Dias se passaram e meu
amigo continuava em suas pesquisas no laboratório, mas já havia
policiais se revezando para vigia em frente ao nosso apartamento.
Recebi um telegrama
destinado a Holmes. Deveria ser importante, então fui até sua mansão para entregá-lo, acompanhado por Ivy.
- É a resposta que eu
aguardava do meu antigo professor. – confirmou-me.
Após ler atentamente o telegrama, Holmes se mostrou decepcionado.
- Ele me respondeu que,
como paleontólogo, não conhece nada parecido com a descrição que
eu informei, e me recomendou consultar um amigo dele que é
criptozoologista. Ele escreveu o endereço no final do telegrama.
- Cripto o quê? –
estranhei a palavra.
- Criptozoologista. –
repetiu.
- O que é isso? –
perguntei.
- Não faço a menor
ideia. – respondeu-me com naturalidade.
Mesmo tendo um mente
brilhante, Holmes não se envergonhava por não saber tudo.
- Vamos procurar o tal cripto. – convidou-me.
Seguimos para o
endereço na nova carruagem de Holmes, dirigida pelo jardineiro da
mansão, que havia aceito também o trabalho de cocheiro.
A casa de dois andares
ficava em um bairro nobre da cidade, na qual fomos recebidos por um
mordomo.
- Por favor, precisamos
falar com o Professor Kenneth Finney. Sou Sherlock Holmes e este é o
Doutor Watson. – apresentou-nos meu amigo.
O mordomo pediu para
que aguardássemos, retornando minutos depois nos convidando para
entrar.
Fomos conduzidos até uma
sala de visitas simples, com pouco móveis e estranhamente, muitos caixotes espalhados.
- O morador deve ser pequeno. - comentou Holmes, em voz baixa.
Em segundos, o dono na casa entrou pela sala e, para meu assombro, era realmente um senhor de estatura muita pequena, aparentando ter uns cinquenta anos.
- O morador deve ser pequeno. - comentou Holmes, em voz baixa.
Em segundos, o dono na casa entrou pela sala e, para meu assombro, era realmente um senhor de estatura muita pequena, aparentando ter uns cinquenta anos.
- Professor Finney, obrigado por
nos receber. – disse meu amigo, praticamente olhando para o chão.
- É um prazer
recebê-los, Senhor Holmes. Já ouvi falar muito a seu respeito. A
que devo a sua visita? – perguntou-nos.
- O senhor me foi
indicado por um velho amigo que temos em comum, o professor Kemphe. Ele me informou que o senhor é um criptozoologista.
- Sim, sou um dos mais
conceituados. – gabou-se o anão.
- Precisamos de sua
ajuda. - pediu Holmes.
- Em que posso
servi-los? - ofereceu-se.
- Em primeiro lugar, o
que é um criptozoologista? – perguntou Holmes.
O pequeno homem fez uma
cara de desânimo. Após um breve suspiro, esforçou um sorriso gentil.
- Eu tenho um vasto
estudo sobre animais pouco conhecidos, lendários ou mitológicos; animais que poucas pessoas conseguiram ver. - esclareceu o professor.
- E quantos animais
desses o senhor já conseguiu ver? - indagou indelicadamente meu
amigo.
O senhor ficou
desconcertado.
- Nenhum! Eu só estudo
com base nos relatos das pessoas que viram. - confessou o pequeno.
- Pois nós vimos uma
criatura extraordinária. - entrei na conversa, antes que Holmes
fosse inconveniente de novo.
- Ora, então sentem-se
e me contem. - pediu o senhor.
Nós nos sentamos
normalmente, mas o professor era tão pequeno que subiu em uma caixa de madeira
para alcançar sua poltrona. Parecia um menino pequeno de bigode, em
trajes de homem, escalando o sofá.
Após conseguir
sentar-se, com as pernas esticadas na poltrona, uma vez que não tinha
altura para dobrá-las, nos sorriu e mostrou-se todo atento para nossa
história.
- O senhor deve ter
ouvido falar sobre uma fera que atacou em um clube da cidade. -
começou Holmes.
- Sim, eu li em vários
jornais. Escreveram se tratar de um lobo. - comentou ele.
Intervi novamente e lhe
fiz o relato.
- Não era um lobo, lhe
garanto. Tinha mais de dois metros de altura, pernas e braços muitos
finos, cobertos por pelos. Tinha pés e mãos humanas, embora
houvessem garras e a cabeça parecia ser a de um lobo. - contei-lhe.
- Um homem lobo! -
exclamou professor Finney.
- Era uma criatura
real, Senhor. Tão real que senti suas garras e ele tinha uma força
descomunal; me atirou ao teto do clube como se eu fosse uma vareta. - relatou Holmes.
- Mas você é uma vareta. - disse Ivy, em voz baixa.
Meu amigo lançou um olhar ameaçador para a menina.
- Não era uma lenda, senhor Finney, posso lhe garantir. - retornei rapidamente a conversa com o professor, para desviar a atenção de Holmes.
- Mas você é uma vareta. - disse Ivy, em voz baixa.
Meu amigo lançou um olhar ameaçador para a menina.
- Não era uma lenda, senhor Finney, posso lhe garantir. - retornei rapidamente a conversa com o professor, para desviar a atenção de Holmes.
- Há relatos sobre
homens lobos deste o século XVI. - afirmou-nos.
- E como se mata um
homem lobo? - perguntei-lhe.
- Até onde eu sei, não há como matá-los. - explicou Senhor Finney.
