Filme: Young Sherlock Holmes
Ano: 1985
Roteiro: Chris Columbus e Arthur Conan Doyle (personagens)
Direção: Barry Levinson
Produção: Steven Spielberg, Marck Johnson e Henry Winkler


domingo, 7 de abril de 2013

Capítulo 4 - O fantasma


Senhora Evelyn entrou na sala, nos interrompendo novamente.

- Senhor Holmes, os pestinhas estão na porta. - informou a criada.

- Obrigado. - disse meu amigo, levantando-se para atendê-los.

- Chefe, encontramos um branquelo que pode ser o fantasma que o senhor procura. - contou o líder dos três garotos que entraram.

- Bom trabalho Wiggins! Sabe alguma coisa sobre ele? - perguntou Holmes, feliz com a notícia.

- É um trambiqueiro que circula pelo Park Hyde vendendo relógios falsos. Ele se veste como se fosse rico, mas o seguimos e descobrimos que mora mesmo em uma casa velha em um bairro pobre.

- Vocês são geniais! - elogiou Holmes – Pode me levar até esta casa?

- Sim senhor! - bateu continência o garoto.

Holmes foi até a escrivaninha e pegou de uma gaveta um maço de libras, entregando-o ao garoto.

- A recompensa de vocês. Por favor Wiggins, me chame uma carruagem. - pediu Holmes.

- É pra já, chefe. - saiu o garoto feliz.

- Holmes, já é noite e é muito perigoso. - protestei.

- Não se preocupe, apenas quero ver o fantasma. – disse-me.

- Vou com você! - falei decidido.

- Não vai, não! O tal fantasma tentou lhe matar e você ficará longe dele até o prendermos. - ordenou-me.

- Eu sei me cuidar, Senhor Sherlock Holmes. Não precisa se preocupar com a minha vida. - respondi-lhe bravo.

- Não estou preocupado com a “sua vida”, Doutor James Watson, estou preocupado com a “minha vida”. Mary vai me matar se eu o levar comigo! – justificou-se.

- Meu nome é John e ela não saberá se você não contar. Somos um time, Holmes, não é isso que você sempre diz? - confrontei-o.

- Nós sempre seremos um time, Watson, mas não vou levá-lo de bandeja para um assassino que quer matá-lo. Decididamente, você não vai. - respondendo-me ríspido.

Holmes saiu batendo a porta. Olhei pela janela e o vi entrando em um carruagem com o líder dos garotos.

Desci correndo para a rua, onde tive a sorte de encontrar outro coche passando. Pedi urgência ao cocheiro e, em alguns minutos, encontramos e seguimos a carruagem onde estava Holmes.

Eu o segui pelas ruas estreitas de um bairro muito pobre até que parou em uma esquina. Holmes desceu da carruagem e me pareceu ter dado ordem para que o cocheiro retornasse com o garoto para a Baker Street.

Enquanto a carruagem se afastava, desci e pedi ao cocheiro que me esperasse.

Holmes foi andando pela rua deserta. Parei na esquina e fiquei atrás de um muro o observando; ele se virou para trás e eu rapidamente me escondi. Quando voltei vagarosamente a espiar, ele havia desaparecido. Sai andando pela rua desesperado.

- Não disse para ficar em casa, Watson? - surgiu Holmes, de um vão escuro de uma casa abandonada, me assustando.

- Por Deus, Holmes, quer me matar de susto? - reclamei sem fôlego.

- Não preciso me dar ao trabalho, você se mata sozinho! - respondeu ele, visivelmente bravo.

- Não sou um dos seus garotos, não vou obedecer ás suas ordens...

Holmes me puxou para o vão escuro e me fez sinal de silêncio, quando ouvimos passos rápidos de um homem vindo em nossa direção. 

O homem atravessou a rua e abriu o portão da casa do outro lado, entrando e o deixando destrancado. Após subir correndo por uma pequena escada de cimento, bateu forte na porta da casa; não demorou e a porta se abriu. 

Mesmo sendo uma noite muita escura e estando muito longe, pude ver a estranha figura que surgiu na porta para receber o velho. Realmente era muito branco, contrastando com o terno escuro que usava.

Holmes, que observava os homens com o olhar fixo, saiu do meu lado e correu para a casa, assim que os nossos suspeitos entraram.

