Na manhã do dia
seguinte, recebi um bilhete do Senhor Donat informando a mim e a
Holmes que os caçadores haviam organizado uma expedição e já
estavam a caminho da floresta. Eu sabia que seria inútil e
arriscado, mas não havia nada que eu pudesse fazer.
Convidei Ivy para um
passeio; precisava verificar como estava Mycroft.
Encontrei Holmes no apartamento de seu irmão, junto com o enfermeiro que havia contratado.
Encontrei Holmes no apartamento de seu irmão, junto com o enfermeiro que havia contratado.
Embora fosse visível sua
dificuldade em falar, Mycroft está bem melhor. Examinei lhe os
ferimentos e pareciam estar começando a cicatrizar.
Aproveitei a
oportunidade para lhe apresentar a menina.
- Mycroft, está é Ivy. Ela foi testemunha de um crime, por isso está temporariamente
morando comigo e com Holmes, sob nossa proteção.
- Sob a “sua”
proteção, Watson! Eu só estou aturando esta “filhote de aye aye”
porque pretendo, na hora certa, usá-la como isca. – confessou
Holmes.
- Vai sonhando que vou
permitir uma coisa dessas. – retruquei.
Eu detestava quando meu amigo chamava a criança de filhote de aye aye. Ivy pediu para que a senhora Hudson lhe mostrasse a gravura do bicho em um livro e não gostou nada do que viu e nem de ser comparada a ele.
Eu detestava quando meu amigo chamava a criança de filhote de aye aye. Ivy pediu para que a senhora Hudson lhe mostrasse a gravura do bicho em um livro e não gostou nada do que viu e nem de ser comparada a ele.
Holmes e a criança
se encararam como estivessem se desafiando e a menina
resolveu enfrentá-lo.
- Eu não tenho medo de
você! Porque não põe uma vela nesse seu nariz enorme e vai para a rua brincar de
poste?
- Mas que abusada; com certeza é falta de doces! Que tal eu fazer você comer uma porção
deles de novo? – ameaçou ele.
Ivy me olhou
assustada. O mal estar que sofreu pelos doces precisou de um dia todo
para passar.
- Ele só está
brincando, querida. – menti para a menina.
- Sherlock convivendo
com uma criança! Pensei que nunca ia ver isto em minha vida. – Mycroft riu com dor.
- Por que não nos
contou que seu clube estava tão animado, Mycroft? Se eu e o Watson
soubéssemos, não teríamos ido só no fim da festa. – Holmes
quis mudar de assunto.
- Mas vocês dois
aproveitaram bem o final da festa. Até incendiaram tudo! – brincou o
irmão.
- Passei à noite
analisando as provas. Encontrei pedaços minúsculos de couro cinza
muito grosso entre os dentes do lobo morto. No vidro, achei
partículas microscópicas do mesmo material, mas com pelos. Fiz
vários testes com a jaula; as grades foram rompidas usando uma
força descomunal. É incrível! – relatou meu amigo.
- Recebi um recado do
Senhor Donat. Montaram uma expedição de caçadores e foram para a
floresta tentar caçar a criatura. - informei.
- Será inútil! Já
sabemos que balas de revolver não a matam. É preciso conhecer o que
se está enfrentando para saber como enfrentar. Mandei um telegrama a
um velho professor que tive, descrevendo a criatura e pedindo sua
opinião; ele é paleontólogo. – contou-nos Holmes.
- E quanto ao caso dos
"sem cabeças"? – perguntei a ele.
- Estou indo agora a
fabrica de carruagens. Ontem, na reunião, os sócios comentaram que
precisariam comprar uma nova. Preciso ficar atento a esta compra e vou convencer o proprietário a me informar a respeito. –
disse se levantando.
Com uma carruagem a disposição, havia a possibilidade do assassino
voltar a matar. Se usasse um cavalo, seria impossível transportar os
corpos decapitados sem deixar um rastro imenso de sangue.
- Vou acompanhá-lo, Holmes.
Mycroft, estou aliviado em vê-lo melhor. – despedi-me do irmão.
- Obrigado Doutor e não
deixe Sherlock sozinho com esta menina. – recomendou-me.
Nem precisava me
aconselhar; eu já sabia o quanto era perigoso.
No coche, indo para a
fábrica de carruagens, era perceptível a ansiedade da menina em
fugir, mesmo tentando disfarçar sob o olhar atento e
desconfiado de Holmes. Até eu não tinha mais como negar.
Ao entrarmos na
fábrica, fomos surpreendidos pela presença do Senhor Roy sendo
atendido pelo vendedor.