- A criatura que atacou
no clube foi caçada e levada para lá pelo Senhor Bell, que no final
acabou sendo morto por ela. Quando a vimos, tinha a descrição que
lhe foi feita pelo Doutor Watson, mas antes, quando foi caçada, ela
nos foi descrita um pouco diferente. - comentou Holmes.
- A que horas vocês
viram o homem lobo? - perguntou-nos.
- Um pouco depois da
meia-noite. - informei.
- E suponho que a noite
do ataque foi uma noite de lua cheia. Segundo os relatos sobre os homens
lobos, eles sempre aparecem em noites de lua cheia. - prosseguiu o
pequeno homem.
- Realmente era noite
de lua cheia. - lembrei-me.
- Não era um homem.
Quando foi caçada, a criatura era um bicho estranho, com corpo esguio e pele de lagarto, muito magro, com cabeça grande, olhos vermelhos e não
trajava roupas. Ela foi capturada quando estava sendo atacada por um
lobo na floresta. O Senhor Bell matou o lobo e colocou a criatura em uma
jaula, levando-a ao clube. Lá, ela conseguiu quebrar a jaula
e saiu, com pêlos e cabeça de lobo. - continuou meu amigo.
- Meu Deus! -
surpreendeu o pequeno homem.
- O que foi? -
perguntei a ele.
- Sigam-me até a
biblioteca. - convidou-nos.
O senhor pulou da
poltrona e seguiu rápido para o gabinete ao lado da sala de visitas.
Era uma biblioteca gigantesca, com centenas de livros.
- Sua descrição se
refere aos seres que mais estudo. Deixe-me procurar o livro do
marquês D' Alveydre. - disse-nos, arrastando uma escada enorme.
Holmes observou os
livros que estavam na direção da escada, a qual era escalada pelo
pequeno senhor. Pela dificuldade que tinha para subir, só iria
chegar até o livro quando fosse madrugada.
Meu amigou não
aguentou esperar e, apenas esticando o braço, puxou da prateleira um
livro onde se lia na capa "Missão da Índia", de Saint-Yves
D'Alveydre. Holmes foi se sentar na enorme mesa redonda da
biblioteca, deixando Senhor Finney na escada, com a mão na cintura,
nos olhando inconformado.
- Mas que falta de paciência! - reclamou o dono da casa.
- Melhor descer dessa escada com cuidado. Se cair desta altura, vai ser um suicídio. - disse-lhe Holmes, folheando as páginas do livro.
Só pude suspirar profundamente e sorrir envergonhado para o pequeno senhor, como pedido de desculpa.
- Agartha? - estranhou Holmes, lendo o livro em voz alta.
- Mas que falta de paciência! - reclamou o dono da casa.
- Melhor descer dessa escada com cuidado. Se cair desta altura, vai ser um suicídio. - disse-lhe Holmes, folheando as páginas do livro.
Só pude suspirar profundamente e sorrir envergonhado para o pequeno senhor, como pedido de desculpa.
- Agartha? - estranhou Holmes, lendo o livro em voz alta.
- Sim, há três reinos
intra terrenos. Agartha é um deles. - explicou o professor,
descendo pela escada.
- Reinos intra
terrenos? - foi a minha vez de estranhar.
- Isso mesmo, Doutor.
Enquanto nós vivemos na superfície terrestre, abaixo dela há
civilizações de milhares de seres. Um mundo dentro de outro mundo,
também chamada de Terra Oca. - esclareceu.
- E por que eles não
vivem na superfície? - indaguei, não acreditando na história.
- Alguns porque não suportam
a luz do sol, outros porque pertencem a civilizações mais avançadas que a nossa. - explicou Senhor Finney, já chegando ao chão e
vindo se sentar conosco, com o auxilio de um caixote para
subir na cadeira.
- E como conseguem
viver sem a luz do sol? - prossegui, curioso.
- Existe luz no mundo intra terreno, mas é muito mais
sutil. A civilização de Agartha é composta de seres mais elevados
intelectualmente que nós e de traços finos, mas há uma civilização primitiva, os reptilianos, que se parece com a descrição do ser que foi capturado. O corpo de pele grossa é devido à adaptação
ao local onde vivem, e os grandes olhos vermelhos lhes são faróis
para enxergar no escuro. - contou-nos.
- E são amigos ou
inimigos? -interrompi novamente.
- Quem sabe? O exemplar
caçado deve ser um curioso, que achou um portal para a superfície e
veio conhecer o mundo terreno, onde foi
atacado pelo lobo. E o ataque do lobo, a poucas horas da lua cheia
aparecer, deve ter lhe causado uma mutação, ou uma maldição. -
especulou Senhor Finney.
Holmes continuava a
folhar atentamente o livro.
- Estranho um cientista acreditar em maldição. – comentou.
Senhor Finney nem se
importou com a observação de meu amigo.
- Eu daria tudo para
ver de perto um ser intra terreno. - continuou o pequeno homem com os
olhos brilhando.
- O Senhor Bell deu a
própria vida. - retrucou Holmes.
- São seres racionais
como nós, Senhor Holmes. E assim como nós, há os bons e os maus,
há os que salvam e há os que matam. - argumentou o professor.
- O Senhor fuma maconha? - perguntou meu amigo, novamente inconveniente.
- Como? - perguntou o professor, parecendo não ter ouvido a brincadeira de Holmes.
- Nada. Senhor Finney, sou muito grato por tudo que nos ensinou e por toda sua atenção. - disse Holmes, fechando o livro.
- Como? - perguntou o professor, parecendo não ter ouvido a brincadeira de Holmes.