Na lateral da casa havia uma grande janela, pela qual meu amigo espiou o interior. Com a certeza de que não havia ninguém no cômodo, Holmes retirou um canivete de seu casaco e com muita habilidade abriu a janela. 

Isso me fez lembrar Lestrade dizendo que todos os dias agradecia a Deus por Holmes usar seus talentos para o bem, porque se os usasse para o crime, a Scontland Yard estaria perdida.

A sala quase vazia tinha poucos móveis rústicos, iluminados por um candelabro. Entramos com cuidado, procurando o estranho morador. Quanto mais avançávamos, mais sombria a casa se tornava.

Passamos por uma sala de jantar de móveis antigos e finalmente ouvimos vozes. O som nos levou até uma cozinha praticamente vazia, onde encontramos um corredor e, no final deste, uma porta semiaberta.

Para o meu desespero, Holmes conseguiu passar pelo vão da porta sem fazer o menor ruído, descendo por uma escada de cimento, vagarosamente no breu.

Espiei pela fresta e lá embaixo parecia um cômodo ainda em construção, com madeiras, caixas e materiais espalhados pelo chão de terra. Uma luz indicava que havia ali um corredor para a sala de onde vinham as vozes.

- Melhor me soltar, branquelo. Você não sabe com quem está se metendo. Já matei muitos babacas como você. - disse uma voz com sotaque estrangeiro.

- Cala a boca, verme! Era tão fácil e você falhou! - respondeu outra voz arrogante que me pareceu familiar.

- Ele teria morrido se não fosse aquele policial. Agora me deixe sair daqui e eu vou terminar o serviço. - retrucou a voz estrangeira.

O sotaque estrangeiro me fez pensar que o homem pudesse ser o indiano.

- O professor já decidiu o que devemos fazer com ele? - perguntou a voz arrogante.

- Ele lhe mandou esta mensagem com orientações. - disse uma terceira voz que parecia ser a de um velho.

Eram três pessoas na sala secreta, o velho que vimos na rua, um estrangeiro e o tal branquelo.

Senti pavor quando vi na penumbra, Holmes entrando pelo corredor em direção à sala onde ocorria a conversa. Queria poder brigar com ele por sua mania de se achar invisível.

- Então, o que o professor escreveu na mensagem? - perguntou a voz mais velha.

- Está me ordenando a executar a missão pessoalmente; eu terei que matar o doutorzinho. Por que matar aquele inútil? Por que não matamos Holmes? - esbravejou a voz arrogante.

- Não se atreva! Estamos proibidos de tentar qualquer coisa contra o detetive. Ele pertence ao professor, e só o professor pode decidir sobre a vida dele. Quem não obedecer a isso, estará morto. Acredite, obedeça as ordens se quiser preservar a sua vida. Além do mais, como quer matar o detetive se não conseguiu nem matar a sombra dele, aquele médico patético? - retrucou a voz mais velha.

- Foi esse incompetente que fugiu antes de ter certeza de que o médico estava morto. - berrou a voz arrogante.

- Vou lhe mostrar quem é incompetente; me solte daqui. - esbravejou o estrangeiro.

- E o que o professor nos mandou fazer com esse cretino? - indagou a voz mais velha.

- Não, não, não... - berrou a voz estrangeira.

O estrondo de um tiro silenciou os gritos e meu coração disparou.

Eu ainda estava com a cara na fresta da porta e não via mais Holmes. Resolvi tentar entrar e fiz a porta ranger.

- Tem alguém lá em cima! - gritou a voz arrogante.

Voltei correndo para a sala, pensando em Holmes e na besteira que tinha acabado de fazer.

Não tive coragem de fugir pela janela; não sem meu amigo. Subi pela escada de madeira que levava ao segundo andar, aonde a pouca claridade vinha de um candelabro na mesa do corredor.

Entrei no primeiro quarto com a arma engatilhada na mão. Estava com medo, mas precisa saber de Holmes.

Ouvi passos na sala, onde a porta estava trancada e a janela arrombada. Torci para que os bandidos saíssem para me procurar na rua, assim eu poderia ajudar meu amigo a sair daquele porão.

- Eu sei que você ainda está aqui e eu vou encontrá-lo! - gritou a voz arrogante.

Entrei embaixo da cama; se ele ainda estava procurando alguém é porque não havia encontrado Holmes também.

