. - respondeu-me.

- Por que ele escolheu este lugar, a beira de um precipício? - perguntei-lhe, mudando de assunto para não brigarmos.

- Deixei seu corpo se perder no lago congelado, não lhe permitindo um enterro digno, caso realmente ele tivesse morrido. Moriarty escolheu um lugar onde poderá vingar-se disso; ele pretende jogar meu corpo nas cataratas para que nunca seja encontrado. - explicou-me.

Eu queria contar ao meu amigo sobre o pavor que eu estava sentido, mas ele estava tão calmo e seguro que achei melhor não perturbá-lo com o meu medo.

Seguimos a viagem conversando sobre o passado e sobre a tal organização.

Em Paris, onde teríamos que embarcar em outro trem, Holmes insistiu para que eu voltasse, mas acabei convencendo-o a deixar-me acompanhá-lo até Berna, de onde eu retornaria.

Na estação, tentei segurar-lhe o braço como uma senhorita, só por brincadeira.

- Não se atreva, Senhora Watson. – disse-me bravo.

- Seja cavalheiro, Sherlock. – brinquei com ele, imitando Lana.

- Watson, estou falando sério, esta experiência me deixará traumas. – advertiu-me.

No outro trem, também nos sentarmos no fundo do vagão, quase que sozinhos.

Holmes encarou um sujeito muito suspeito que me observava desconfiado. O homem se intimidou e acabou indo sentar-se na frente do vagão. Meu amigo me contou que aquele sujeito era um capanga que Moriarty havia colocado para segui-lo.

Já se passava das vinte e três horas quando o trem chegou a Berna. Holmes seguiria para uma pousada em Rosenlaui, onde descansaria e se prepararia para o duelo no dia seguinte.

- Vá se trocar Watson. Após todos descerem, trate de voltar neste mesmo trem para Paris. Por favor, me prometa que voltará. – Holmes usou um tom de ordem comigo.

- Se para você, nós não somos mais um time, eu respeito sua decisão. – respondi a ele, magoado.

- Obrigado por tudo Watson, você foi um grande parceiro. – disse-me olhando com um sorriso triste.

- Está se despedindo, Holmes? – perguntei-lhe, sentindo meu coração se espremer.

- Confie em mim. – pediu-me.

- Tem um plano, então? – insisti.

- Tenho. – contou-me, levantando-se para sair.

Peguei minha mala e fui ao banheiro onde finalmente me livrei daquele vestido e daquela situação constrangedora.

Olhei pela janela do trem e vi Holmes esperando que o cocheiro carregasse suas malas. Na certa, demorou-se a fim de averiguar se havia algum perigo para mim naquela estação. Quando já havia pouquíssimas pessoas ali, entrou no coche e observou o capanga lhe seguir.

Desembarquei do trem e obviamente não voltaria nele. Entrei em um coche e segui para Meringer, onde me hospedaria longe da vista de Holmes e de Moriarty.

No caminho passei próximo ao desfiladeiro e pude contemplar as cataratas de Reinchenbach. Seria uma visão admirável se eu não soubesse o que estava marcado para ocorrer ali.

Na pousada, não consegui dormir por mais que estivesse cansado. Ainda estava disposto a seguir com meu plano, mesmo que depois tivesse que fugir com Mary.

O dia amanheceu e fui até o desfiladeiro para conhecer o território. Havia na montanha diversas depressões e várias rochas onde eu poderia me esconder. Retornei à pousada e passei o resto do dia andando pelo quarto. Por volta das vinte e duas horas, já me encontrava novamente no desfiladeiro.

Subi as montanhas tomando todo o cuidado possível, mas no meio do caminho encontrei dois homens mal-encarados.

- Onde pensa que vai doutor? – perguntou-me um deles, como se já me conhecesse.

Só podiam ser os capangas de Moriarty. Coloquei minha mão no bolso do meu casaco onde estava minha arma.