- Nada. Senhor Finney, sou muito grato por tudo que nos ensinou e por toda sua atenção. - disse Holmes, fechando o livro.
- Foi um prazer, Senhor
Holmes, pode voltar quando quiser. E por favor, qualquer coisa que
descobrirem sobre o ser, mantenha-me informado. - pediu o gentil homem.
- Na noite do ataque, o Doutor Watson atirou várias vezes na criatura e as balas não lhe causaram dano algum. Conseguimos espantá-la do local com fogo, e ela fugiu pela janela, quebrando o vidro. Analisei os pedaços do vidro em meu laboratório e não encontrei sangue, mas há partículas de pele. A jaula arrebentada pela criatura também está comigo em meu laboratório e está a sua disposição para estudá-los. Vou lhe dar o endereço de minha casa e avisarei a criada para recebê-lo quando o senhor quiser. - ofereceu meu amigo.
- Na noite do ataque, o Doutor Watson atirou várias vezes na criatura e as balas não lhe causaram dano algum. Conseguimos espantá-la do local com fogo, e ela fugiu pela janela, quebrando o vidro. Analisei os pedaços do vidro em meu laboratório e não encontrei sangue, mas há partículas de pele. A jaula arrebentada pela criatura também está comigo em meu laboratório e está a sua disposição para estudá-los. Vou lhe dar o endereço de minha casa e avisarei a criada para recebê-lo quando o senhor quiser. - ofereceu meu amigo.
Os olhos do pequeno
senhor brilharam.
- Não sei como lhe
agradecer, Senhor Holmes. - disse o homem muito feliz.
- É o mínimo que
posso fazer, depois de sua gentileza conosco. - sorriu meu amigo.
Após nos despedirmos,
quis comentar minha impressão assim que entramos na carruagem para
retornar ao nosso apartamento.
- Um homem muito gentil
o Senhor Finney, mas completamente louco. Criptozoologista! Que
especialidade mais maluca. – comentei rindo.
- Por ora, é a única
teoria que temos. – disse meu amigo desanimado.
- Você acreditou nesta
história de mundo intra terreno? – perguntei-lhe incrédulo.
- Por que não? Os
oceanos, mares e rios são um mundo paralelo ao nosso, com uma
diversidade de vida diferente da humana. Mundos diferentes dentro do mesmo planeta. - refletiu meu amigo.
- O homem dedica seu
tempo a estudar lendas! E você não o levou a sério, ou não teria lhe perguntado sobre a maconha. - enfim, pude rir da brincadeira descabida.
- Se fuma, deve ser muito boa! - argumentou Holmes.
- Que lhe sirva de exemplo. Pare de se drogar ou vai acabar virando um criptologista! - aproveitei-me também para fazer graça.
- O que achou "senhorita encrenca"? - meu amigo pediu a opinião da menina.
- Se fuma, deve ser muito boa! - argumentou Holmes.
- Que lhe sirva de exemplo. Pare de se drogar ou vai acabar virando um criptologista! - aproveitei-me também para fazer graça.
- O que achou "senhorita encrenca"? - meu amigo pediu a opinião da menina.
- Por que aquele senhor
não cresceu? - era a dúvida de Ivy.
- Uma excelente
observação para alguém da sua idade! Watson com certeza tem a
explicação para a sua pergunta. - disse-lhe Holmes rindo.
Olhei bravo
para ele. Como explicar genética para uma criança que ainda
estava aprendendo a ler e escrever?
Segui para a Backer Street e deixei Holmes em sua mansão. Ele nunca havia passado tanto tempo naquela casa antes. Não quis comentar, mas sabia que era devido a presença da menina em nosso apartamento.
Segui para a Backer Street e deixei Holmes em sua mansão. Ele nunca havia passado tanto tempo naquela casa antes. Não quis comentar, mas sabia que era devido a presença da menina em nosso apartamento.
Chegou à tarde de
sexta-feira em que combinei com a Senhorita Riley de comparecer ao
chá em sua casa.
Apesar de ser a
oportunidade para prosseguir com suas investigações, Holmes estava
desanimado em ter que ir. Era o tipo de reunião onde, com certeza,
encontraríamos senhoritas a procura de casamentos.
Fomos recebidos no
portão da mansão pela gigantesca criada alemã que olhou para
Holmes com cara de desconfiança. Subindo as escadas que levavam a
porta da casa, era possível ver três cães da raça great dane
muito bravos, presos na lateral do jardim.
Senhorita Riley abriu
um sorriso imenso ao nos ver entrar.
- Doutor Watson e
Senhor Holmes, nem acredito que vieram! Sejam muito bem vindos.
- Como poderíamos
recusar um convite tão gentil? – cumprimentei-a.
- É um prazer revê-la
Senhorita. – Holmes beijou-lhe a mão, mas sua atenção estava na
criada.
A mulher o olhava de um
jeito muito frio e meu amigo a encarou como se estivesse aceitando um
desafio.
Senhorita Riley nos
pediu licença para receber outros convidados, no que foi seguida
pela criada que confrontou Holmes até o último momento.
Meu amigo, que também
manteve o olhar desafiador até o último instante, me sorriu animado
após perder o contato visual com a alemã.
- Ela vai me vigiar o
tempo todo!
- E acha graça nisso?
– estranhei sua animação.
- Um desafio torna as
coisas mais interessantes. – disse-me, indo se misturar às demais
pessoas do salão.
Fiquei conversando com
dois senhores que conheci por ali e observando meu amigo de longe,
achando muito graça em seu comportamento. Parecia estar se
divertindo, sendo a celebridade da reunião. Todos queriam se
aproximar dele, principalmente as senhoritas.