Eu mal conseguia respirar por causa do meu coração acelerado e o silêncio em que ficou a casa era aterrorizante.

Ouvi passos subindo pela escada.

- Eu sei que você está aqui; se tivesse saído pela janela, eu o teria matado com um tiro antes que chegasse ao portão. Você é da organização? Para saber desta casa, só pode ser. Apareça e vamos conversar; é só me explicar o que está fazendo aqui e tudo ficará bem. - disse a voz arrogante, agora mais calmo.

Pude ver seus passos passando por debaixo da porta do quarto seguindo pelo corredor.

Onde estaria meu melhor amigo? Estaria ainda no porão? Precisava fazer algo, precisa salvar Holmes.

Estava disposto a sair do meu esconderijo e matar o dono da voz prepotente quando os seus passos voltaram e a porta do quarto se abriu.

- Vamos, você só precisa me explicar porque entrou aqui! Quem lhe mandou? O professor?- disse a voz que me causava repulsa.

Apontei minha arma no que ele parecia que ia se abaixar, mas o som de tiros no porão me fez quase desmaiar. Foram pelo menos sete tiros disparados. 

O bandido saiu correndo para lá.

- Holmes! - gritei saindo debaixo da cama.

Se Holmes estivesse morto, eu não ia querer sair vivo dali. Não me importei com o barulho e sai correndo do quarto.

Ao passar pela porta, um tiro acertou a parede, bem próximo a mim. Meu inimigo ouviu o meu grito e retornou.

Joguei-me no chão e consegui entrar no quarto da frente quando outro tiro acertou o candelabro e o corredor ficou imerso na escuridão.

Em pé e usando a porta para me proteger, atirei sem conseguir fazer mira. Alguma coisa se mexeu dentro do quarto escuro, o que me causou um tremendo susto e me fez atirar dentro do quarto também. No silêncio que se fez, ouvi um sibilo de cobra.

Coloquei minha cabeça com cuidado para fora da porta e não vi meu inimigo. Fui saindo devagar, com a arma apontada para a escada; é claro que o bandido estava ali, me esperando. 

Quando estava bem próximo a escada, com as costas na parede, fui me agachando até ficar de joelhos. Quanto mais próximo ao chão, maior minha chance de escapar dos tiros.

O homem surgiu muito rápido e atirou na parede um pouco acima da minha cabeça; também atirei nele, mas não o acertei. Rapidamente levantei-me e ficamos muito próximos um do outro apontando nossas armas na penumbra. A criatura muito branca parecia sobrenatural.

- Abaixe a arma, Dudley.

A voz de Holmes me tirou do inferno; senti uma felicidade indescritível ao ver seu vulto surgir por trás do bandido.

- Holmes! – disse o homem assombrado e com raiva.

Meu amigo passou tranquilamente por ele e se colocou na minha frente, ficando com seu peito na mira do fantasma.

- Lembre-se Dudley, a minha vida pertence ao professor, e só ele tem poder de decidir sobre ela. Se quiser preservar a sua vida, cumpra as ordens dele. - disse meu amigo, apontando sua arma para a cabeça do bandido, que recuou.

Também mantive minha arma apontada para a cabeça do fantasma, ao lado de meu amigo.

Holmes foi andando, o que obrigou o fantasma a ir se afastando. Dudley desceu a escada de costas, usando uma das mãos para se apoiar no corrimão, enquanto que, com a outra, apontava seu revolver para meu amigo. Na sala, permaneci bem ao lado de Holmes, e as armas ainda apontadas para o fantasma.

- Lembra-se de mim, Holmes? Lembra-se do que fez comigo? - os olhos de Dudley brilharam de ódio.

Na luz da sala pude vê-lo perfeitamente; cabelo um pouco comprido, liso, rígido e muito branco. As sobrancelhas grossas também tinham o branco dos cabelos, o que lhe dava uma aparência muito estranha.

Por alguns instantes, viajei no tempo e me recordei da nossa adolescência no colégio Brompton, onde Dudley simplesmente morria de inveja da inteligência de Holmes. Até tentou em vão conquistar Elizabeth, mas ela era perdidamente apaixonada pelo meu amigo. 

Lembrei-me da raiva que senti quando Holmes foi expulso por causa de uma trapaça armada por Dudley, e de como meu amigo se vingou dele, colocando em seu chá, um preparo que havia inventado no laboratório de química.