- Só vim garantir que será um duelo limpo, mas pelo jeito vocês vieram preparar uma armadilha. – enfrentei-os

- O professor nos mandou para garantir que só os dois, ele e o detetive, subirão até a beira do precipício, mais ninguém. Será uma luta justa e quem vencer vai poder descer sem problema. – disse-me o sujeito.

E essa agora!”, pensei.

- Pois bem, eu também vou permanecer aqui para garantir que seja um duelo justo e não pensem que estou sozinho! Bastará um tiro para que meus amigos policiais que estão a minha espera lá embaixo venham até aqui. Se tentarem qualquer trapaça, não sairão vivos. – menti a eles.

- Nós vamos apenas assistir; a ordem é para ninguém interferir. É um assunto só entre os dois. – respondeu o outro sujeito.

Subimos os três até certa altura da montanha e nos escondemos atrás das rochas para observar.

Espero que o plano de Holmes seja melhor que o meu. Na certa ele previu que Moriarty colocaria capangas aqui.”, refleti nervoso.

Faltando poucos minutos para a meia-noite, vimos duas figuras subindo a montanha pela trilha.

Moriarty vinha bem à frente, carregando uma comprida maleta, e Holmes calmamente o seguia mantendo uma boa distancia do professor.

Eu estava com a mão em minha arma dentro do bolso do meu casaco, mas não havia como matar Moriarty com os capangas ao meu lado. Eles certamente também estavam armados e matariam Holmes.

Moriarty e Holmes passaram por onde estávamos escondidos sem aparentemente nos notar, e seguiram para o pico do desfiladeiro.

Quando íamos segui-los, vimos que uma terceira pessoa também estava subindo pela montanha. Eu e os capangas apontamos nossas armas em direção ao vulto.

- Calma pessoal, o que está acontecendo aqui? - perguntou um jovem, que aparentava uns vinte anos de idade, levantando as mãos.

- Quem é você? - perguntou um dos capangas.

- Sou jornalista Senhor. Descobri que o famoso detetive Sherlock Holmes estava hospedado em uma pousada em Rosenlaui e tentei lhe entrevistar; como não permitiu, eu o segui. Só quero me aproximar dele. - explicou o jovem.

- Vá embora e esqueça que esteve aqui esta noite. Isso não é assunto para você! – disse-lhe bravo.

- Mas senhor, quem era o outro homem que estava com o Senhor Holmes e o que foram fazer lá em cima a esta hora? - insistiu ele.

- Moleque, vá embora antes que eu perca a paciência. - sussurrou um dos capangas, para não ser ouvido por Holmes e Moriarty.

Miramos nossas armas para o jovem, que não teve escolha a não ser voltar montanha abaixo. Subimos correndo para o pico do desfiladeiro, onde novamente nos escondemos atrás das rochas.

Holmes, que havia tirado o seu casaco e sua gravata, arregaçava as mangas de sua camisa. Moriarty fez o mesmo, indo em seguida abrir sua maleta de onde tirou dois floretes, jogando um a Holmes.

Os dois se aproximaram, cumprimentaram-se com os floretes e iniciaram o duelo.

Os bandidos haviam guardado suas armas e apenas observavam. Fui para uma rocha atrás da que eles estavam escondidos e os mantive em minha mira, com minha arma na mão abaixada. Eu estaria pronto caso tentassem alguma coisa contra Holmes, após ele derrotar Moriarty.

Moriarty era professor de esgrima e obviamente lutava muito bem, mas Holmes não lhe ficava atrás em habilidade e tinha a vantagem de ser mais ágil e forte.

Os floretes se batiam com ódio e Holmes parecia querer levar o professor para a beira do precipício. Se conseguisse desarmá-lo e entrar em luta corporal, seria muito fácil vencê-lo.

Moriarty quase acertou um golpe na altura da cintura de Holmes, que se esquivou com um gato. Meu coração parecia que ia explodir; queria fechar meus olhos e acordar daquele pesadelo, mas tinha que manter os capangas em minha mira.

Ele vai conseguir, ele sempre consegue”, mantive-me firme, enquanto os floretes se golpeavam com força.