Ele não parava muito
tempo em um lugar, uma hora estava atendendo umas senhoritas, daí a
pouco já estava com alguns senhores, e logo após já estava em
outra roda. A criada ia para a cozinha e toda vez que retornava para
a sala, o procurava com o olhar. Ás vezes parecia perdida o
procurando, de tanto que meu amigo circulava pela enorme sala do
segundo andar da casa.
Fui até o terraço
sozinho para observar o jogo de gato e rato entre a criada e Holmes,
quando Senhorita Riley se aproximou.
- Todos esses dias, sem
ter nenhuma noticia sua, cheguei a pensar que não queria mais me
ver. – surpreendeu-me.
Pelo jeito doce com que
me falou, demonstrou ter acreditado que eu a cortejaria depois do
nosso primeiro encontro.
- Foram dias de muito
trabalho, mas nada me impediria de vir vê-la hoje. – menti.
- Pois fiquei tão
ansiosa por encontra-lo de novo que se o Doutor não aparecesse,
eu seria obrigada a procurá-lo – confessou-me.
Sua demonstração de
interesse por mim foi tão explicita que me deixou encabulado.
- Não faz muito tempo
que fiquei viúvo, por isso tenho dedicado muito tempo ao meu
trabalho como forma de aliviar meu sofrimento. – disse-lhe com a
intenção de fazê-la entender que eu não estava disposto a começar
um novo relacionamento.
Ela não conseguiu
disfarçar seu desapontamento, mas voltou a insistir.
- Um novo amor seria a
solução para o seu sofrimento.
Notei que Holmes havia
desaparecido do salão e que a criada o estava procurando entre os
convidados, com uma bandeja de chás na mão.
- Sua criada parece ter
algum interesse em meu amigo. Desde que chegamos, ela não tira os
olhos dele. – comentei.
Eu precisava fazer
alguma coisa, antes que a alemã viesse contar a Senhorita Riley que
Holmes havia desaparecido.
De repente, ele surgiu
muito sorrateiramente e elegante com sua bengala, parando atrás da
criada.
A alemã, que fazia
cara de quem estava convencida de que meu amigo estava aprontando algo,
virou-se e se assustou com sua presença ali, arregalando olhos para
ele.
- Perdoe-me, eu a
assustei? Estava me procurando? – disse ele, com cara de inocente e
muito bem educado.
- O senhor ainda não
tomou chá. – respondeu ela, pausadamente, tentando disfarçar o
embaraço.
- Colocou açúcar? - perguntou ele.
- Não. - respondeu com olhar ainda assustado.
- Colocou veneno? - brincou meu amigo.
- Não. - respondeu brava.
- Colocou açúcar? - perguntou ele.
- Não. - respondeu com olhar ainda assustado.
- Colocou veneno? - brincou meu amigo.
- Não. - respondeu brava.
Holmes pegou uma das
xícaras de chá da bandeja.
- Obrigado. – sorriu
muito gentil para a criada.
Senhora Riley percebeu
que sua criada estava sendo inconveniente com sua perseguição
inexplicável ao meu amigo.
- Com licença, Doutor
Watson, preciso falar com minha governanta. – retirou-se Senhoria
Riley, seguindo a criada em direção à cozinha.
Holmes, sem ao menos
tocar no chá, colocou a xícara em cima da mesa próxima, me
sorriu e saiu furtivamente pela sala, desta vez realmente
desaparecendo.
Com certeza, Senhorita
Riley estava lá dentro repreendendo a criada, e agora ele poderia
investigar a casa em busca de pistas.
Continuei ali no
terraço, meio escondido, para evitar conhecer as moças
interesseiras.
Senhorita Riley vinha
em minha direção novamente quando, para minha sorte, foi
interrompida por uma senhora que solicitou sua atenção.
A formosa senhorita era
uma mulher muito bonita e atraente, mas meus sentimentos por Mary
ainda eram muito fortes.
Fiquei um bom tempo ali
sozinho. A criada retornou à sala
poucas vezes, mas nem se atreveu a olhar para o lado e procurar meu
amigo.
Já estava ficando
preocupado com a demora de Holmes, quando ele surgiu no terraço com
cara de preocupação.
- Achou alguma coisa? –
sussurrei.
Antes que pudesse me
responder, seu olhar assombrado se fixou em algo no jardim dos fundos
da mansão.
Olhei para ver o que
havia lhe chamado à atenção e era apenas uma enorme e retangular
pedra de mármore, dessas usadas para esculpir esculturas, mas ainda
em estado bruto, disposta sobre o gramado.
Senhorita Riley se
aproximou novamente.
- Senhor Holmes, deu
atenção a todas as mulheres na reunião, menos a mim. – cobrou ela.
- Pois saiba que era a
única a quem eu queria dar atenção. – respondeu ele, todo
galanteador, beijando-lhe a mão.
Eu e a Senhorita
ficamos surpresos.
- Desde a primeira que
a vi, espero por uma oportunidade para lhe confessar que sou um
admirador de sua beleza. – continuou ele, olhando apaixonado para
ela.
- E eu pensei que
estivesse me evitando na casa do Senhor Roy. – comentou ela.
- Como pude lhe passar
uma impressão tão errada! – disse ele, de forma doce.
Os dois saíram de
braços dados conversando, como se eu não estivesse ali.
Fiquei de boca aberta
pelo comportamento de Holmes. Ele sabia que a senhorita
estava interessada em mim! Como pode cortejá-la na minha
frente?