Os cabelos de Dudley perderam toda a coloração e enrijeceram; o jovem ficou com a aparência de um velho esquisito e se transformou na piada do colégio. Não suportando a humilhação e as brincadeiras constrangedoras que lhe eram feitas, Dudley desapareceu antes de se formar e nunca mais ouvimos falar dele.


- Olhe o que você fez comigo, Holmes! Você disse na época que logo passaria e até hoje, mesmo tentando de tudo, nada me fez recuperar minha aparência. – as mãos de Dudley tremiam.

- Eu confesso Dudley, que não sabia exatamente o que estava fazendo quando inventei a fórmula especialmente para você. - riu Holmes.

- Você acabou com a minha vida! – gritou Dudley.

- Mas você entrou para a organização! Meus parabéns! Você que era apenas um imbecil, agora é um imbecil assassino e covarde. Por favor, me diga por que a organização quer matar Watson se eu sou o maior inimigo? Afinal, fui quem desvendou vários dos crimes e sou quem vai acabar descobrindo quem é o líder. - prosseguiu meu amigo.

- Não se preocupe Holmes, você também irá morrer. Tenho certeza de que lhe reservam o fim que você merece! Mas primeiro vamos eliminar a sua sombra, este pateta que lhe segue desde o colégio, só por diversão. - respondeu Dudley apontando a arma para mim.

Holmes caminhou até Dudley, encostando sua arma praticamente na cabeça dele. Vi medo nos olhos do fantasma que também levantou sua arma para a cabeça de Holmes.

- Não vou lhe matar agora porque não sou covarde como você, mas lhe prometo, se tentar algo contra Watson, nem através desse seu cabelo ridículo será possível reconhecer o seu corpo depois que eu lhe matar. Desapareça, fuja da organização ou terá o mesmo fim daquele indiano que você matou lá embaixo, ou do velho que eu matei. – ameaçou meu amigo.

Holmes guardou seu revolver no casaco na frente de Dudley e, muito mais forte e alto, arrancou-lhe a arma da mão.

- Não me obrigue a matá-lo. - disse Holmes dando-lhe as costas.

Dudley ficou inerte, parado com uma estátua, com os olhos brilhando de ódio.

Holmes passou por mim, me entregando a arma que havia tirado dele e foi até a porta, abrindo-a.

- Vamos Watson! - disse-me esperando que eu saísse primeiro.

Guardei a arma de Dudley em meu casaco e sai com a minha arma apontada para ele. Mesmo na rua, fui andando de costas com a arma na mão, olhando para a casa, enquanto Holmes caminhou rápido e bravo, sem olhar para trás.

O cocheiro, embora amedrontado, ainda estava me esperando. Escondi minha arma em meu bolso para não assustá-lo ainda mais.

- Ouviram os tiros Senhores? Este lugar é muito perigoso. – disse encolhendo-se no casaco.

- Nós ouvimos, por isso queremos voltar depressa para a Baker Street. - respondi, entrando no coche.

Na viagem, minha cabeça parecia querer explodir. Agora que um pouco da tensão havia passado, as palavras que ouvi naquela casa reviravam em minha mente; doutorzinho, inútil, patético; era isso que pensavam de mim, uma mera sombra de Sherlock Holmes.

Sempre fui um excelente médico e enfrentei com coragem diversos perigos para ajudar Holmes a resolver vários crimes; mas aos olhos dos outros, ele era o herói e eu apenas a sombra que lhe seguia.

Holmes era mais que um amigo para mim, era um irmão, a quem eu admirava profundamente. Mas o sentimento de privilegio que tinha por conviver com alguém tão especial como ele havia se transformado em humilhação; eu fora reduzido a nada.

Pensei que ele fosse brigar comigo, afinal o atrapalhado Watson havia estragado tudo fazendo a porta ranger. Coloquei a vida dele em risco quando fui imprudente em segui-lo. Mas ali estava ele, ao meu lado, em silêncio com o olhar perdido.

Eu o conhecia tão bem que sabia exatamente o que ele estava fazendo; estava relembrando tudo o que havia acabado de acontecer, segundo a segundo, cada palavra dita, cada detalhe que ele conseguiu observar naquela casa e nas pessoas que lá estavam. 

Capitulo 5 - A armadilha

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