Assustei-me e puxei a
menina para perto de mim. Se ele fosse o assassino, iria reconhecê-la
e saberia que ela estava escondida conosco.
Percebi que a menina
também se assustou com a presença dele.
- Acalma-se Watson.
Aquela noite na praça, ela estava vestida como um menino e embaixo
de uma tonelada de sujeira. – repreendeu-me meu amigo, que percebeu
meu receio.
- Senhor Holmes e
Doutor Watson, que prazer em revê-los. Também vieram comprar uma
carruagem? – aproximou-se Senhor Roy.
- É um prazer
reencontrá-lo, Senhor Roy. Minha carruagem infelizmente sofreu um
acidente e foi perda total. Viemos encomendar outra. – disfarçou Holmes.
- Acidente de
carruagem? É uma coisa que não se vê todos os dias. – admirou o
Senhor.
- Vai ver que foi por
isso que até saiu nos jornais. Foi uma colisão com um coche de
aluguel durante a madrugada. – comentou meu amigo.
- Ah sim! Lembro-me de
ter lido. O repórter até escreveu que uma das rodas da
carruagem foi encontrada do outro lado da cidade. Os senhores
deveriam estar com muita pressa naquela noite. – riu o suspeito.
"Leu no jornal, ou sabe da colisão porque era o criminoso que perseguimos?" - pensei desconfiado.
"Leu no jornal, ou sabe da colisão porque era o criminoso que perseguimos?" - pensei desconfiado.
- E o senhor? Desistiu
da carruagem que está apreendida na policia? – perguntou-lhe
Holmes.
- Sim. Estive de manhã
na sede e não houve meio de me liberarem a carruagem. Vamos ter que
comprar outra. Logo nos chegará um novo carregamento de pedras e não
podemos ficar por aí, as exibindo em coches de aluguel. – contou-nos.
- Entendo. Suponho que
irão contratar um novo cocheiro também. – quis saber meu amigo.
- Sim, que remédio.
Não é adequado que homens da nossa classe social dirijam
carruagens. Quem é esta menina? – perguntou-nos.
- É minha sobrinha. –
menti rapidamente.
- Eu li sobre caso da
fera que atacou em um clube esta noite. Estava escrito nos jornais que senhores estavam lá. Sem
querer ser inconveniente, mas posso perguntar o que aconteceu? –
disse curioso Senhor Roy.
- Saímos de sua casa e
resolvemos passar pelo clube que costumamos frequentar. Quando
chegamos lá, a confusão já estava armada e o bicho foi afugentado
pelo incêndio. – respondeu Holmes, sendo evasivo.
- Pobre Senhor Bell! Dizem que teve uma morte horrível quando foi atacado pela fera. – lamentou o Senhor.
A menina continuava a
olhar assustada para o suspeito e ele percebeu.
- Algum problema
Senhorita? – estranhou.
A menina apenas abaixou
a cabeça.
- Sinto muito, Senhor
Roy. Ela não está acostumada com estranhos. – menti novamente.
- Mas me parece ser uma
menina muito esperta. – sorriu o homem.
- Bondade sua! É completamente avoada; puxou o
tio. – disfarçou meu amigo.
Não gostei da
brincadeira que Holmes fez comigo, mas já que a intenção era de
proteger a criança, apenas sorri sem graça.
O vendedor se aproximou
nos cumprimentando.
- Senhor Holmes, que
bom vê-lo novamente. Posso lhe servir em alguma coisa?
- Sim, preciso de uma
nova carruagem.
- Pois não, me
acompanhe para que eu lhe mostre algumas. – ofereceu o rapaz.
Não era a intenção
de meu amigo comprar outra carruagem, mas diante da mentira que
inventamos, lá se foi ele fazer a compra, saindo em companhia do
vendedor.
- Não descobriram mais
nada em relação aos crimes praticados pelo nosso ex-cocheiro,
Doutor? Ele não explicou porque matou o Senhor Heston? – perguntou
o Senhor Roy.
- Só o que sei é que
a policia tem certeza da culpa dele. – tentei não entrar no
assunto.
- Mas e o Senhor
Holmes, também tem esta certeza? – perguntou-me descaradamente.
- Holmes já ganhou
muito dinheiro como detetive, mais do que ele conseguiria gastar.
Hoje ele não se preocupa tanto com os casos como antigamente. Já
está se aposentando. – menti novamente.
Embora fosse verdade
que meu amigo havia ganho muito dinheiro, ele jamais se
aposentadoria, até porque nunca trabalhou pelo dinheiro.
Desvendar mistérios era tudo para ele, era a vida dele, já que sua
inteligência brilhante necessitava estar em constante desafio.