Enquanto eu os
observava de longe, os dois seguiram por um corredor da casa se
afastando dos demais convidados.
Não consegui entender
o comportamento de meu amigo e, de tão intrigado, os segui.
Não mais os
encontrando no corredor, caminhei observando as portas, quando ouvi
um ruído baixinho vindo de um dos cômodos.
Sem fazer o menor
barulho, entreabri a porta do cômodo vagarosamente para espiar pela
fresta. O local era uma biblioteca e lá estavam os dois, se beijando
apaixonados.
Holmes, por ser muito
mais alto, a havia levantado em seus braços, e ela com os pés no ar, o abraçava com as mãos em seu
cabelo, enquanto se beijavam.
Senti-me traído, mesmo
não tendo nenhum compromisso com ela. Naquela mesma tarde, ela
estava tão interessada em mim e agora estava se agarrando com o meu
melhor amigo. E ele, que fugia de mulheres como o diabo foge da cruz,
que paixão repentina era aquela?
Fechei a porta e voltei
para a sala, muito bravo. Alguns senhores se aproximaram para
conversar sobre trivialidades, mas eu mal conseguia prestar atenção
no que diziam.
Passado uns vinte
minutos, Senhorita Riley e o meu grande amigo, ladrão de senhoritas
apaixonadas, retornaram à sala. Ele me deu sinal para irmos embora.
Já era noite quando me
despedi da Senhorita, que se limitou apenas a ser educada, como se
nunca tivesse flertado comigo.
- Obrigada por ter
vindo Doutor.
- Foi uma tarde muito
agradável. – agradeci beijando-lhe a mão.
Entrei na carruagem e
fiquei observando Holmes se despedir dela. Ele falou algo em seu
ouvido e ela riu com o olhar apaixonado. Apesar de já ter seus
quarenta anos, a senhorita parecia uma jovem com os olhos
brilhando.
Meu amigo entrou na
carruagem e partimos.
Respirei fundo e lhe
falei pausadamente, segurando minha raiva.
- O que deu em você?
O seu ar galanteador e
apaixonado havia ficado na casa da senhorita; ao meu lado estava o
velho Holmes de sempre, de olhar sério e pensativo.
Ele retirou de seu
bolso uma foto e me entregou.
- Encontrei isso no
porão. Há dezenas de fotos e quadros deste casal lá.
Na foto havia um senhor
e uma senhora, já bem velhos e muito felizes, trajando roupas de
caçadores. Pelo cenário atrás deles, pareciam estar na África.
- Quem são eles? –
não entendi.
- Se o porão da casa
está repleto de fotos deles, quem mais poderiam ser senão os
donos da casa! – esclareceu-me.
- Os pais da Senhorita
Riley, os que faleceram no ano passado? – continuei a observar a
foto.
- Sim, os pais muito
doentes, pelos quais ela passou toda a vida reclusa para lhe dar seus
cuidados. – disse irônico meu amigo.
- Vai ver que está
foto é antiga. – especulei.
- Se esta foto é antiga,
no ano passado eles já seriam múmias de duzentos anos quando morreram! Olhe atrás
da foto. – indicou-me.
No verso estava
escrito uma data do ano anterior, com números bem desenhados.
- A foto é do ano
passado. Eles foram caçar no ano passado. – repeti para mim,
tentando entender.
- A Senhorita Riley não
é quem pensamos. Ela mentiu. Nas fotos do porão, eles estão em
diferentes lugares pelo mundo. É por isso que a família Riley não
frequentava a sociedade; eles estavam sempre viajando. E eles
gostavam muito de serem fotografados pela quantidade de fotos que
encontrei, mas em todas elas, só há os dois, não há nenhuma foto
da Senhorita Riley com eles, nem mesmo uma foto dela sozinha. –
comentou meu amigo.
- Descobriu que ela é
uma mentirosa e resolveu conquistá-la? – critiquei-o.
- Livrei você do
assédio de uma possível assassina, meu caro. – esclareceu-me.
- Não precisava! Eu
poderia flertar com a Senhorita para investigá-la – inventei na
hora, só para lhe mostrar minha indignação.
- Ora, Doutor, se quer
cortejar alguém para me ajudar na investigação, volte lá e
convide aquele “armário alemão” para jantar! – mandou-me
Holmes.
- A criada? Nem morto!
O que pretende fazer agora? – mudei de assunto para escapar da
brincadeira dele.
- Amanhã vou ter que
ir a todos os cemitérios. Preciso descobrir onde os pais dela foram
enterrados. Tenho uma suspeita a este respeito. – contou-me.
- Quem sabe eles podem
estar vivos? – especulei.
- Creio que foram
assassinatos! Isto explicaria o pavor delas no primeiro dia em que
estivemos em sua casa com Lestrade. Elas pareciam ter medo que algo
tivesse sido descoberto. Viu como o “armário alemão” está com
medo de mim? A relação entre elas não é só de senhora e criada,
há algo a mais. – respondeu-me.
- Se são assassinas, por que não queimaram as fotos? - estranhei.
- Alguém que quer esconder um crime não vai chamar a atenção para a casa com cheiro de queimado. - contou-me.
- Se são assassinas, por que não queimaram as fotos? - estranhei.
- Alguém que quer esconder um crime não vai chamar a atenção para a casa com cheiro de queimado. - contou-me.
- E você flertou com a Senhorita para investigá-la? Acha que ela vai se apaixonar por você e lhe confessará tudo?
– brinquei ainda magoado.