Meu amigo e Moriarty pareciam não se importarem com a beira do precipício.
Holmes conseguiu fazer um corte profundo no braço direito do professor que gritou de dor; os olhos do meu amigo brilharam.

Os dois respiravam com dificuldade pelo cansaço. Holmes avançou para cima de Moriarty e os floretes pareciam que iam quebrar de tanta força.

Holmes conseguiu encurralar Moriarty a beira do precipício e quando parecia pronto para vencê-lo, se atirou para cima do professor fazendo com que os dois caíssem no abismo.

- Não! – sufoquei um grito, enquanto sentia meu coração parar.

O silêncio dos floretes e a beira do precipício, agora vazio, quase me fizeram desmaiar. Minha visão escureceu e quando voltei a mim, o silêncio e o vazio ainda estavam lá.

- Acabou! - disse um dos capangas.

Os dois olharam para mim como se o trabalho tivesse terminado e partiram. Neste momento, notei que jovem jornalista de antes também estava ali e tão assustado quanto eu; olhou-me como se não acreditasse no que tinha visto e saiu correndo.

- Holmes! - gritei, me ajoelhando na beira do precipício.

Não dava para ver nada lá embaixo; era um imenso buraco negro e meu cérebro se recusava a acreditar que meu amigo estava lá dentro, morto.

Desabei a chorar. Nossas vidas passaram pela minha mente, começando pelo momento em que o vi pela primeira vez tentando destruir seu violino. 

Sentando ali sozinho, parecia que uma parte de mim havia morrido. Se não fosse por Mary, acho que eu também cairia naquele precipício.

O dia amanheceu e eu ainda estava ali, olhando para baixo. A altura dava vertigem. Na luz do dia foi possível ver as águas batendo com força nas pedras. Ouvi vozes se aproximando e minha cabeça rodava, sentindo-me anestesiado de tanto chorar.

- Senhor, por favor, nos acompanhe. - me pediu um homem que parecia ser um policial.

Ao lado dele havia mais três homens e o jovem jornalista.

- Somos da policia e o senhor deve ser o Doutor Watson, não é? Já sabemos que Senhor Holmes lutou com alguém aqui esta noite e que ambos caíram no abismo. Quem era o outro homem? – prosseguiu o policial que me abordava.

- Professor Moriarty. - respondi com ódio.

O jornalista novamente saiu correndo.

Desci amparado pelos policiais e era visível minha debilidade. Levaram-me para a pousada e permitiram que eu dormisse um pouco antes de ser interrogado.

Eu realmente adormeci pesado por horas e acordei implorando para que me dissessem que Holmes estava vivo.

- Sentimos muito Doutor! Fomos de barco até o local para tentar recuperar os corpos, mas só encontramos muito sangue nas pedras e as águas ali são muito perigosas, não é possível mergulhar. – informou-me um policial.

No meu interrogatório, contei aos policiais que o respeitável professor Moriarty se tratava na verdade de um psicopata assassino e que o mesmo era o líder do crime organizado em Londres.

Não quis entrar nos detalhes da história entre Holmes e ele no passado, apenas revelando que, já algum tempo, meu amigo investigava o criminoso e que ambos se desafiaram a um duelo.

A perda de Holmes me fazia sentir um vazio tão grande como se eu não tivesse mais razão para viver; eu precisava de Mary mais do que nunca.

- Preciso voltar a Londres para falar com a minha esposa e com o irmão de Holmes. - pedi com a voz fraca.

Um policial me acompanhou na viagem de volta. Sentei-me quase deitado no banco do trem, com o olhar perdido e calado o tempo todo, sem conseguir comer ou beber.

Ele está morto! Meu irmão está morto!”, pensava enquanto a imagem do meu amigo se atirando sobre Moriarty se repetia em minha mente.

Por que fez isso, Holmes?”; suspirei em voz  baixa.

Cheguei à noite em Londres e fui para casa. Quando Mary me viu pálido e com olhos inchados, me olhou assustada com a mão sobre os lábios, como se pressentisse o motivo.

- Ele morreu Mary! Holmes está morto. – contei-lhe.