- Uma pena! Londres é
uma cidade calma de crimes difíceis. Se não fosse por seu amigo, a
maioria deles jamais teria sido solucionado. – elogiou o Senhor.
- Pelo jeito, o senhor
deve ser um leitor de minhas matérias. – especulei.
- Mesmo que não fosse. Tudo o que é publicado sobre o Senhor Holmes se torna o assunto
preferido em todas as reuniões da cidade. – confessou.
Ou o Senhor Roy era um
grande admirador de Holmes, ou ele estava tentando obter de mim as
informações que precisava para acalmar seus receios.
Eu precisava ser mais
esperto que ele e fazê-lo confessar algo que o incriminasse.
Embora a menina me
parecesse um pouco assustada diante dele, ele parecia não tê-la
reconhecido.
- Soube pelo Senhor
Heston que o senhor é um grande amigo dele. De certo também
conhecia o pai, que foi assassinado e decapitado. – disse-lhe com a
maior naturalidade possível, para não levantar suspeitas.
- Há muito anos! Era
um homem exemplar. É incompreensível o que fizeram com ele. –
mostrou-se indignado.
Nestes momentos, eu
gostaria de ter a técnica de meu amigo para descobrir quando uma
pessoa está mentindo.
- Doutor, já está na
hora do almoço. Que tal almoçarmos juntos em um restaurante aqui
perto? Podemos continuar nossa conversa. – convidou-me.
Hesitei por alguns
segundos, mas era uma ótima oportunidade para investigá-lo. Mesmo
que ele estivesse fingindo que não reconheceu Ivy, o fato é que
ele já tinha visto a menina e que eu teria que redobrar meus cuidados em
protegê-la.
- Será um prazer
almoçarmos juntos. – respondi-lhe.
- Excelente, espero que
o Senhor Holmes também aceite. Como já havia lhes dito na reunião
em minha casa, há muito tempo queria conhecê-lo, inclusive lhe
mandando diversos convites para recepções. – lembrou-me.
Suspeitei que, como ele
não havia conseguido tirar informações de mim, tentaria com
Holmes. Era óbvio que o convite para almoçarmos juntos foi feito
para que ele pudesse conversar com meu amigo.
Holmes retornou da
compra da carruagem tão satisfeito que fiquei em duvida se ele
realmente não foi até ali para comprar uma.
- Senhor Holmes, Doutor
Watson acabou de aceitar meu convite para almoçarmos juntos. É
claro que vai nos acompanhar, não é? Conversamos tão pouco quanto
esteve em minha casa; havia muitos convidados a quem eu precisava dar
atenção e o senhor foi embora muito cedo. – disse Senhor Roy,
fazendo do convite uma intimação.
- Será um prazer
acompanhá-los. - concordou meu amigo.
Senhor Roy e Holmes
combinaram com o vendedor o dia que enviariam os cavalos para serem
atrelados às suas carruagens novas.
No coche indo para o
restaurante, Senhor Roy resolveu prestar atenção em Ivy.
- Quantos anos tem a
Senhorita?
- Oito. – respondi
eu.
- Nove. – respondeu
ela, junto comigo.
- Não disse que eram
dois avoados? – brincou Holmes.
- Nove anos! Parece que
foi ontem que a carreguei no colo. – tentei disfarçar.
- Você realmente a
carregou ontem no colo, quando ela dormiu no sofá da sala e você a levou
para o quarto. – lembrou-me meu amigo.
- Muito observador
Holmes. – ralhei com ele.
- Como não iria
observar, ela deixou o sofá todo babado. – comentou meu amigo.
- A menina mora aqui em Londres? – perguntou Senhor Roy.
- Está apenas passando alguns
dias. Logo ela voltará para o interior; meu irmão é médico lá. –
continuei mentindo. Apenas as pessoas mais íntimas sabiam que meu único irmão de sangue já era falecido.
- Eu tenho nove filhos
e graças a Deus são todos meninos. - disse orgulhoso o Senhor.
- Qual problema com
meninas? – impliquei.
- É mais difícil de
criar e quando crescem, é trabalhoso arrumar-lhes bons casamentos.
– respondeu-me.
O coche chegou ao
restaurante e eu desisti de discutir o senhor machista; era total
perda de tempo.
Ao entrarmos no local,
fomos surpreendidos pela presença dos outros dois sócios, Senhor
Armim e Senhor Creel. Só ali o Senhor Roy nos contou que aquele
restaurante era frequentado costumeiramente pelos três.