- Não seja tolo! Pretendo provocar uma briga entre ela e a criada para ver o que acontece. Não lhe entendo
Watson! Você estava claramente recusando o assédio dela, por que
está tão ofendido por ela ter aceito que eu a cortejasse? – estranhou
ele.
- Ela me esqueceu
rápido demais! Parecia tão interessada em mim e foi só algumas
palavras suas para ela simplesmente me ignorar. – retruquei.
- O que poderia
esperar de uma mulher? – brincou ele.
Melhor nem discutir. O
machismo de meu amigo era pura defesa para nunca mais se envolver
afetivamente com outra mulher. A perda de Elizabeth nunca foi
superada.
- Desaforo! Jamais imaginei que um dia você pudesse me roubar uma senhorita! - ralhei novamente.
- Watson, aceita que dói menos! - respondeu-me Holmes, com cara de quem tinha que ter muita paciência.
- Desaforo! Jamais imaginei que um dia você pudesse me roubar uma senhorita! - ralhei novamente.
- Watson, aceita que dói menos! - respondeu-me Holmes, com cara de quem tinha que ter muita paciência.
Algo estranho passou
correndo muito rápido pela nossa carruagem indo na mesma direção
que íamos; só foi possível ver um vulto muito esguio.
Eu e meu amigo olhamos pela janela, mas o vulto já havia desaparecido.
Eu e meu amigo olhamos pela janela, mas o vulto já havia desaparecido.
- Estranho! – foi só
o que consegui dizer.
- Não é a primeira
vez que isso acontece. Três dias atrás, eu estava retornando para casa à noite em um coche de aluguel, e aconteceu a
mesma coisa. É como se alguma coisa estivesse me seguindo.
– contou-me.
Descemos em nosso
apartamento e subimos rapidamente. A carruagem foi levada pelo
cocheiro à mansão de meu amigo, onde havia a cocheira.
O policial que fazia a
vigia em nosso prédio estava andando de um lado para o outro na
rua.
Segui Holmes, que correu para
janela.
Na esquina do outro lado da rua, mesmo longe de onde estávamos e mesmo estando muito escuro, era possível ver dois círculos vermelhos, bem maiores que olhos humanos, a dois metros de altura acima do chão, mirando a nossa janela.
Na esquina do outro lado da rua, mesmo longe de onde estávamos e mesmo estando muito escuro, era possível ver dois círculos vermelhos, bem maiores que olhos humanos, a dois metros de altura acima do chão, mirando a nossa janela.
Meu amigo retornou correndo
pela escada, em direção à rua, mas foi só chegar à frente do prédio para que a coisa desaparecesse. O policial não percebeu
nada.
- Eu ainda vou
descobrir o que era aquilo. – afirmou ele, entrando novamente na
sala.
Atrás dele entrou a
Senhora Hudson.
- Boa noite meninos. Ivy estava com tanto sono que se despediu
há uma meia hora e veio para cá dormir. – contou-nos.
Eu e Holmes nos olhamos
desconfiados e corremos para quarto. Passou pela nossa cabeça que a
menina havia mentido para ficar sozinha e fugir, mas ela estava mesmo
no quarto e estava dormindo.
- Tudo bem? –
perguntou-nos nossa vizinha, quando retornamos para a sala.
- Tudo bem, Senhora
Hudson, ela está dormindo como um anjo. Muito obrigado por novamente ter cuidado dela para nós. – agradeci-lhe.
Despedimos da nossa
gentil vizinha e Holmes foi para o banho, enquanto eu passei um bom
tempo observando pela janela para ver se a “coisa” voltava.
Holmes conseguiu dormir
rápido, mas eu continuava com o problema de insônia.
Na manhã do dia
seguinte, meu amigo saiu cedo para investigar onde estariam
enterrados os corpos dos pais da Senhorita Riley. Não pude ir com
ele porque alguém precisava ficar com Ivy, e não seria nada
interessante levar uma criança para visitar cemitérios.
Passei o dia dando
aulas à menina, que me surpreendeu com sua facilidade em aprender.
Se o pai soubesse o tesouro que tinha, jamais a machucaria.
Anoiteceu e Senhora
Hudson veio buscar Ivy para lhe ensinar a fazer bolo.
- Encontrei um único
túmulo da família Riley, Watson. E o falecido enterrado ali morreu
há quarenta e três anos atrás! – contou-me.
- Eles podem ter sido
enterrados em outra cidade ou país. – fiz minha suposição.
- Também fui aos necrotérios; não há registros do casal. Se eles não morreram em Londres, porque toda mentira sobre serem doentes e reclusos? E tem mais, como eles viajavam muito, fui até
o porto com a foto deles e perguntei a todos por lá se alguém os
conhecia. Tive a sorte de encontrar um marinheiro que os serviu em
uma viagem para o Oriente há uns três anos atrás e sabe o que ele
me revelou? – fez suspense.
- Não faço a menor
ideia. – admiti.
- Eles não tinham
filhos! – respondeu-me com o olhar brilhando.
- Está história está
começando a ficar muito complicada. - suspirei.
- Preciso que você
venha comigo à casa de Lana. – pediu-me.
- Ir com você à casa
de Lana? Qual parte da história eu perdi? – estranhei o pedido
dele.
- Preciso do Mingau,
mas se eu for buscá-lo sozinho... aquela mulher é maluca, Watson.
Preciso que me acompanhe para que ela se comporte. Também preciso
que traga sua maleta de médico. – insistiu.
- Senhora Hudson está
cuidando de Ivy, vou avisá-la que vamos sair e encontro você lá
embaixo. – achei graça no seu pedido.