Mary correu para os meus braços chorando. Permanecemos algum tempo nos abraçando e o contato com ela me fez recuperar um pouco de minhas forças.

- Preciso avisar Mycroft. - disse-lhe, sem querer soltá-la dos meus braços.

- Eu vou com você. - disse-me carinhosamente.

O policial que me acompanhou na viagem nos pediu licença para ir à sede da Scontland Yard informar aos colegas o ocorrido.

Eu e Mary seguimos em um coche para o apartamento de Mycroft. Já era madrugada, mas observamos que havia claridade em sua janela. Acordamos e pedimos ao senhorio que nos anunciasse.

Mycroft nos recebeu já com o olhar triste. Holmes sempre me dizia que seu irmão era mais inteligente que ele próprio, e a minha visita naquela hora da noite, com certeza havia lhe despertado a desconfiança de se tratar de algo muito grave.

- O que aconteceu Doutor? - perguntou-me apreensivo.

- Sente-se Mycroft. - pedi-lhe enquanto entrava em sua sala.

Eu e Mary nos sentamos à sua frente

- Holmes... – respirei fundo, mas não consegui pronunciar a palavra “morreu” para o irmão do meu melhor amigo.

Olhei para baixo e as lágrimas voltaram a cair.

Mycroft abaixou a cabeça triste, com os dedos das mãos se entrelaçando. Percebi que ele havia entendido.

- Ele duelou com Moriarty em um precipício e os dois caíram. – não quis lhe contar que Holmes havia se jogado por cima do professor.

Mycroft parecia não conseguir me encarar.

- Doutor, por favor, eu preciso ficar sozinho. Peço-lhe desculpas pela indelicadeza. - pediu-me.

- Eu entendo. – respondi levantando-me.

Eu e Mary saímos deixando-o de cabeça baixa. Eu conhecia bem o imenso vazio que ele estava sentido e a vontade incontrolável de chorar.

Voltamos para o coche e disse a Mary que precisa ir a Baker Street.

Ao descer em frente ao apartamento, os garotos correram ao meu encontro com os olhos molhados.

- Doutor, um dos nossos ouviu na policia que o chefe... - perguntou-me Wiggins assustado ao ver meu estado.

Eu confirmei com a cabeça e os garotos entraram em estado de choque.

Abri a porta do apartamento e olhei para a sala com uma saudade imensa. Sentei-me no sofá e olhei para a escrivaninha como se ele estivesse ali.

Lestrade e Gregson entraram alvoroçados sem nenhuma cerimônia.

- Doutor, não é verdade, não pode ser! - disse Lestrade me olhando assustado.

Eu e Mary apenas os olhamos com muita tristeza. Os dois caíram sentados no sofá a nossa frente; Gregson olhando para o chão tentando esconder os olhos marejados, e Lestrade apoiou sua cabeça no sofá olhando para o teto.

- O que está acontecendo aqui? - chegou a Senhora Hudson, estranhando o barulho que os policiais fizeram àquela hora da noite.

- Holmes está morto. - informou-lhe Gregson.

A senhora arregalou os olhos e quase caiu para trás com as mãos no peito; Gregson a ajudou a sentar-se ao meu lado.

O dia foi amanhecendo e a noticia se espalhou pela cidade. A sala ficou repleta de policiais que foram chegando como se quisessem velar meu amigo.

Peguei a mão de Mary e a fiz me acompanhar até a rua. Eu precisava voltar para minha casa onde poderia ficar sozinho.

Um amigo médico parou-me na porta perguntando-me se precisava de alguma coisa. Também me contou que tinha acabado de sair do seu plantão da noite e viu a nossa criada, a Senhora Evelyn, dar entrada no hospital. Ela estava sendo atendida por outros médicos após desmaiar quando soube da noticia.

Agradeci e pedi-lhe que me informasse caso eu pudesse ajudar a Senhora Evelyn em alguma coisa.

Uma carruagem parou à nossa frente e Lana desceu chorando.

- Doutor, diga que não é verdade! – abraçou-me aos prantos.