Eu e Holmes nos olhamos
arrependidos por termos aceito o convite. Os três suspeitos estavam
ali e a menina corria o risco de ser reconhecida pelo assassino. Tudo o
que podíamos fazer era manter a mentira de que ela era a minha
sobrinha.
- Senhor Holmes e
Doutor Watson, que prazer! – cumprimentou-nos Senhor Creel.
- Mas que coincidência,
nós estávamos falando justamente no Senhor Holmes. – confessou
Senhor Armim.
- Espero que bem! –
brincou meu amigo.
- Muito bem, é claro.
– riu muito alto Senhor Armim.
- Encontrei o Doutor
Watson e o Senhor Holmes na fábrica de carruagens. Ele também foi
comprar uma. – contou Senhor Roy.
- Mas quem é está
senhorita tão pequena? – Senhor Armim observou Ivy.
- É a sobrinha do
Doutor, uma criança muito graciosa e educada; não nos interrompeu
nenhuma vez enquanto conversávamos. – elogiou Senhor Roy.
Ivy parecia mais
assustada ainda. Ela sentou-se a mesa muito pensativa, com cara de
quem queria fugir dali.
Após fazermos os
pedidos, Senhor Armim voltou a observar a menina.
- Eu gosto muito
de crianças, tenho seis filhos e quero mais uns oito. – disse rindo
novamente.
- Tem louco para tudo!
– pensou alto meu amigo.
- Armim tem três
meninas de idade próxima a de sua sobrinha, Doutor. Armim, porque
não convida a sobrinha do Doutor para conhecer suas filhas? - disse
Senhor Creel, consertando o embaraçoso comentário de Holmes.
- Mas é claro, será
um prazer receber sua sobrinha em minha casa para passar uma tarde
com minhas filhas. - ofereceu-me Senhor Armim.
- Vamos marcar um dia.
Mas o que falavam sobre Holmes, antes de chegarmos? – mudei o
assunto, para não recusar o convite perigoso.
- Ainda estamos muito
curiosos para saber como o senhor descobriu que o assassino era o
nosso ex cocheiro! – perguntou Senhor Armim para meu amigo.
- Doutor Watson está
demorando a publicar este caso extraordinário. – reclamou Senhor
Creel.
Holmes entendeu o
perigo da pergunta e inventou uma mentira para despistá-los.
- Sinto em
decepcioná-los, mas não há nada de extraordinário neste caso; foi
pura sorte. O filho da senhora assassinada conhecia o cocheiro e
sabia que ele trabalhava para a loja de vocês.
Enquanto éramos
servidos pelos garçons, Senhor Creel insistiu em saber mais sobre o
caso.
- Mas por que o
cocheiro matou o Senhor Heston?
- Com o tempo, ele
confessará o porquê. Mas a nossa suspeita é que o Senhor Heston
estava na hora errada e no local errado. Ele deve ter visto o
cocheiro com a primeira vítima na noite em que foi morta. Então seu ex cocheiro também o matou. – inventou Holmes.
- E nós estávamos convivendo com este maluco. – riu irritantemente o Senhor Armim.
- Só existe uma coisa
que pode inocentar o cocheiro. – continuou meu amigo.
- Que coisa? –
interessou-se senhor Creel.
- O crime acontecer
novamente. O cocheiro está preso, portanto se acontecer um novo
crime parecido, prendemos o homem errado. – explicou Holmes.
Foi muita esperteza de
Holmes conduzir a conversa daquela forma. Eu sabia o quanto ele
queria descobrir o criminoso, mas nunca à custa de outras vítimas.
Com o seu argumento, talvez o assassino desistisse de decapitar
outras pessoas, uma vez que o seu problema de transporte já estava
resolvido com a compra da carruagem.
- E o infeliz usou
nossa carruagem! – suspirou Senhor Roy.
- Bem, o importante é
que este caso já foi encerrado. Senhor Holmes, espero contar sua
presença na próxima reunião em minha casa. Agora que começou a
frequentar festas, não pode me fazer esta desfeita. E o Doutor
também. – disse-nos Senhor Armim, com sua costumeira risada
escandalosa.
- Será um prazer
Senhor Armim. - respondeu Holmes, tentando sorrir, completamente sem graça.
- O que foi Senhorita, não gostou de sua refeição? –
perguntou Senhor Roy para Ivy.
Eu também já havia
reparado que a menina estava brincando com a comida, sem comer nada.
- Está ótimo Senhor,
estou apenas sem fome. - respondeu gentil, para minha surpresa.
- Não tem problema. Depois eu a levo a uma confeitaria para comer muitos doces. – disse
Holmes, de forma gentil, disfarçando a ameaça que fazia, mas que eu
e a menina entendemos muito bem.