Fomos para a casa de
Lana na carruagem de Holmes, que dispensou o cocheiro e foi
dirigindo. Sentei-me com ele na frente para tentar entender a loucura
que meu amigo estava planejando.
- Por que precisa
daquele seu gato esquisito e da minha maleta de médico?
- Lembra-se daquela
pedra de mármore no quintal interno da casa de Senhorita
Riley? Não achou aquilo esquisito? – perguntou-me.
- Por que acharia
esquisito, é apenas um ornamento ali. – respondi.
- Há três cães de
guarda na casa, os quais com certeza devem ficar soltos quando as moradoras saem ou à noite. Cães enterram e desenterram ossos, por isso aquela pedra de mármore, para que eles não cavem no local.
– explicou-me.
As coisas começaram a
clarear em minha mente.
- Está me dizendo que
a Senhorita Riley matou os pais e os enterrou no quintal da casa e
colocou uma pedra de mármore em cima para que os cães não cavem os
ossos. – conclui.
- Ela não é filha
deles, portanto, ela não matou os pais. O casal Riley, quando
viajava, com certeza deixava a casa aos cuidados de empregados. A
senhorita, que não sabemos quem realmente é, e aquele “armário
alemão”, devem ter forjado um testamento e eliminado o casal. –
esclareceu.
- Mas se a criada
ajudou na morte e no testamento, porque continuou sendo apenas uma
criada? O que ela ganhou com isso? – encontrei uma falha.
- Isso eu ainda vou
descobrir; o que sei é que aquela pedra de mármore é pesada demais
para a falsa Senhorita Riley ter colocado ali, mas não para o
“armário alemão”.
Chegamos à casa de
Lana e pedimos que a criada nos anunciasse.
- Sherlock, Doutor! Que
surpresa! – recebeu-nos graciosa como sempre.
- Como vai querida? –
beijei-lhe mão.
- Agora feliz. Vocês irão
jantar comigo! – convidou-nos.
- Não, preciso do gato. – pediu meu amigo.
- Por que precisa do
nosso gato? – perguntou ela.
- Meu gato! Aposto que
ele esta dormindo ao lado da lareira, em seu quarto. Correto? –
sondou ele.
- Sim. E você conhece
muito bem o caminho do meu quarto. – disse ela
atrevida.
Holmes nem se importou
com a provocação e subiu às escadas.
- Perdoe-me minha
indiscrição, Doutor, mas fico à vontade na sua presença porque o
senhor sabe que eu e Sherlock temos um romance digamos, moderno. –
sorriu-me encantadora.
- Muito moderno! – só pude rir da presunção de Lana, afinal para meu amigo, ela era um pesadelo.
- Sou capaz de qualquer loucura por ele. – suspirou.
Holmes retornou com Mingau nos braços.
- Não sei o que vocês
dois veem nesse gato feio. – comentei.
- Mingau é muito parecido com Sherlock. É
inteligente, charmoso, corajoso e arrogante. – contou-me Lana.
- As pessoas me perguntam se Holmes é excêntrico e esquisito; este gato com certeza é. – brinquei.
- Posso me despedir do nosso gato? – pediu ela.
Lana se aproximou de
Holmes para acariciar Mingau e aproveitou para olhar apaixonada para
meu amigo e dizer “eu te amo” em um sussurro bem baixinho.
- Adeus Lana. –
despediu-se ele, mantendo sua costumeira frieza.
Beijei novamente a mão
de Lana e o segui para a carruagem.
- Holmes, porque
precisa do Mingau? – estranhei.
- Ontem, quando fui à
biblioteca conversar com a falsa Senhorita Riley...
- Conversar... Sei! –
interrompi me lembrando do agarramento dos dois.
- Eu percebi que você
abriu a porta, Watson, mas isso não vem ao caso. Quando conversamos
ontem, ela me contou que, um pouco antes de aparecermos em sua casa para
interrogá-la sobre o cocheiro, ela havia consultado uma cigana, a
qual havia lhe dito que um homem rico, da mesma idade que ela e livre,
surgiria em sua vida, se apaixonaria perdidamente por ela e que logo
se casariam. – contou-me.
- Uma cigana? Ela
acredita em previsões? – achei graça.
- Sim, não é uma
tola? Por não sermos casados, ela pensou que seria um de nós dois. E depois de ontem, ela acredita que seja eu. – continuou.
- Então a cigana
acertou? – brinquei.
- Está dormindo
Watson? Alguém aqui está
apaixonado e com intenção de casamento? Ela me confidenciou que hoje a
noite voltaria para consultar a cigana e eu a incentivei a ir. O fato
é que ela não estará em casa agora e, se foi visitar uma colônia
de ciganos, com certeza levou “o armário alemão” junto. A casa
estará vazia e os cachorros soltos. – concluiu.
- E os cachorros
pareciam bravos. Como vamos passar... é por isso o gato! Você vai
usar o seu gato como isca para os cachorros! Como pode fazer isso com
o Mingau? – fiquei horrorizado.
Se Lana descobrisse que
Holmes pegou o gato para usá-lo como distração para cachorros,
iria matar nós dois.
- E desde quando você
se importa com o Mingau? E não precisa se preocupar! Mingau foi
muito bem treinado para escapar facilmente de qualquer
cachorro. Você precisa vê-lo correndo, é incrível. – elogiou.
- Você já usou o seu
gato como isca antes? – assustei-me.
- Elementar, meu caro. –
respondeu-me com naturalidade.