- Sinto muito, querida. – foi só o que consegui lhe dizer.

Olhei para a rua e muita gente estava se aglomerando ali. Pessoas me olhavam chorando, outras olhavam para janela do apartamento e outras para o chão. Os garotos sentados na rua tinham os olhos avermelhados de choro.

Em outra carruagem do outro lado da rua, vi em sua janela o rosto molhado de lágrimas da Senhora Lacey.

O meu amigo médico precisou socorrer Lana que desmaiou em meus braços.

Eu também não estava me sentido bem porque, além da tristeza, eu não havia comido nada no dia anterior. Mary conseguiu me tirar dali e me levar para casa, onde passei cinco dias trancado sem querer falar com ninguém.

A dor não havia diminuído em nada e eu não conseguia aceitar a ideia de que nunca mais veria Holmes. Mary foi muito carinhosa e paciente comigo; ela era a minha força para continuar vivendo.

Minha esposa também precisou brigar com os insistentes editores de jornais para que me deixassem em paz. Eles queriam a todo custo comprar-me a matéria sobre a morte de Holmes. Uma parte de mim havia morrido e eles tinham o desrespeito de acharem que eu lhes venderia a minha dor.

Um desses editores mandou-me entregar um jornal da Suíça, onde o jovem jornalista daquela noite havia escrito o que ele achava que sabia da história:

Quando soube que o famoso detetive Sherlock Holmes estava hospedado em uma pousada na nossa pequena Rosenlaui, acreditei que seria a entrevista da minha vida. Encontrei-o sentando no restaurante lendo seu jornal e me apresentei, pedindo-lhe uma entrevista. Ele grosseiramente mandou-me deixá-lo em paz, sem tirar os olhos do seu jornal.
Sentei-me em uma mesa próxima a dele e fiquei o observando. Um senhor bem mais velho entrou no restaurante e notei que ele e o Senhor Holmes se encararam de uma forma que até eu senti medo; havia muito ódio entre eles.
Senhor Holmes subiu para o quarto e não o vi mais durante o dia. No entanto, não desisti e seria persistente para merecer uma entrevista.
Estava ainda na porta da pousada e já era tarde da noite, quando vi o senhor mais velho passar. Não demorou nada e o grande detetive também passou, estranhamente caminhando atrás do senhor mais velho, mas sem trocarem uma palavra.
Eu os segui até o desfiladeiro, onde outros três homens me apontaram suas armas e me mandaram voltar. Quando os vi também subindo a montanha, não tive dúvidas de que ali eu encontraria uma boa matéria, então voltei a segui-los até o pico do penhasco, onde me escondi atrás de uma rocha.
Graças a minha audácia, pude assistir a uma magnifica luta de floretes a beira do precipício, a qual vocês nem sequer conseguiriam imaginar. Era simplesmente inacreditável a habilidade e a coragem daqueles dois homens.
Eu estava torcendo pelo Senhor Holmes, de quem confesso, sempre fui um grande admirador, e ele estava vencendo quando, absurdamente, se atirou sobre o seu rival, levando ambos para o fundo do abismo.
Pela manhã, descobri que o senhor mais velho era ninguém menos que o famoso professor e escritor Moriarty, de Londres.
O mistério agora é descobrir os motivos que fizeram dois homens admiráveis e duas das mentes mais brilhantes do nosso século duelarem a beira de um abismo até o fim trágico.
Dias já se passaram e aguardamos ansiosos que o Doutor Watson, fiel amigo do grande detetive e que também estava presente no duelo, nos revele a última aventura de Sherlock Holmes.”

- Esta aventura não será escrita. – disse, terminando a leitura.
Em outros jornais, diversas pessoas derem seus depoimentos sobre Holmes. O senhor Dustin declarou que, se não fosse à genialidade de meu amigo, ele e muitos outros homens idôneos estariam presos por crimes que não cometeram. Outros contaram como Holmes desvendou os mistérios que os envolviam.

Por dias, não se falou em outra coisa, até que aos poucos, o assunto foi sendo esquecido.

Capitulo 11- O Retorno


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