- Não precisa “tio”.
– respondeu Ivy, tentando esboçar um sorriso, visivelmente
forçado.
Pelo olhar, Holmes se
irritou com atrevimento da menina em lhe chamar de tio.
- Crianças são a
alegria da casa. Sempre digo a Creel que ele precisa se casar logo e
ter muitos filhos. Em Londres há mulheres tão bonitas quanto na
América, de onde ele veio. – comentou Senhor Armim, rindo
novamente sem a menor necessidade.
- É americano Senhor
Creel? Tem os modos tão londrinos que ninguém percebe que é um
estrangeiro. – atentou Holmes.
- Já faz um bom tempo que vim morar em Londres, mas sou da América do Norte. – respondeu o Senhor.
- De que lugar de lá?
– interessou-se meu amigo.
- De Massachusetts. –
contou-nos.
- Tenho amigos na
América do Norte que me escrevem dizendo ser um lugar muito
promissor. Tenho o desejo de fazer uma viagem para lá. – contou
Holmes.
- Eu diria que é lugar
para quem busca oportunidades, mas para quem já nasceu rico, alguns
países da Europa são os melhores lugares para se viver. –
esclareceu Senhor Creel.
- Vocês trabalham com
pedras preciosas da Turquia. Já estive lá há alguns anos atrás e
aproveitei para adquirir algumas pedras turquesas. É um ótimo
investimento. - comentou meu amigo.
- São lindas, não há
mulher no mundo que não se renda a uma turquesa. Foi muita sorte o
nosso sócio turco ter nos oferecido este negócio. – informou o
Senhor Roy.
- Tem um sócio turco?
– perguntou Holmes, fingindo que não sabia desta informação, que
havia sido nos contada pelo filho do Senhor Heston.
- Sim, ele dirige os
negócios lá na Turquia. – respondeu Senhor Creel.
- Acho que nós não
fomos apresentados a ele. Ele não esteve presente na reunião em sua
casa, Senhor Roy? – indaguei, já sabendo que o turco não estava
em Londres.
- Não, não. Ele está na Turquia. Ele é proprietário
da mansão ao lado da mansão de Creel, mas há mais de um ano que
não o vemos. Só nos correspondemos por telegramas. – contou
Senhor Roy.
Terminamos o almoço conversando sobre a Turquia e, após pagarmos a conta
e nos despedirmos dos sócios, Holmes e eu pudemos conversar mais
tranquilos no coche.
- Vamos ter que
redobrar a atenção com a Ivy. O assassino estava ali e ele pode
ter fingido que não a reconheceu. – alertei.
- E a senhorita, não
teria reconhecido o assassino? – questionou meu amigo.
- É verdade Ivy, por
que se assustou tanto? Foi o Senhor Roy quem lhe assustou? –
perguntei a ela.
- Eu já consegui lhe
roubar dinheiro uma vez. – confessou a menina.
- E ele conseguiu pegar
você? – indagou Holmes.
- Claro que não, mas
ele me viu. – gabou- se a menina.
- Será que ele fingiu
que não a reconheceu? – estranhei.
- Ela se parecia com um menino e
está bem diferente de quando a encontramos. – refletiu Holmes.
- Foi muita imprudência
minha ficar passeando com a Ivy por aí. – senti-me culpado por
ter exposto Ivy ao perigo.
- Como poderíamos
imaginar que encontraríamos os três suspeitos? Agora não adianta
se queixar. Vou pedir a Lestrade que nos coloque policiais para
vigiarem nosso apartamento. A visita de qualquer um desses três
poderá significar perigo para este "porquinho da índia", embora também
seja a pista que precisamos para descobrir quem é o assassino. E olha
só Watson, se o assassino fingiu que não a reconheceu, ela se
tornou a isca que precisávamos. – ironizou Holmes.
- Eu me recuso a
acreditar que você esteja falando sério. Usar uma criança como
isca é uma maldade que você jamais cometeria. – confrontei-o.
- Deixa para lá. Mas sabe Watson, o encontro surpresa que tivemos com eles não foi de todo mal. Conseguimos algumas informações importantes e preciso refletir sobre elas. Vou voltar ao meu laboratório e continuar investigando os vidros que estão lá; isso vai me ajudar a pensar. – avisou-me.
Holmes parou no caminho
para ir ao correio enviar um telegrama a Irving, o índio que
havíamos ajudado a fugir para os Estados Unidos, pedindo-o para que
averiguasse informações sobre a vida do Senhor Creel na América.
Eu segui com Ivy para
o nosso apartamento.
Capitulo 17 - Mais um crime
Capitulo 17 - Mais um crime

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