Holmes havia levado Mingau para casa na época em que me casei com Mary. Eu não
imaginava que ele usava o gato em suas investigações e muito menos
que colocava o pobre bicho para fugir de cães.
- Que horror! Que espécie de dono é você? - disse-lhe chocado.
- Não me olhe como se eu fosse um monstro, Watson. Você sabe muito bem que criei este gato a sardinhas. Este animal tem uma vida mil vezes melhor que a maioria das famílias desta cidade.
- Que horror! Que espécie de dono é você? - disse-lhe chocado.
- Não me olhe como se eu fosse um monstro, Watson. Você sabe muito bem que criei este gato a sardinhas. Este animal tem uma vida mil vezes melhor que a maioria das famílias desta cidade.
Meu amigo escondeu a
carruagem um pouco distante da casa da Senhorita, e fomos a pé até
o portão, levando o gato, minha maleta de médico e uma lanterna de
vela.
Como Holmes havia previsto, os cachorros estavam soltos e a casa estava toda escura; sinal de que não havia ninguém.
Como Holmes havia previsto, os cachorros estavam soltos e a casa estava toda escura; sinal de que não havia ninguém.
Meu amigo colocou o
gato sobre o muro e como era o esperado, os cães ficaram afoitos com
a presença do animal. Mingau parecia gostar da brincadeira,
passeando tranquilamente pelo muro até o outro lado da casa, fazendo
com que os cachorros o seguissem.
Eu e Holmes também
subimos no muro e, de onde estávamos, era possível ver o gato,
sentado no muro do outro lado, balançando o rabo e até miando bravo
para provocar os cães, que pulavam desesperado para tentar
pegá-lo.
Meu amigo e eu descemos
para dentro do quintal da casa e seguimos em direção à pedra de
mármore que, embora um pouco pesada, não ofereceu muita dificuldade
para ser arrastada por nós dois. Conclui que Holmes tinha razão ao
dizer que a Senhorita da casa não teria forças para arrastar a
pedra, mas a criada alemã sim.
Também fiquei
impressionado com a inteligência do gato; ele parecia saber o que
estava fazendo porque toda vez que um dos cachorros se virara em
nossa direção, se levantava e miava para provocar.
Colocamos nossos lenços
sobre o nariz, amarrando na nuca para evitar o mau cheiro, caso realmente houvesse corpos ali, e nos ajoelhamos no local em que
íamos cavar. Peguei em minha maleta dois pares de luvas e
entreguei um par a meu amigo, que já havia acendido a vela da
lanterna.
Cavamos com as próprias
mãos e não foi preciso muito tempo para acharmos, em meio a terra,
um lençol branco que estava enrolado em algo apodrecido. O mau cheiro era terrível.
Estávamos no fundo do
quintal da casa e toda hora eu me levantava para dar uma olhada no
portão. Precisava ficar atento à chegada da dona da casa. Teríamos
pouco tempo para voltar a pedra no lugar e nos escondermos.
Com minha tesoura de
médico, cortei o pano e em baixo encontramos o esqueleto de uma mão
disposto sobre os ossos do dorso. Pela disposição da parte que
encontramos, foi possível calcularmos onde encontraríamos a parte
do crânio.
Nossa primeira intenção
era somente descobrir se havia um cadáver ali para chamarmos a
policia, mas a confirmação do corpo fez com que Holmes quisesse
investigar mais afundo.
Continuamos a cavar
mais acima, na direção da cabeça, e logo achamos novamente o pano;
Holmes prosseguiu com a escavação ao redor até achar outro lençol.
Após cortamos os tecidos, encontramos o que procurávamos; os dois
crânios.
Mesmo com o lenço
cobrindo seu nariz e sua boca, pude ver o sorriso de meu amigo.
- Nem precisaremos da
autópsia para descobrir como morreram! – disse ele, apontando para
um furo no centro da testa de um dos crânios.
Havia o mesmo furo nos
dois crânios, sendo que em um deles, também havia outro furo na
parte superior. Eles foram mortos com tiros nas cabeças.
Sem nos preocuparmos em arrumar os panos, jogamos a terra de volta no lugar e puxamos a pedra em
cima, na posição que estava anteriormente.
Pulamos o muro para o
lado de fora, pegamos Mingau do outro lado da casa e seguimos para a
carruagem.
Coloquei as luvas e a
tesoura em um saco para jogar fora. Holmes sentou-se na carruagem com
o gato no colo.
- Bom trabalho, Mingau. – agradeceu ao gato.
- Vamos chamar a
policia? – perguntei.
- Ainda não. Sabe
Watson, quando encontramos os esqueletos, eu cheguei a pensar que
talvez os crânios não estivessem ali. Pensei que eles pudessem ter
sido decapitados. Isto ligaria a falsa Senhorita Riley e o “armário
alemão” aos crimes dos "sem cabeças", mas não, os crânios estavam
normalmente nos esqueletos e o assassinato se deu com tiros. –
comentou.
- E o que pretende
fazer? – fiquei curioso.
- Quando me despedi da
nossa assassina ontem, disse-lhe que em breve a levaria para jantar.
Preciso de um pouco mais de tempo para descobrir se ela tem ou não
relação com os assassinatos dos "sem cabeças" e qual é verdadeira
relação entre ela e a criada. – contou-me.
Reparei no gato e ele
estava respirando pela boca.
- Precisamos de banho.
– me dei conta que o mau cheiro dos cadáveres parecia estar
impregnado em mim e no meu amigo.
- E urgente! –
concordou meu amigo.
Capitulo 18 - O ataque
Capitulo 18 - O ataque

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